Fatores responsáveis pela distribuição desigual do consumo das fontes de energia pelo mundo

RECIFE — Se por um lado a Amazônia se configura como uma grande exportadora de energia para o Brasil, por outro, internamente, parte da sua população está desconectada. É o que aponta o estudo Rios de diesel na Amazônia Legal: por que a região com as maiores hidrelétricas do país depende de combustível caro e poluente?, do Climate Policy Initiative, lançado nesta sexta (3/6).

Dados divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética mostram que os estados da Amazônia Legal foram responsáveis por mais de 26% da geração de energia elétrica nacional em 2020 e consumiram apenas 8% do total gerado.

Além disso, mais de 14% da população da região não tem acesso à energia do Sistema Interligado Nacional (SIN), que liga as usinas aos consumidores ao redor do país.

Desconectados do Sistema Integrado, cerca de três milhões de brasileiros precisam utilizar usinas locais, na maioria dos casos termelétricas abastecidas a óleo diesel, nos chamados Sistemas Isolados.
Essa geração de energia nos Sistemas Isolados é mais custosa do que a no SIN — por ter como insumo o óleo diesel e apresentar menor economia de escala — e o custo é distribuído entre os consumidores de energia elétrica através de encargo na conta de luz.

Isso acontece porque, para evitar que a parte da população que precisa utilizar os Sistemas Isolados pague uma conta de luz com valor superior à média nacional, o excedente à média do custo de energia nacional é rateado por todo o país por meio da chamada Conta Consumo de Combustíveis.

Em 2022, o valor estimado é superior a R$ 10 bilhões, ou seja, um custo superior a R$ 3 mil por habitante atendido pelos Sistemas Isolados.


O estudo também aponta que quase um milhão de pessoas vivem sem acesso perene à energia elétrica, contando com apenas algumas horas de energia por dia, por meio de geradores a diesel ou a gasolina.

E afirma que a desigualdade no atendimento elétrico pode, potencialmente, agravar os problemas socioeconômicos que atingem os brasileiros que vivem nessas áreas.

Sistemas isolados por estados

Em 2018, nove Sistemas Isolados estavam localizados no Acre; vinte e nove no Amapá; noventa e cinco no Amazonas; vinte e três no Pará; vinte e cinco em Rondônia; oitenta e seis em Roraima; e dois no Mato Grosso.

A análise ainda verificou que os municípios que abrigam os Sistemas Isolados apresentam desempenho abaixo da média regional nos principais indicadores socioeconômicos.

É possível, todavia, que esses municípios não performem pior do que a média do estado em que se encontram, mesmo que apresentem índices piores do que a Amazônia Legal.

Soluções

Entre as soluções apontadas pelo relatório para sanar os problemas estão a criação de condições favoráveis para que iniciativas renováveis de suprimento possam competir pela concessão do atendimento aos sistemas isolados, a partir da modificação das regras dos leilões.

Além disso, outro ponto importante seria aprimorar o programa que se propõe a promover o acesso à energia elétrica em regiões não atendidas, por meio da criação de metas objetivas, incorporação de fiscalização efetiva e envolvimento das comunidades locais.

  • Opinião | A transição energética justa no Brasil Democratização se refere ao acesso amplo e módico à energia, de forma inclusiva, participativa e priorizando o social, por Emílio Matsumura e Nathalia Paes Leme

Acesso universal a energia está atrasado e guerra da Rússia deve piorar

Divulgado na quarta-feira (1/6), o Tracking SDG 7: The Energy Progress Report mostra que, globalmente, 733 milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade e 2,4 bilhões de pessoas ainda cozinham usando combustíveis prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

No ritmo atual de progresso, 670 milhões de pessoas permanecerão sem eletricidade até 2030 — 10 milhões a mais do que o projetado no ano passado.

Produzido pelas agências internacionais de energia, Nações Unidas e Banco Mundial, o estudo mostra que os impactos da pandemia — como interrupções nas cadeias de suprimentos e desvio de recursos para segurar preços de alimentos e combustíveis — afetaram o ritmo do progresso no 7° Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 7).

Países mais vulneráveis ​​e já atrasados ​​no acesso à energia foram os mais prejudicados. Quase 90 milhões de pessoas na Ásia e na África que anteriormente tinham acesso à eletricidade não conseguem mais pagar por ela.

O documento também observa que as incertezas nos mercados globais de petróleo e gás após a invasão russa da Ucrânia estão agravando a situação, já que os preços de energia estão disparando.

