Quem foram os vencedores do Festival Internacional da Canção Popular FIC de 1972?

São Paulo – O sétimo Festival Internacional da Canção Popular (FIC), exibido pela TV Globo, ficou conhecido como o último da chamada Era dos Festivais. Um período de turbulência política e explosão criativa, com o surgimento de uma geração de artistas que enfrentou as proibições impostas pela ditadura, com o AI-5 em vigor e a repressão ainda mais violenta. E o festival de setembro de 1972 foi um bom exemplo disso.

A começar do imbróglio do júri. Depois de aceitar a presidência, a cantora Nara Leão foi excluída do posto por pressão do governo, que teria ficado incomodado com declarações da artista contra a ditadura, os militares na política e a situação brasileira. Na sequência, todos os jurados foram substituídos. Um deles, o psicanalista e escritor Roberto Freire, conseguiu subir ao palco para ler manifesto elaborado com o objetivo de protestar contra a medida. Mal começou, Freire foi agarrado por seguranças, levado para trás do palco e espancado ali mesmo. Foi parar no hospital.

Nova geração

Até a pacífica Alaíde Costa sofreu com as ações da ditadura. Ela simplesmente teve o microfone cortado. Alguém achou que a cantora poderia ler algum manifesto subversivo. Assim, Alaíde não conseguiu apresentar Serearei, de Hermeto Pascoal – que tentou entrar com porcos no Maracanãzinho. Os animais, que fariam parte dos arranjos na apresentação, foram apreendidos pela polícia.

Em meio a esse clima, além de figuras mais conhecidas, como os grupos Mutantes e Originais do Samba, o FIC mostrou uma safra de novos compositores. Os cearenses Ednardo e Belchior, por exemplo, estavam inscritos com a musica Bip Bip, que não passou da fase eliminatória. O pernambucano Alceu Valença, desde 1970 no Rio de Janeiro, ainda não havia lançado LP, mas participou com Papagaio do Futuro, ao lado de Geraldo Azevedo e Jackson do Pandeiro. O santista Renato Teixeira, que poucos anos depois explodiria com sua Romaria, na voz de Elis Regina, foi outro músico a se apresentar, com Marinheiro.

Futuros clássicos da MPB

O festival teve ainda futuros clássicos, como Let me Sing, Let me Sing, do baiano Raul Seixas. E a sempre lembrada Eu quero botar meu bloco na rua, do compositor capixaba Sérgio Sampaio, que morreu em 1994, com apenas 47 anos. A composição escapou da censura, mas não foi para a final. Segundo escreveu o pesquisador Zuza Homem de Mello em seu livro sobre os festivais, na fase nacional o júri se dividia, basicamente, entre duas canções: Fio Maravilha, de Jorge Ben (hoje Benjor), interpretada por Maria Alcina, e a experimental Cabeça, de Walter Franco, cuja morte completará dois anos no dia 24.

Além de Fio Maravilha, passou para a fase internacional Diálogo, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, apresentada pelo próprio violonista, Tobias e Cláudia Regina. Mas a vencedora, da qual pouca gente deve se lembrar, foi Nobody Calls Me a Prophet, com o cantor norte-americano David Clayton Thomas (do grupo Blood, Sweat and Teers). Os festivais voltariam entre meados dos anos 1970 e 1980, em outro formato, com bons momentos, mas sem o mesmo impacto criativo.

Edu Lobo e Marília Medalha

Os Festivais da Canção, que tiveram seu auge no fim dos anos 60, foram eventos musicais que possuíam um apelo similar a uma final de Copa do Mundo dos dias de hoje, tamanha a mobilização da população que, literalmente, vestia a camisa de seu cantor e/ou música preferida, comportando-se como um verdadeiro torcedor.

