Quais eram os interesses da Inglaterra a combater o tráfico de escravos no Brasil?

Com o Bill Aberdeen, a Inglaterra pretendeu pressionar o Brasil para abolir o tráfico de escravos, mas também foi uma forma de represália à taxação dos produtos ingleses.

O fim da escravidão e do tráfico de africanos escravizados através do oceano Atlântico opôs Brasil e Inglaterra em vários momentos durante o século XIX. Um desses momentos esteve ligado à promulgação, em 1845, no Parlamento inglês, do Bill Aberdeen, ou em português, a Lei Aberdeen.

A lei estipulava que qualquer navio negreiro, de qualquer nacionalidade, poderia ser apresado por navios da marinha britânica no Atlântico e mesmo em águas brasileiras. Seus tripulantes seriam presos e julgados por um tribunal inglês. O nome da lei era uma homenagem a George Aberdeen, lorde inglês que à época era Ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha.

A lei foi recebida com oposição no Brasil. E mesmo na Inglaterra havia pessoas que viam um enorme exagero em sua viabilidade, já que o governo pretendia se tornar o “guardião moral do mundo”. Não que o interesse inglês fosse decorrente de uma preocupação moral, pois as condições de trabalho de homens, mulheres e crianças nas fábricas ingleses não eram muito melhores que a dos africanos na América. Era mais um interesse econômico em criar mercados consumidores para seus produtos industrializados, possível apenas com trabalhadores assalariados, e não com trabalhadores escravizados.

No Brasil, a reação foi de repulsa, pois buscava atacar um dos pilares da economia nacional, o tráfico de escravos, bem como limitar o envio de força de trabalho para as lavouras, principalmente em um momento em que começava a despontar a produção e exportação de café. Era visto também como uma interferência da Inglaterra nos negócios nacionais, evidenciando o fortalecimento do imperialismo inglês no século XIX.

Porém, o Bill Aberdeen era o resultado prático frente a uma inoperância do Brasil em efetuar medidas sobre a abolição do tráfico, que haviam sido estipuladas pelos dois países em alguns tratados. Os tratados para o tráfico de escravos estavam sendo realizados desde 1810, entre Portugal e Inglaterra, e foram ratificados pelo Brasil em 1826, sendo permitida a vistoria de navios brasileiros pela Marinha inglesa. Os tripulantes seriam julgados em tribunais mistos.

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Em 1831, uma Lei Regencial estipulou o fim do tráfico de escravos, mas ela nunca foi colocada em prática. O tráfico continuava a ocorrer no Atlântico. Na costa brasileira, inúmeros portos clandestinos recebiam a força de trabalho africana, mostrando a fragilidade das autoridades para coibir a ação, além de mostrar também a força dos traficantes e latifundiários em manterem em funcionamento o comércio.

Em 1845, teve fim o prazo estipulado, em 1826, por Inglaterra e Brasil. Para pressionar o Brasil a proibir o tráfico de escravos, o Bill Aberdeen foi promulgado na Inglaterra. Mas havia outros elementos nessa pressão.

Em 1844, o governo imperial não renovou o tratado de comércio com a Inglaterra que facilitava a entrada de mercadorias manufaturadas inglesas no Brasil. Em seu lugar, foi aprovada a Tarifa Alves Branco, que criava empecilhos à importação de mercadorias estrangeiras, pretendendo estimular a produção nacional.

O Bill Aberdeen era assim uma pressão inglesa sobre o governo de D. Pedro II e que, de certa forma, surtiu resultado. Em 1850, foi promulgada a Lei Eusébio de Queirós, que proibiu definitivamente o tráfico de escravos no Brasil. Porém, seriam necessários ainda 38 anos para que a escravidão fosse extinta.

Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)

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O século XIX viveu uma ebulição em torno da questão da escravidão. A Revolução Industrial iniciada na segunda metade do século XVIII na Inglaterra já passava a modificar os parâmetros sociais e econômicos e, por isso, a abolição da escravidão – tanto pela Inglaterra como pelas demais nações do mundo – está diretamente relacionada ao processo de industrialização.

Mesmo antes da data oficial do fim da escravidão na Inglaterra já havia um movimento bastante representativo pela Europa e pelos Estados Unidos, que em nome do humanitarismo e da fraternidade cristã – especialmente protestante – e dos princípios da vida moderna, ganharam força e voz e saíram em defesa do fim da escravidão.

