Como ocorre a distribuição do fluxo sanguíneo durante o exercício?

    O indiv�duo, ao iniciar o exerc�cio f�sico, coloca em a��o simultaneamente uma rede de complexos sistemas respons�veis pelo correto funcionamento fisiol�gico de seu organismo. O desempenho desse indiv�duo durante o exerc�cio depender� muito das intera��es realizadas em conjunto por estes sistemas.

    Para um maior conhecimento desta rede de sistemas, onde cada um possui suas fun��es definidas, e, na atividade aer�bia pode-se destacar o sistema respirat�rio e cardiovascular, que s�o respons�veis por grande parte do desempenho do individuo em atividades agudas de predomin�ncia aer�bica, o volume de oxig�nio (VO2) representa a intera��o destes dois sistemas.

    O volume de oxig�nio m�ximo consumido (VO2m�x) � considerado como um bom indicador da capacidade aer�bia1 , mas este � influenciado pelo volume sang��neo e o balan�o de seus componentes2,3,4.

    Assim, esta revis�o possui como objetivo analisar o comportamento e influ�ncia dos componentes do sangue e seu volume total no sistema cardiovascular durante exerc�cio agudo e os riscos ao organismo causado pela hemoconcentra��o.

1.     Componentes do volume sangu�neo

    O desempenho aer�bio, normalmente caracterizado pelo VO2max, tem o volume sang��neo total como seu maior influenciador, pois este limita o retorno venoso e assim o volume de eje��o e a concentra��o de hemoglobina, que determina a capacidade de transporte de O2, refletindo, portanto, na diferen�a art�rio-venosa de oxig�nio (a-vO2)5.

    Determinar o volume sang��neo possibilita conhecer e controlar a troca de fluido entre o plasma e fluido intersticial, entre o plasma e o ambiente externo al�m do controle de volume dos eritr�citos6.

    A composi��o total do sangue � de aproximadamente 55% de plasma e 45% por elementos figurados. Valores aproximados para os constituintes do volume plasm�tico s�o relatados na literatura, sendo estes de 90% de �gua, 7% por prote�nas plasm�ticas e os 3% restantes s�o de nutrientes celulares, eletr�litos, horm�nios, enzimas, anticorpos e produtos da degrada��o metab�lica. Os elementos figurados, em quase sua totalidade de volume, aproximadamente 99%, s�o compostos por eritr�citos, e o restante sendo por leuc�citos e plaquetas, esta porcentagem � denominado como hemat�crito6.

    Os m�todos usados para medir os valores de volume sang��neo s�o todos indiretos e baseados na dilui��o de um marcador na circula��o sangu�nea. Estes marcadores s�o c�lulas sang��neas vermelhas marcadas com Cromo radioativo (51Cr) para a medida do volume de c�lulas vermelhas; albumina marcada com Iodo radioativo (131I ou 125I) para a medida do volume de plasma; e o Evans Blue Day, que demarca o volume plasm�tico pela marca��o das prote�nas plasm�ticas ou a medida da hemoglobina que se d� pelo m�todo de mon�xido de carbono inalado (CO)7. O m�todo 51Cr � considerado como o m�todo crit�rio pela International Comitte for Standartization in Haematology, baseado na fidedignidade, reprodutibilidade e f�cil uso na rotina cl�nica8.

    O volume de sangue total sofre varia��es conforme o tamanho do indiv�duo e seu estado de treinamento e a regi�o onde se vive, sendo que seu total em pessoas de tamanho corporal m�dio e atividade f�sica normal geralmente s�o de 5 a 6 litros nos homens e de 4 a 5 litros nas mulheres

5.

Comportamento dos componentes do volume sangu�neo no exerc�cio agudo at� atingir VO2max

    O termo Efeito Agudo do exerc�cio refere-se �s respostas fisiol�gicas que ocorrem quando o exerc�cio esta sendo desenvolvido

9.

    Em repouso, o volume sang��neo, em sua maior parte, localiza-se nos canais de retorno venoso (veia, v�nulas, seios venosos). Por tanto, o sistema venoso representa um grande reservat�rio de sangue prontamente disposto a suprir o aumento da demanda. Quando isto ocorre, a estimula��o simp�tica das v�nulas e veias produz constri��es desses vasos, o que provoca uma redistribui��o r�pida do sangue da circula��o venosa perif�rica de volta ao cora��o, e, em seguida para as �reas cujas demandas s�o maiores. N�o somente o sangue � desviado desses outros tecidos, mas mais sangue do sistema venoso � enviado para a circula��o arterial, assegurando assim um aumento substancial do fluxo sang��neo para �rea necessitada

10.    