Em abril de 1965 foi realizado o primeiro festival de música popular brasileira transmitido pela TV Excelsior //www.telehistoria.com.br/thnews/noticia.asp?id=1476), em São Paulo. Devido ao sucesso retumbante, a emissora promoveu, no ano seguinte, a segunda edição do evento, novamente cercado de pleno êxito. Foi tão grande a repercussão que a TV Record (SP) também decidiu investir no modelo e criou o seu próprio festival, ainda no ano de 1966. Em 1967 foi realizado o III Festival de Música Popular Brasileira, pela TV Excelsior, a versão mais famosa de todas, que revelou vários novos compositores e intérpretes que acabaram escrevendo um pouco da história da música brasileira, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elis Regina.

Paralelamente aos festivais paulistas, a então iniciante TV Globo lançou o Festival Internacional da Canção (FIC), que tinha o seu maior destaque na eliminatória brasileira, também lançando nomes definitivos na nossa música, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Raul Seixas, Beth Carvalho e muitos e muitos outros.

Como foram

A palavra festival vem do latim “ festivitas ”, que significa tanto ‘um dia de festa’ quanto ‘uma maneira engenhosa de dizer’. E essa maneira engenhosa faz-se muito presente nos festivais da década de 1960, precisamente pelo caráter crítico à ditadura militar vigente no período.

Exemplo emblemático é a música "Para não dizer que não falei de flores" ou ”Caminhando” de Geraldo Vandré, que até hoje é cantada nas passeatas e manifestações políticas, principalmente as da classe dos estudantes. Ela concorreu no 3º FIC, em 1968, pouco antes da vigência do Ato Institucional número 5 (AI-5), instrumento legal que decretou censura absoluta aos meios de comunicação e nas manifestações artísticas, sobretudo a música. De certa forma, o AI-5 decretou, também, o fim dos festivais.

O que se cantava

Ao falar-se em música brasileira da década de 60 deve-se pensar em quatro gêneros: Jovem Guarda, Bossa Nova, Tropicália e MPB, que, por sua vez, eram divididos em dois grupos: os “alienados” - Jovem Guarda e Bossa Nova e os “engajados” - MPB e Tropicália.

Sob esse rótulo, a música “alienada” preocupava-se com o ciúme da namorada, com a velocidade do carro, com o barquinho, a praia e o sol. Já a música “engajada” abordava temáticas de cunho social, valorizando aspectos regionais.

As músicas da Jovem Guarda e da Bossa Nova eram consideradas apolíticas, no sentido mais exato da palavra. A Jovem Guarda por ser um subproduto do rock americano e a Bossa Nova por retratar o universo da classe média da zona sul carioca. No III Festival da Canção (1968) Caetano Veloso defende a música “ É proibido proibir ”. O público não a recebeu bem, justamente por considerá-la ‘alienada’. Entretanto, este é um perfeito exemplo de música “engajada”, já que o próprio título foi extraído das palavras de ordem dos protestos universitários contra o autoritarismo ocorrido em Paris e conhecido como ‘Maio de 68’. Foi nesse dia, debaixo de estrondosas vaias, que Caetano proferiu seu célebre discurso, cujo trecho mais famoso foi: "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) Se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos!"

Censura

A ação da censura durante o regime militar foi a grande responsável pelo declínio e fim dos festivais. Curiosamente, iniciou-se um período muito fértil na música brasileira, já que os compositores, diante da necessidade de “driblar” a censura, criaram inúmeras letras de fundo político traduzidas em metáforas poéticas. Mas logo no início do AI-5, a situação ficou insustentável. Chico Buarque, depois de preso e interrogado, exilou-se na Itália. Caetano e Gil não tiveram a mesma sorte. Depois de presos um tempo, foram obrigados a abandonar o país, estabelecendo-se em Londres até que pudessem voltar.

