Em qual estado brasileiro se localiza o parque nacional do xingu

O Território do Xingu é uma forte referência da diversidade socioambiental da Amazônia Brasileira, pois se constitui em um dos mais extensos conjuntos de áreas protegidas interligadas do mundo, que abriga uma altíssima diversidade socioambiental, abrangendo 2 biomas (Amazônia e Cerrado) com centenas de paisagens florestais e abrigando diversos povos com cultura e línguas diferentes.

Estas características, aliadas a existência de um conjunto de instituições que se articularam e promovem as cadeias de produtos agroextrativistas, constituem uma base de governança fundamental para que o território Xingu fosse escolhido como o primeiro Território de Diversidade Socioambiental pelo selo Origens Brasil®.

A formação do território Xingu de diversidade socioambiental, se deu ao longo dos últimos 50 anos, como resultado de atos governamentais voltados ao reconhecimento dos direitos territoriais das populações tradicionais e povos indígenas que habitam a bacia do Xingu e ao estabelecimento de áreas de proteção da biodiversidade regional.

O Parque Indígena do Xingu é uma referência importante nesta trajetória de construção do território do Xingu. Idealizado pelos irmãos Villas-Bôas e criado em 1961 pelo então presidente Jânio Quadros, o Parque foi a primeira grande área indígena multiétnica reconhecida e demarcada no país. Sua criação, na época, teve como motivação tanto a proteção das paisagens florestais quanto a proteção das populações indígenas que habitavam a região. Com 2,6 milhões de hectares o Parque abriga hoje 16 povos que falam diferentes línguas.

O Território do Xingu se encontra na fronteira agrícola da Amazônia, região que está sob intensa pressão do agronegócio e de atividades ilegais ligadas à grilagem, exploração madeireira e desmatamento. A região abriga alguns dos principais municípios responsáveis pelas maiores taxas de desmatamento da Amazônia nos últimos anos.
Apesar dessas pressões, o Território Xingu ainda encontra-se conservado, graças às áreas protegidas, que formam um dos maiores corredores contínuos do mundo, abrigando 21 Terras Indígenas e 9 Unidades de Conservação de diferentes categorias.

# Categoria Nome da área protegida Etnia ou Grupo Social Área (Ha) População
1 Terra Indígena Apyterewa Parakanã 773.000 452
2 Terra Indígena Arara Arara 274.010 274
3 Terra Indígena Araweté / Igarapé Ipixuna Araweté 940.900 397
4 Terra Indígena Badjônkôre Kayapó 221.981 230
5 Terra Indígena Batovi Wauja 5.159 17
6 Terra Indígena Baú Kayapó 1.540.930 188
7 Terra Indígena Cachoeira Seca do Iriri Arara 760.000 87
8 Terra Indígena Capoto/Jarina Kayapó
Tapayuna
634.915 1.388
9 Terra Indígena Ituna/Itatá Isolados 138.000 Isolados
10 Terra Indígena Kararaô Kayapó 330.838 54
11 Terra Indígena Kayapó Kayapó 3.284.005 4.536
12 Terra Indígena Koatinemo Asurini do Xingu 387.834 154
13 Terra Indígena Kuruáya Kuruáya 166.784 159
14 Terra Indígena Menkragnoti Kayapó 4.914.255 984
15 Terra Indígena Panará Panará 499.740 480
16 Terra Indígena Parque Indígena do Xingu Aweti Ikpeng Kawaiweté Kalapalo Kamaiurá Kĩsêdjê Kuikuro Matipu Mehinako Nahukuá Naruvotu Tapayuna Trumai Waurá Yawalapiti