    Ent�o, � medida que o metabolismo aumenta durante o exerc�cio, as fun��es do sangue tornam-se mais vitais para o desempenho eficiente. Assim o sangue passa a ter duas fun��es: o adequado fornecimento de O2 e nutrientes para o m�sculo no exerc�cio aer�bio

11 e controle termoregulat�rio12. Existe uma maior associa��o entre a dissipa��o do calor durante o exerc�cio com o volume de sangue do que com a pot�ncia aer�bia4, 13.

    Desta forma, para poder realizar suas fun��es, o sangue reajustar� todo o funcionamento dos sistemas corporais. Salientando que o deslocamento do volume sang��neo afetar� as fun��es cardiovasculares, fazendo com que aumente o d�bito card�aco por conseq��ncia do aumento da freq��ncia card�aca, do volume de eje��o, do volume diast�lico e esvaziamento sist�lico em rela��o ao repouso; isso com o objetivo de fornecer O2 da liga��o com a hemoglobina, resultando no aumento do VO2

14.

    O fluxo sangu�neo aumenta devido � vasodilata��o cut�nea, causada pelo aumento da temperatura corporal, na tentativa de evitar hipertermia, mas � necess�rio alcan�ar certa intensidade de trabalho (> 30%do VO2max ) para que ocorra esse fen�meno da vasodilata��o cut�nea

12.

    Estes valores v�o aumentando conforme o indiv�duo aproxima-se de seu VO2max, at� o momento que a freq��ncia card�aca estabiliza e o volume de eje��o tem pequeno aumento, mostrando que o indiv�duo esta pr�ximo de seu VO2max

1.

    Por�m, quando a atividade � realizada por um longo per�odo ou em temperaturas mais elevadas, o comportamento de outro importante componente do volume sangu�neo reflete nas fun��es cardiovasculares. Em atividades que causam desidrata��o, caso n�o reposto o l�quido perdido, haver� redu��o no volume plasm�tico, resultando na diminui��o da quantidade de sangue no cora��o, bem como o volume de sangue que o cora��o consegue bombear a cada batimento. Esse fen�meno diminuir� o volume de eje��o e para manter a mesma taxa de trabalho a freq��ncia card�aca aumentar�, mantendo o d�bito card�aco e a press�o sangu�nea em condi��es de suportar o exerc�cio

15.

    A redu��o do volume de plasma far� com que ocorram tamb�m mudan�as de flu�dos do espa�o intravascular para o intersticial e para o compartimento intracelular durante o exerc�cio. O primeiro mecanismo � para aumentar a press�o hidrost�tica (aumento da press�o sangu�nea), a qual � acompanhada pelo aumento de perfus�o do n�mero de capilares. O segundo mecanismo � para aumentar a press�o osm�tica dentro do tecido muscular, o que � causado pela divis�o da fosfocreatina e acumulo metab�lico (ex: �cido l�tico)

16.

    O volume plasm�tico tamb�m aparece associado com a capacidade de vasodilata��o cut�nea. Indiv�duos com quantidade maior de volume de plasma (ml.kg-1) ativam a vasodilata��o cut�nea e baixam a temperatura corporal interna, aumentando a transfer�ncia de calor do centro do corpo para a pele durante a por��o inicial do exerc�cio, e tamb�m produzem um maior pico de fluxo sang��neo na pele, o que promove uma capacidade de elevar a transfer�ncia de calor durante exerc�cios prolongados

12.

    Assim, a rela��o entre volume de plasma e hemat�crito � importante para o comportamento fisiol�gico do sistema cardiovascular no desempenho aer�bio e para a viscosidade sang��nea, a qual � definida como a resist�ncia ao fluxo e � influenciada pelo aumento do hemat�crito (elementos figurados), di�metros dos vasos e a temperatura

6.

    Se o aumento da contagem eritrocit�ria n�o for acompanhado por um aumento similar do volume plasm�tico, a viscosidade sang��nea aumentar�, este fen�meno � chamado de hemoconcentra��o, e tem como conseq��ncia a restri��o do fluxo sangu�neo, n�o permitindo que a hemoglobina carreie o O2 atrav�s dos capilares at� os tecidos em atividade, j� que os capilares s�o uma rede de vasos que est�o em contato direto com estes tecidos e onde ocorre � troca gasosa. Inversamente, a combina��o de um hemat�crito baixo com um volume plasm�tico elevado, diminuindo a viscosidade sang��nea, produz benef�cios � fun��o de transporte do sangue e � denominado hemodilui��o. Mas, um hemat�crito baixo, freq�entemente � resultante de uma contagem eritrocit�ria baixa, o que tem como conseq��ncia menos transportadores de oxig�nio

17.