Fatores responsáveis pela distribuição desigual do consumo das fontes de energia pelo mundo

Ana Guerra

Jornalista dedicada à cobertura de transição e política energética. Estagiária sob supervisão de [email protected]

Superar as desigualdades e atender a demanda energética em um país continental como o Brasil são os principais desafios a serem superados no sistema de distribuição, conclui o estudo Logística de Energia 2015 - Redes e Fluxos do Território, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou hoje (23).

O documento sinaliza concentração excessiva da produção, distribuição e logística energética nas regiões Sudeste, Sul e parte do Centro-Oeste do país. No Sudeste, por exemplo, o Rio de Janeiro responde por quase 70% de toda a produção de petróleo (68,4%) e por 34,8% da produção de gás natural; o Espírito Santo é responsável por 16,3% da produção de petróleo e São Paulo, (7,2%).

Na produção de gás, 62,8% se concentram no Rio de Janeiro (34,8%), Espírito Santo (14,9%) e São Paulo (13,1%). Das 17 refinarias que integram o Parque Nacional de Refino, cinco delas ficam no Sudeste: São Paulo (5) e Rio de Janeiro (2). O Rio Grande do Sul tem duas refinarias.

A concentração indica que 39% da capacidade de refino no Brasil estão no interior de São Paulo, 10,9% no Rio de Janeiro e 9,3% no Rio Grande do Sul. Assim, as regiões Sul e Sudeste reúnem 59,2% da capacidade de refino no Brasil.

Distribuição geográfica

O estudo do IBGE tem como meta apresentar e analisar os padrões espaciais (distribuição geográfica) da logística da energia no Brasil, desde a produção, passando pela distribuição, até chegar ao consumo de todas as formas de energia produzidas: petróleo, gás natural, biocombustíveis e energia elétrica – aí compreendidos fontes hidroelétricas, termoelétricas, eólica e fotovoltaica.

Como agravante às dificuldades decorrentes da diversidade da grandeza geográfica do território brasileiro, figuram a questão da distribuição desigual das atividades econômicas, com suas respectivas demandas energéticas, e a necessidade de disponibilizar esses recursos em um país de dimensões continentais.

Em entrevista à Agência Brasil, Marcelo Paiva da Motta, um dos responsáveis pelo planejamento e coordenador da pesquisa, disse que o estudo procurou enfatizar o lado territorial, o padrão espacial (distribuição geográfica) das infraestruturas de produção existentes e também a distribuição dos insumos energéticos.

“Em termos gerais, a gente repara que a distribuição espacial dessas estruturas de produção e a distribuição dos insumos energéticos são determinadas, em primeiro lugar, pelas condições técnicas de sua produção e dos determinantes naturais. As jazidas têm uma ocorrência natural e puxam a estrutura de distribuição para perto delas, da mesma forma que a geração da energia elétrica vai seguir a localização das bacias hidrográficas, que têm o potencial de transformar aquela energia hidráulica em energia elétrica.”

Pré-sal

A pesquisa do IBGE mostra, também, o crescimento da participação do pré-sal na produção de petróleo (que chegou a 21,9% em 2014); a liderança absoluta do Rio de Janeiro como produtor de petróleo (68,4% da produção) e gás natural (34,8%); mas sinaliza, também, a dependência externa do país no consumo de derivados de petróleo e gás natural.

Com base em dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), por exemplo, o estudo comprova que o país importou, em 2014, 47,6 mil metros cúbicos por dia (m³/dia), o equivalente a 299,8 mil barris/dia de derivados de petróleo, principalmente óleo diesel, gasolina e nafta; e outros 17,4 bilhões de metros cúbicos (m³) de gás natural no mesmo ano.

A pesquisa indica, ainda, que 92,5% do volume de produção do petróleo no Brasil ocorrem em ambiente marinho e apenas 7,5% no continente. Em termos absolutos, no entanto, 841 poços produtores de petróleo e gás natural situam-se no mar e 8.263 ficam no continente.

“O estudo ratificou a condição do Rio de Janeiro como o maior produtor de petróleo no Brasil, chegando a responder na época [da pesquisa] por quase 70% de toda a produção de petróleo. Este percentual equivale a mais de quatro vezes a produção do segundo colocado, o Espírito Santo, com 16,3%. Todos os outros estados produtores somados chegam a 8,1% do total da produção no país”, enfatizou.

Gás natural

O IBGE constatou que a produção de gás natural é um pouco menos concentrada no mar do que a do petróleo. Segundo o estudo, são 73,3% de origem marítima, contra 26,7% da produção terrestre, sendo que, no pré-sal, já representa 19,6% do total extraído no país (31,9 bilhões de m3, em 2014).