Yudja

2.642.004 4.829
17 Terra Indígena Pequizal do Naruvôtu Naruvotu 27.980 69
18 Terra Indígena Terena Gleba Iriri Terena 30.479 680
19 Terra Indígena Trincheira-bacajá Kayapó 1.650.939 746
20 Terra Indígena Wawi Kĩsêdjê
Tapayuna
150.328 375
21 Terra Indígena Xipaya Xipaya 178.724 84
22 Unidade de Conservação
(Proteção Integral)
ESEC Terra do Meio - 3.373.110 -
23 Unidade de Conservação
(Uso Sustentável)
FLONA Altamira - 689.012 47
24 Unidade de Conservação
(Uso Sustentável)
FLOTA/FES Iriri - 440.493 -
25 Unidade de Conservação
(Proteção Integral)
PARNA Serra do Pardo - 445.392 -
26 Unidade de Conservação
(Proteção Integral)
PES Xingu - 95.024 -
27 Unidade de Conservação
(Proteção Integral)
REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo - 342.478 -
28 Unidade de Conservação
(Uso Sustentável)
RESEX Rio Iriri Extrativista 398.938 285
29 Unidade de Conservação
(Uso Sustentável)
RESEX Rio Xingu Extrativista 303.841 250
30 Unidade de Conservação
(Uso Sustentável)
RESEX Riozinho do Anfrísio Extrativista 739.303 279
26.380.396 17.044

Esse corredor de áreas protegidas (Terras Indígenas e Unidades de Conservação), vitalizado com o protagonismo dos povos que lá residem, têm funcionado como uma barreira efetiva ao desmatamento regional. Analisando imagens de satélite da região, se compararmos o desmatamento ocorrido dentro do corredor com o ocorrido no seu entorno, é possível visualizar claramente que o desmatamento do entorno é abrangente e desordenado e que o Território de Diversidade Socioambiental do Xingu vem cumprindo um papel fundamental na proteção das florestas, da biodiversidade da região e dos serviços ambientais associados.

A diversidade sociocultural é um dos maiores patrimônios de uma nação. O Brasil ostenta uma das populações histórica e culturalmente mais diversificada do mundo. São 246 povos indígenas, uma imensidão de descendentes africanos, de migrantes europeus e asiáticos, de árabes, de judeus; são caiçaras, caboclos ribeirinhos, camponeses extrativistas, colonos, populações rurais e urbanas das mais diferentes origens étnicas. As populações tradicionais e povos idígenas do Xingu representam uma parcela importante da nossa diversidade sociocultural que está intrinsecamente associada a um território de diversidade socioambiental.

O Alto Xingu é uma das principais áreas da Amazônia Brasileira onde se pode ver até hoje a continuidade da ocupação indígena desde os tempos pré-históricos até o presente. Estudos arqueológicos mostram que por volta de 1.400 d.c, as aldeias na região alcançaram proporções imponentes, entre 20 e 50 ha , tamanho equiparável às maiores aldeias existentes nas terras baixas da América do Sul naquela época. Estima-se que em cada aldeia viviam cerca de 1.000 índios e que a oeste do rio Culuene, viviam aproximadamente 10 mil índios. Naquele período estabeleceu-se o padrão cultural da tradição altoxinguana, reconhecível arqueologicamente por uma indústria de cerâmica distinta, padrão de aldeamento e aldeias circulares com praça central. Esse padrão persiste intacto até hoje na maior parte dos povos que habitam atualmente o Parque Indígena do Xingu como os Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nafukuá, Naruvôtu, Waurá e Yawalapiti.

Somente dentro do Território do Xingu são 26 povos, com costumes e línguas diferenciadas, somando mais de 17.000 pessoas que vêm historicamente atuando como guardiões deste imenso território.

Estes povos possuem uma relação intrínseca com a floresta e um conjunto de saberes e práticas associadas ao manejo dos recursos naturais. Ele diz respeito aos sistemas de conhecimento – saberes em si e modos de transmissão – associado à cultura material, imaterial e a biodiversidade, que são repassados de geração para geração, e que constitui a base para a reprodução social e cultural destes povos.

O manejo tradicional dos recursos florestais realizado por eles, geralmente está associado ao uso de múltiplos produtos, reduzindo a demanda e pressão sob poucas espécies, e realizados em uma escala e intensidade de baixo impacto sobre a floresta e sua biodiversidade.

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