    Portanto, justifica-se a import�ncia da pr�-hidrata��o antes e da hidrata��o durante o exerc�cio para a manuten��o do volume plasm�tico, melhorando a distribui��o do fluxo sang��neo, controle termoregulat�rio

15 e transporte de O2.

    Na recupera��o, os elementos do sangue e as fun��es cardiovasculares continuam sofrendo reflexo do exerc�cio. At� o terceiro minuto de recupera��o o hemat�crito e a hemoglobina permanecem com seus valores elevados, ent�o, quando o volume plasm�tico come�a a aumentar para ajustar a press�o hidrost�tica e a press�o osm�tica, seus valores iniciam um processo de retorno a valores normais, levando aproximadamente uma hora

16.

Risco do aumento da hemoconcentra��o

    N�veis elevados de hemat�crito causam perigo � sa�de do indiv�duo (especialmente se adquiridos na forma de doping), pois o aumento da viscosidade sang��nea � fatal para o funcionamento do cora��o
18.

    Essas altera��es combinam com a diminui��o da press�o de enchimento venoso central, a qual faz diminuir o retorno venoso para o lado direito do cora��o e reduzir o volume diast�lico final. Com a redu��o do volume diast�lico final, o volume de eje��o � reduzido e para compensar a diminui��o do volume de eje��o, a freq��ncia card�aca aumenta, em um esfor�o para conservar o d�bito card�aco

19, aumentando o risco de complica��es cardiovasculares.

    � incorreto assumir que o aumento do hemat�crito pode melhorar o desempenho. Quando o hemat�crito aumenta acima de 50%, h� um exponencial aumento na viscosidade sang��nea e na resist�ncia perif�rica total o que pode compensar o aumento no transporte do oxig�nio pela redu��o da freq��ncia do fluxo sang��neo

3.

    Aumento no hemat�crito acima de 55% � associado com um inaceit�vel risco de rea��es adversas, incluindo encefalopatias, distens�o vascular, diminui��o do fluxo sang��neo, e, como resultado, hip�xia tecidual, embolismo pulmonar e infarto do mioc�rdio.

    Este risco, nos exerc�cios de endurance, causado pelo aumento do hemat�crito, deve-se � perda de flu�do e mudan�a hemodin�mica, fazendo com que o hemat�crito aumente em 10% durante a atividade f�sica

3.

Conclus�o

    O volume sangu�neo e o balan�o de seus componentes refletem diretamente na a��o fisiol�gica do mecanismo cardiovascular, al�m de contribuir para a melhora no desempenho durante exerc�cios f�sicos de endurance, sendo essencial a manuten��o do balan�o de seus componentes figurados e do plasma evitando, desta forma, complica��es a sa�de.

Refer�ncias bibliograficas

Como funciona a distribuição do fluxo sanguíneo durante a atividade física?

Quando o exercício se prolonga, há ajustes constritores adicionais nos tecidos menos ativos, que, assim, mantêm uma pressão de perfusão adequada, mesmo com uma grande vasodilatação muscular. Essa ação constritora permite a correta redistribuição do sangue para satisfazer às necessidades dos músculos ativos.

O que acontece com o fluxo sanguíneo durante o exercício?

Na passagem do repouso para o exercício ocorrerá um aumento agudo no débito cardíaco e na pressão arterial o que permitirá um aumento no fluxo sanguíneo para todo o corpo. Essas alterações ou repostas são geradas para que as áreas corporais aonde haja necessidade recebam o fluxo sanguíneo adequado.

Onde ocorre o maior fluxo sanguíneo durante o exercício?

Durante o exercício ocorre no corpo humano uma redistribuição do fluxo sanguíneo de modo com que os músculos ativos receberão a maior proporção do débito cardíaco. Por exemplo durante um exercício máximo, os músculos ativos poderão receber de 85% a 90% do fluxo sanguíneo total.

Como é a distribuição de fluxo sanguíneo no repouso Quais as principais mudanças no exercício?

O fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos pode aumentar > 20 vezes durante um exercício extenuante. Em repouso: 20% do débito cardíaco (CO, pela sigla em inglês) vai para os músculos esqueléticos (todos combinados). O fluxo é de aproximadamente 1‒4 mL/min para cada 100 g de tecido muscular.