A produção do Rio de Janeiro (34,8%) representa mais que o dobro da produção do segundo colocado, o Espírito Santo, que extrai 14,9%. Amazonas (14,7%) e de São Paulo (13,1%) também detêm produções significativas.

Geralmente associado às reservas de petróleo - os campos de produção de petróleo são basicamente os mesmos que produzem o gás -, a distribuição geográfica do volume produzido de gás natural tem algumas diferenças em relação às maiores áreas produtoras de petróleo.

Predomínio marítimo

Do mesmo modo que ocorre com a produção de petróleo, a maior parte do volume produzido de gás natural tem predomínio de origem marítima (73,3%), contra 26,7% de origem terrestre.

A produção de gás natural no pré-sal representava, em 2014, apenas 19,6% do total extraído no Brasil, proporção levemente menor que a do volume de petróleo extraído dessa camada (21,9%). Neste caso, além da incipiência da produção, deve-se considerar o fato de haver maior produção de gás natural em áreas continentais em relação ao petróleo, além de todas as áreas terrestres se situarem fora do polígono do pré-sal.

O Rio de Janeiro é também o maior produtor de gás natural do país, totalizando 34,8% do volume nacional. A produção de gás natural do estado representa mais que o dobro dos números do Espírito Santo, o segundo em extração do produto.

Por ter o seu escoamento muito mais dependente do transporte dutoviário, do que o de petróleo e seus derivados, a malha de gasodutos do país é bastante extensa, e há alguns deles que percorrem centenas de quilômetros mar adentro para alcançar determinadas plataformas e campos de produção.

O Brasil não é autossuficiente na produção de gás natural, necessitando de um volume significativo de importações para suprir a demanda interna. Em 2014, o volume importado foi pouco mais de 17 bilhões de metros cúbicos.

Dois tipos de infraestrutura cumprem papel fundamental nessa importação: o gasoduto Brasil-Bolívia, que transporta o produto do país vizinho para ser comercializado no Brasil, percorrendo quase a totalidade  de Mato Grosso do Sul e São Paulo; e as unidades de regaseificação de gás natural.

Refinarias

A lógica da concentração e da desigualdade do sistema energético brasileiro pode ser avaliada quando se analisa o Parque de Refino. Das 17 refinarias existentes, cinco  ficam em São Paulo, que responde por 39% da capacidade de processamento de petróleo do país.

Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul possuem duas refinarias cada um, respectivamente 16,1%, 10,9% e 9,3% de capacidade de refino. Enquanto o Centro-Oeste não tem nenhuma unidade de refino, o Norte conta com a unidade de Manaus.

“É fato que a maioria delas encontra-se mais perto da costa. E que há uma certa proximidade entre as principais áreas de produção de petróleo e as refinarias. Portanto, apenas 10 das 27 unidades da Federação abrigam refinarias”.

Embora o Estado de São Paulo seja o maior produtor nacional de derivados de petróleo, nenhuma refinaria se localiza na capital paulista - a com maior capacidade de refino no país é a Refinaria de Paulínia - situada no município de mesmo nome, totalizando 433 997,7 barris/dia.

Por que o consumo de energia no mundo é tão desigual?

Alguns países, por terem mais indústrias ou até mesmo maior população, precisam consumir mais que outros. Geralmente são países muito mais evoluidos industrialmente que consomem mais energia. Alguns países, por terem mais indústrias ou até mesmo maior população, precisam consumir mais que outros.

Como a desigualdade social impacta a distribuição de energia?

“O relatório sobre o ODS 7 mostra que 90% da população mundial tem agora acesso à eletricidade, mas as disparidades exacerbadas pela pandemia, se não forem tratadas, podem manter a meta de energia sustentável fora do alcance, prejudicando outros ODS e os objetivos do Acordo de Paris”, disse a diretora gerente de ...

Quem é responsável pela distribuição de energia elétrica?

As empresas distribuidoras de energia (públicas ou privadas) são responsáveis pela entrega de energia e, assim como acontece com o sistema de transmissão, a distribuição é constituída por fios condutores, transformadores e equipamentos de medição, controle e proteção das redes elétricas.

Quais as principais dificuldades encontradas no setor de distribuição de energia com relação às diferenças encontradas territorialmente no Brasil?

No Brasil, a despeito das dificuldades encontradas hoje, como o aumento da inadimplência, o desequilíbrio entre oferta e demanda e a dificuldade de recuperação de investimentos, os agentes do setor elétrico, principalmente as distribuidoras, precisam se preparar para grandes desafios no médio e longo prazos.