O 9 de janeiro de 1822 tornou-se conhecido na história de nosso país como o "Dia do Fico".
A expressão se deve a uma célebre frase de dom Pedro, então príncipe-regente do Brasil, que era na época um Reino Unido a Portugal e Algarves:
"Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico". Para compreendê-la melhor, é necessário conhecer o contexto em que ela foi dita.
Em 1807, com o intuito de expandir seu poder sobre o continente europeu, Napoleão Bonaparte planejava a invasão do reino de Portugal. Para escapar aos franceses, a família real portuguesa transferiu-se, no começo do ano seguinte, para o Brasil, que se tornou o centro do Império português.
Reino Unido
A chegada da família real teve um imenso significado para o desenvolvimento do país que era, até então, uma das colônias portuguesas. A fixação da corte no Rio de Janeiro teve diversas conseqüências políticas e econômicas, dentre as quais deve-se destacar a elevação do país à categoria de Reino Unido, em 1815. O Brasil deixava de ser colônia.
Contudo, cinco anos depois, com as reviravoltas da política europeia e o fim da era napoleônica, uma revolução explodiu em Portugal. As elites políticas de Lisboa adotaram uma nova Constituição e o rei dom João 6º, com medo de perder o trono, voltou do Rio a Lisboa, deixando aqui seu filho, dom Pedro, na condição de príncipe-regente.
Recolonização
As cortes de Lisboa, porém, não aprovaram as medidas tomadas por dom Pedro para administrar o país. Queriam recolonizar o Brasil e passaram a pressionar o príncipe a também retornar a Lisboa, deixando o governo do país entregue a uma junta submissa aos portugueses.
A reação dos políticos brasileiros foi entregar ao regente uma lista com 8 mil assinaturas solicitando sua permanência aqui. A resposta de dom Pedro foi a célebre frase apresentada acima. Ela marca a adesão do príncipe regente ao Brasil e à causa brasileira, que vai desembocar em nossa Independência, no mês de setembro daquele ano. O Dia do Fico, portanto, é um dos marcos do processo de libertação política do Brasil em relação a Portugal.
Veja também
- Independência do Brasil
Licenciatura Plena em História (Faculdade JK-DF, 2012)
Pós-graduação em História Cultural (Centro Universitário Claretiano, 2014)
Ouça este artigo:
Após a volta de D. João VI para Portugal, as cortes portuguesas queriam que D. Pedro I também retornasse para que fosse nomeado como governador e o Brasil voltasse a ter o status de colônia.
Os liberais radicais do Brasil em contrapartida à corte portuguesa, se organizaram e reuniram 8 mil assinaturas para a permanência de D. Pedro I. Pressionado por ambas as nações no dia 9 de janeiro de 1822 disse:
“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.”
Dom Pedro I, Imperador do Brasil entre 1822 e 1831.
Essa foi uma das decisões mais importantes da história brasileira, uma vez que impediu que o país retrocedesse e mudou de uma vez por todas a sua relação com Portugal. Dom Pedro I ao contrariar as ordens da corte portuguesa, rompeu com o tratado que mantinha o Brasil como Reino Unido de Portugal e Algarves.
Com a popularidade de Dom Pedro I em alta, para benefício dos brasileiros que não queriam mais ser colônia pela autonomia comercial já adquirida assim como os avanços obtidos desde a vinda da corte, ficaram todos a seu favor e o príncipe ficou visto como um defensor do país.
Os comerciantes conservadores só pensavam nos seus interesses e queriam a independência para não pagarem mais impostos a Portugal. Eles pretendiam enriquecer e comercializar livremente com outros países. Já os liberais radicais compostos por padres, jornalistas, estudantes, funcionários de setores públicos e pesquisadores, queriam realizar melhorias no âmbito social, acabar com a escravatura e trazer moradia e melhor qualidade de vida a milhares de brasileiros que viviam no país através da reforma agrária. A partir desse contexto, surgiu então o primeiro partido de Brasil: o Partido Brasileiro.
Os membros da corte de Portugal desrespeitaram a vontade do príncipe regente do Brasil, dando menos credibilidade a ele. Mas quanto mais se afastava de Portugal, mais se aproximava do Brasil. A princesa e esposa de D. Pedro I, Leopoldina de Habsburgo, deu total apoio ao marido e o encorajou a permanecer firme e forte em suas decisões.
Após as “rebeldias” de D. Pedro I, dois mil militares da corte portuguesa comandados por Jorge Alvilez se concentraram no Morro do Castelo e em compensação, foram cercados por dez mil brasileiros armados da Guarda Real da Polícia. Foi então que o Príncipe regente dispensou o comandante português e ordenou que ele e sua tropa se retirassem do país e voltassem a Portugal.
José Bonifácio ficou responsável pelas relações estrangeiras do Brasil e ficou muito próximo de D. Pedro I. Ele achava necessária a elaboração de uma assembleia constituinte para evitar uma anarquia. Enquanto Gonçalves Ledo e os liberais só queriam oferecer ao príncipe o cargo de defensor do Brasil, e achavam indispensável uma convocação de uma Assembleia Constituinte para estabelecer as regras. O príncipe atendeu aos pedidos dos Liberais e se reuniram para fazerem as eleições dos deputados e as legislações.
D. Pedro I seguiu para São Paulo para constatar a lealdade dos paulistas. Enquanto estava fora a sua esposa Leopoldina, que também era contra as ordens dos portugueses, ficou tomando conta do Rio de Janeiro e junto com os ministros assinou a declaração da efetiva separação do Brasil de Portugal. Esse fato foi informado ao seu marido através de uma carta que ele recebeu no dia 7 de setembro às margens do Rio Ipiranga. Nesse momento disse: "Amigos, as Cortes Portuguesas querem escravizar-nos e perseguir-nos. A partir de hoje as nossas relações estão quebradas. Nenhum vínculo unir-nos mais".
Tirou os símbolos que representavam Portugal de sua farda e continuou a falar:
"Tirem suas braçadeiras, soldados. Viva independência, à liberdade e à separação do Brasil."
"Para o meu sangue, minha honra, meu Deus, eu juro dar ao Brasil a liberdade"
E gritou a famosa frase: "Independência ou morte". Que entrou para história como: Grito do Ipiranga.
Sem o “dia do fico”, nada disso teria acontecido.
Referências:
//ensina.rtp.pt/artigo/o-dia-do-fico/ 21.01.2019.
//pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Fico 21.01.2019.
Texto originalmente publicado em //www.infoescola.com/historia-do-brasil/dia-do-fico/