Cronologia dos festivais

Cronologia dos festivais na TV Excelsior

1º Lugar no festival

I Festival de Música Popular Brasileira

Local: Guarujá, São Paulo Data: Abril 1965 Classificação: 1º Lugar: Arrastão (Edu Lobo e Vinicius de Moraes) - Intérprete: Elis Regina 2º Lugar: Valsa do Amor Que Não Vem (Baden Powell e Vinicius de Moraes) - Intérprete: Elizete Cardoso

1º Lugar no festival

Festival Nacional de Música Popular Brasileira

Data: Junho 1966 Classificação: 1º Lugar: Porta-Estandarte (Geraldo Vandré e Fernando Lona) - Intérpretes: Tuca e Airto Moreira 2º Lugar: Inaê (Vera Brasil e Maricene Costa) - Intérprete: Nilson

Cronologia dos festivais na TV Record

Chico Buarque e Nara Leão

II Festival de Música Popular Brasileira

Local: Teatro Record Data: Setembro e Outubro 1966 Prêmio Viola de Ouro Classificação: 1º Lugar: A Banda (Chico Buarque) - Intérpretes: Chico Buarque e Nara Leão Disparada (Geraldo Vandré e Teo de Barros) - Intérpretes: Jair Rodrigues, Trio Maraiá e Trio Novo 2º Lugar: De Amor ou Paz (Luís Carlos Paraná e Adauto Santos) - Intérprete: Elza Soares

Edu Lobo, Marília Medalha e
Quarteto Novo

III Festival de Música Popular Brasileira

Local: Teatro Paramount Data: Outubro 1967 Prêmio Sabiá de Ouro Classificação: 1º Lugar: Ponteio (Edu Lobo e Capinam) - Intérpretes: Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo 2º Lugar: Domingo no Parque (Gilberto Gil) - Intérpretes: Gilberto Gil e Os Mutantes 3º Lugar: Roda Viva (Chico Buarque) - Intérpretes: Chico Buarque e MPB-4 4º Lugar: Alegria, Alegria (Caetano Veloso) - Intérpretes: Caetano Veloso e Beat Boys Melhor Intérprete: O Cantador (Dori Caymmi e Nelson Motta) - Intérprete: Elis Regina Momento Marcante do III Festival de MPB Beto Bom de Bola (Sérgio Ricardo) - Intérprete: Sérgio Ricardo

IV Festival de Música Popular Brasileira

Local: Teatro Record Data: Novembro e Dezembro 1968 Júri Especial e Júri Popular Classificação: 1º Lugar (Júri Especial) e 5º lugar (Júri Popular): São, São Paulo Meu Amor (Tom Zé) - Intérprete: Tom Zé 1º Lugar (Júri Popular): Benvinda (Chico Buarque) - Intérprete: Chico Buarque 2º Lugar (Júri Especial) e 2º Lugar (Júri Popular): Memórias de Marta Saré (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri) - Intérpretes: Edu Lobo e Marília Medalha 3º Lugar (Júri Especial): Divino Maravilhoso (Caetano Veloso e Gilberto Gil) - Intérprete: Gal Costa 4º Lugar (Júri Especial): Dois Mil e Um (Rita Lee e Tom Zé) - Intérprete: Os Mutantes

Paulinho da Viola

V Festival de Música Popular Brasileira

Local: Teatro Record Data: Novembro 1969 Classificação: 1º Lugar: Sinal Fechado (Paulinho da Viola) - Intérprete: Paulinho da Viola 2º Lugar: Clarisse (Eneida e João Magalhães) - Intérprete: Agnaldo Rayol

Festival Internacional da Canção (TV Rio e Rede Globo)

Ver artigo principal: Festival Internacional da Canção Local: Maracanãzinho - Rio de Janeiro Prêmio Galo de Ouro (Parte Nacional)

I FIC

Emissora: TV Rio Data: Outubro 1966 Classificação: 1º Lugar: Saveiros (Dori Caymmi e Nelson Motta) - Intérprete: Nana Caymmi 2º Lugar: O Cavaleiro ( Tuca e Geraldo Vandré) - Intérprete: Tuca

