Por Stefanie Debatin
O Brasil é considerado um dos países pioneiros no desenvolvimento de uma nova especialidade na área da Psicologia, a Psicologia Hospitalar que surge em meados da década de 80. Este termo é utilizado para nomear as atividades do psicólogo da saúde em hospitais, onde se fazem presentes os processos doença-internação-tratamento, mediados pela relação doente-família-equipe. Portanto, os alicerces da Psicologia Hospitalar são a construção e a execução de teorias e técnicas específicas voltadas às pessoas hospitalizadas[1].
De acordo com o Conselho Regional de Psicologia do Paraná[2], o objetivo geral da Psicologia Hospitalar é pautado no acolhimento e no trabalho com pacientes de qualquer faixa etária, bem como com suas famílias, que estão em sofrimento psíquico decorrente da sua patologia, internação e tratamento.
Em relação aos fazeres do psicólogo hospitalar frente ao adoecimento e à internação, este atua como um facilitador da comunicação e da expressão do ser por meio da linguagem. Em conjunto com a equipe multidisciplinar, a melhora da comunicação serve de auxílio para a tomada de decisões e encaminhamentos frente às dificuldades apresentadas pelos pacientes e sua família. O psicólogo também pode atuar como um mediador entre os membros da equipe ou até mesmo entre a equipe e o paciente, com a finalidade de reduzir o estresse que é muito comum neste local[3].
O psicólogo hospitalar deve ser um observador qualificado, que interpreta os anseios do paciente, tornando-se um responsável sobre as transformações no processo de recuperação. Quando o paciente for uma criança, por exemplo, é imprescindível que se considere outras questões como as reações de cada uma delas, características ambientais e do período evolutivo no qual ela se encontra naquele determinado momento [4]. É muito importante que o profissional de Psicologia tenha conhecimento das fases da infância, para que ele se atente à saúde do paciente de forma integral e não focalizada[5].
Mäder[3] afirma que é preciso considerar que o psicólogo não lida somente com o sofrimento do paciente, mas também com a família e até mesmo com outros profissionais envolvidos, favorecendo o enfrentamento da doença por todos. O profissional de Psicologia é capaz de oferecer suporte psicológico para os familiares da criança internada, uma vez que cada membro pode manifestar as mais diversas reações diante daquele momento. As técnicas que o psicólogo usa, varia de caso para caso, respeitando a necessidade do paciente e da família.
Uma possibilidade de intervenção é a escuta qualificada, que é considerada uma forma de acolhimento verbal ou não verbal do próprio paciente ou de seu acompanhante, tendo em vista os diversos sentidos que a internação pode trazer a estes [6]. Ao possibilitar ao indivíduo essa expressão de seus sentimentos e emoções, o psicólogo estará contribuindo para que ele possa elaborar e ressignificar suas vivências, tornando-os sujeitos ativos diante do processo de adoecimento[7].
Sendo assim, a atuação no hospital se dá de forma distinta da psicologia tradicional, uma vez que o psicólogo vai ao encontro do sujeito e, junto do mesmo, constrói a demanda de trabalho. Além disso, o profissional de Psicologia também pode atuar como um mediador entre os membros da equipe e o paciente, diversificando ainda mais as possibilidades de trabalho do psicólogo no campo hospitalar.
REFERÊNCIAS
[1] ALMEIDA, Raquel A. MALAGRIS, Lucia E. N. A prática da Psicologia da Saúde. Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 183-202, jul./dez. 2011. Disponível em: <//pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582011000200012>. Acesso em: 01 jun. 2017.
[2] CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO PARANÁ. Manual de Psicologia Hospitalar: manual. Curitiba: Unificado, 2007.
[3] MÄDER, Bruno Jardini. Psicologia hospitalar: considerações sobre assistência, ensino, pesquisa e gestão.1. ed. Curitiba: CRP-PR, 2016.
[4] BAPTISTA, Makilim Nunes; DIAS, Rosana Righetto. Psicologia Hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
[5] CALVETT, P. Ü.; SILVA, L. M.; GAUER, G. J. C. Psicologia da saúde e criança hospitalizada. Psic, São Paulo, vol.9, n. 2, p. 229-234, dez. 2008. Disponível em: < //pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-73142008000200011>. Acesso em: 01 abr. 2017.
[6] LAZARI, A. H. et al. Escuta e acolhimento como ferramentas de avaliação da satisfação do usuário de um hospital ensino. In: IX EPCC – ENCONTRO INTERNACIONAL DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA UNICESUMAR, 9, 2015. Anais Eletrônicos. p. 4-8.
[7] ALCÂNTARA, T. V. et al. Intervenções psicológicas na sala de espera: estratégias no contexto da Oncologia Pediátrica. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, vol.16, n. 2, p. 103-119, dez. 2013. Disponível em: < //pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582013000200008>. Acesso em: 29 mar. 2017.