O movimento abolicionista se fortaleceu entre os iluministas franceses e entre os intelectuais ingleses e norte-americanos, que tinham como principal lema de luta a ideia de liberdade, propagada após a Revolução Francesa (1789) e a Independência dos Estados Unidos (1776).

Mesmo a Inglaterra tendo sido uma das nações com maior atuação no comércio de escravos entre os séculos XVII e XVIII, no século seguinte a coroa britânica passa a encabeçar a campanha abolicionista e requerer primeiramente o fim do tráfico atlântico e, posteriormente, o fim da escravidão.

Para conclusão de seu projeto de industrialização a modificação das relações de trabalho e de mercado consumidor eram essenciais. Assim, dava-se maior importância à ampliação de mercados e da produtividade. O trabalho escravo e o monopólio – práticas comuns da exploração colonial – pareciam ultrapassados ao novo modelo, fomentado a partir da industrialização.

Neste novo modelo econômico era mais interessante e lucrativo manter os africanos na África, incentivando uma produção de matérias primas baratas. Além disso, o fim da escravidão fazia desses homens e mulheres um mercado consumidor de produtos industrializados em potencial.

É notável a preocupação britânica com as demais nações e suas colônias ao redor do mundo. A abolição da escravidão por lá se deu em 1833, tendo sido sancionada no parlamento e estabelecida em todo o Império, entretanto, já em 1807 o Parlamento aprovou o Abolition Act, que proibia o tráfico de escravos na Inglaterra.

Mesmo com essas medidas era necessário garantir um mercado consumidor e, por isso, durante todo o século XIX os ingleses irão pressionar recentes nações e países cujas colônias ainda mantinham – e dependiam do – o trabalho escravo.

Portugal é uma das nações que foi pressionada pelos ingleses. Em 1810 o Tratado de Aliança e Amizade entre Portugal e Inglaterra é assinado e já previa a abolição gradual. Em 1826 a Inglaterra impõe ao governo brasileiro – já independente desde 1822 – o compromisso de abolir o tráfico de escravos em três anos. Por conta disso é aprovada em 1831 a Lei Feijó que, em tese, proibia o tráfico atlântico e libertava os escravizados chegados ao Brasil após a data. Ficou conhecida como lei para inglês ver pois só surtiu efeitos no papel, enquanto na prática o tráfico continuava acontecendo e só teve seu fim com a Lei Eusébio de Queirós em 1850.

Em 1845 o Slave Trade Supression Act, ou Lei Bill Aberdeen, como ficou conhecido o ato no Brasil, proibiu o tráfico atlântico entre América e África. Este ato foi mais uma das formas de pressão que a coroa britânica fez, ocasionando, no Brasil, na Lei Eusébio de Queirós.

A política antiescravista inglesa foi imposta em diversos lugares. A partir de 1808 o governo britânico vigiou e agiu sobre a costa ocidental africana, patrulhando as negociações do comércio de escravos. Além disso, por via de leis e campanhas diplomáticas, tentavam negociar o fim do tráfico e da escravidão por parte das nações que ainda estavam envolvidas com o comércio de escravos.

Bibliografia:

//www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/cronologia-da-abolicao-da-escravatura

//objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon1104317/icon1104317.pdf

MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2013.

Texto originalmente publicado em //www.infoescola.com/historia/abolicao-da-escravidao-pela-inglaterra/

Qual era o interesse dos ingleses no fim do tráfico de escravos no Brasil?

Resposta: O interesse da Inglaterra era lucrar com o salário que agora eles ganhavam com a vinda da lei no Brasil.

Que motivo levou a Inglaterra a combater o comércio de escravos para o Brasil?

Do ponto de vista econômico, a Inglaterra era já uma nação industrializada, que precisava exportar os seus excedentes para outros países. Escravos não recebem salários e, portanto, não compram bens de consumo, de modo que lutar contra a escravidão era economicamente benéfico para a Inglaterra.

Porque era importante para a Inglaterra impedir o tráfico de escravos?

Qual seria o motivo do interesse inglês em defender o fim do tráfico e da escravidão? Certamente não apenas a pressão da opinião pública ou razões puramente humanitárias. Como o próprio Canning mencionava em seus despachos, havia importantes interesses econômicos.

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