II FIC

Emissora: TV Globo Data: Outubro l967 Classificação: 1º Lugar: Margarida ( Gutemberg Guarabira ) - Intérprete: Gutemberg Guarabyra e Grupo Manifesto 2º Lugar: Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant) - Intérprete: Milton Nascimento 3º Lugar: Carolina (Chico Buarque) - Intérprete: Cynara e Cybele

III FIC

Emissora: TV Globo Data: Setembro 1968 Classificação: 1º Lugar: Sabiá (Chico Buarque e Tom Jobim) - Intérpretes: Cynara e Cybele 2º Lugar: Prá Não Dizer Que Não Falei de Flores (Geraldo Vandré) - Intérprete: Geraldo Vandré 3º Lugar: Andança (Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós - Intérpretes: Beth Carvalho e Golden boys) Momento Marcante do III FIC: É Proibido Proibir (Caetano Veloso) - Intérprete: Caetano Veloso

IV FIC

Emissora: TV Globo Data: Setembro 1969 Classificação: 1º Lugar: Cantiga por Luciana (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós) - Intérprete: Evinha 2º Lugar Juliana (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar) - Intérprete: Brasuca

V FIC

Emissora: TV Globo Data: Outubro 1970 Classificação: 1º Lugar: BR-3 (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar) - Intérprete: Tony Tornado e Trio Ternura 2º Lugar: O Amor é o Meu País (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro) - Intérprete: Ivan Lins 3º lugar: Universo do Teu Corpo (Taiguara) - Intérprete: Taiguara

VI FIC

Emissora: TV Globo Data: Setembro 1971 Classificação: 1º Lugar: Kyrie (Paulinho Soares e Marcelo Silva) - Intérprete: Evinha 2º Lugar: Karany Karanuê (José de Assis e Diana Camargo) - Intérprete: Trio Ternura 3º Lugar: Desacato (Antônio Carlos e Jocafi ) - Intérpretes: Antônio Carlos e Jocafi

VII FIC

Emissora: TV Globo Data: Setembro 1972 Classificação: 1º Lugar: Fio Maravilha (Jorge Ben) - Intérprete: Maria Alcina 2º Lugar: Diálogo ( Baden Powell e Paulo César Pinheiro) - Intérpretes: Tobias e Cláudia Regina Prêmio Especial: Cabeça (Walter Franco) - Intérprete: Walter Franco Participante do VII FIC Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio) - Intérprete: Sérgio Sampaio

Quem foram os vencedores do Festival Internacional da Canção Popular FIC de 1966 1972 e dos programas atuais?

A seguir os vencedores do Festival Internacional de Canção Popular (FIC) entre 1966 e 1972:.
1966: Inge Brück..
1967: Jimmy Fontana..
1968: Cynara e Cybele..
1969: Evinha..
1970: Piero..
1971: Hermanos Castro..
1972: David Clayton-Thomas..

Quem foram os vencedores do Festival Internacional da Canção Popular FIC de 1966 1972 e dos programas atuais de 2012 a 2020 *?

O Resultado foi o seguinte: 1º Lugar: "Saveiros" (Dori Caymmi e Nelson Motta), com Nana Caymmi. 2º Lugar: "O Cavaleiro" (Tuca e Geraldo Vandré), com Tuca. 3º Lugar: "Dia das rosas" (Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo), com Maysa.

Quem foram os vencedores do Festival Internacional da Canção Popular FIC de 1971?

O festival era realizado desde 1966 no Maracanãzinho e transmitido pela Rede Globo e dava o prêmio Galo de Ouro ao vencedor. Naquele ano, ganhou Kyrie, de Paulinho Soares e Marcelo Silva, cantado pelo Trio Ternura. A Música do Dia é Desacato, de Antonio Carlos e Jocaffi.

Quem foram os vencedores do Festival Internacional da Canção Popular FIC e dos programas atuais de 2012 a 2020?

O primeiro lugar ficou com BR-3, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, defendida por Tony Tornado, Trio Ternura e Quarteto Osmar Milito. O segundo, com O Amor É o Meu País, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, cantada pelo próprio Ivan Lins.

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