Por que Nelson Mandela foi o primeiro membro de sua família a frequentar a escola

Rolihlahla, Tata ou Madiba. Esses foram alguns nomes usados para se referir ao homem que dedicou sua vida a promover igualdade, democracia e acabar com um dos sistemas mais perversos da humanidade, o apartheid. Foram 27 anos de prisão, perseguições e muita resistência. E hoje, ainda é uma referência quando falamos de luta contra o racismo. Nelson Mandela, ex-presidente sul-africano,  alterou o rumo da história. 

Seu impacto na humanidade foi tão importante que, em 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, pela primeira vez, uma data em homenagem a uma personalidade. Em 18 julho, dia do nascimento do líder político, é comemorado o Dia Internacional de Nelson Mandela. Além de promover uma reflexão sobre a igualdade entre os povos e justiça social, a ideia da instituição foi propor que todo ano nessa data, as pessoas dediquem 67 minutos para serviços comunitários, representando os 67 anos que ele dedicou aos direitos humanos.

Conhecer a trajetória de Mandela é estudar história. Por isso, separamos alguns destaques de sua vida, que ajudam a entender melhor sua relevância no contexto mundial e seu legado no combate ao racismo.

Infância e juventude

Nascido de uma família de nobreza tribal, Nelson Mandela foi o primeiro integrante de sua família a concluir a educação formal. Em sua juventude, ingressou na universidade Fort Hare, a primeira instituição de ensino superior sul-africana a ministrar cursos para negros. Pinterest/Divulgação

Nascido em 18 de julho de 1918, na África do Sul, recebeu o nome de Rolihlahla, que significa “puxar o galho de uma árvore” ou, popularmente, “encrenqueiro”. Ele só passou a ser chamado de Nelson quando entrou na escola, por ser um nome inglês. Isso acontecia com muitas crianças sul-africanas, para facilitar a pronúncia dos colonizadores brancos. 

Posteriormente, também seria chamado de Madiba (em referência ao clã Thembu ao qual pertencia) e Tata (na língua da tribo Xhosa, a palavra significa “pai”, no caso, pai da África do Sul democrática).

Foi o primeiro de sua família a ir para a escola e receber educação formal. Na época, era raro que crianças negras frequentassem uma instituição de ensino. Depois, em 1943, Mandela se formou em Direito na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo.

Começou a se envolver com movimentos estudantis a favor da igualdade de direitos e, depois de se formar, tornou-se o primeiro negro a abrir um escritório de advocacia na cidade. 

A luta contra o apartheid

Essa placa usada na época do Apartheid expressa que só os brancos poderiam utilizar determinado lugar/serviço Pinterest/Divulgação

O apartheid foi um regime de segregação racial que ocorreu entre 1948 e 1994 na África do Sul. Em africâner, idioma falado no país, apartheid significa “separação”. O sistema foi instituído pelas elites brancas que controlavam o país, que defendiam a “superioridade da raça branca”. 

O objetivo era restringir de forma institucional, por meio de leis, direitos sociais e políticos de negros. Entre as regras impostas, os negros não poderiam frequentar os mesmos lugares que os brancos, ter a posse de terras, circular livremente pelo território ou participar de decisões políticas. 

Nesse contexto, a principal organização política que se formou para combater o regime foi o Congresso Nacional Africano (CNA), do qual Mandela fez parte e se tornou a figura central de liderança. 

Embora o apartheid tenha sido condenado pela ONU em 1973, que até retirou o país da Assembleia Geral, a violência contra os negros continuou ocorrendo no território sul-africano.

Mandela era um líder que defendia a resistência pacífica, o diálogo e a desobediência civil. Mas, a partir de 1960, com o endurecimento da repressão e após o Massacre de Sharpeville, no qual 69 pessoas negras morreram em confronto com a polícia, ele passou a incentivar a criação de um grupo armado. 

“O ideal de uma sociedade democrática e livre é um ideal para cuja concretização espero viver. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”, foi uma de suas colocações mais emblemáticas. 

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Prisão

Mandela em sua cela: ex-presidente e seus companheiros foram presos por participação no movimento contra o apartheid. Jurgen Schadeberg/Getty Images

Mandela foi preso em 1962 por participar de protestos e sair do país ilegalmente. Dois anos depois, foi condenado novamente, acusado de traição, conspiração e por seu envolvimento com o CNA, mas, dessa vez, sua pena foi a prisão perpétua. 

Mesmo preso em uma cela de segurança máxima na Ilha Robben, na Cidade do Cabo, Madiba liderava a luta contra o apartheid. Vale destacar que, em 1999, o local se tornou Patrimônio da Humanidade pela Unesco. 

A liberdade veio apenas 27 anos depois, em 1990, após muitas negociações e uma intensa pressão internacional da campanha “Liberte Nelson Mandela”. Uma das pessoas que contribuiu para esse cenário foi Frederick Willem De Klerk, último presidente do apartheid, permitindo a legalização de partidos banidos até então e a liberdade de presos políticos. Isso permitiu que Mandela concorresse às eleições pela presidência. 

Presidência

Fim do apartheid. Em 1994, os sul-africanos, liderados por Nelson Mandela, conseguiram por um fim ao violento regime racista em vigor na África do Sul durante boa parte do século 20. Wikimedia Commons/Divulgação

Quatro anos depois de ser solto, Mandela foi democraticamente eleito o primeiro presidente negro da África do Sul. Foram 5 anos no cargo, completando um mandato.

Confira seu discurso ao assumir a presidência:

Em 1993, foi vencedor do Prêmio Nobel da Paz. A honraria foi concedida a ele e a De Klerk pelo esforço para o fim da segregação racial e por terem realizado uma transição pacífica entre o apartheid e a democracia.

Ao deixar a presidência, também abriu a Fundação Nelson Mandela, focada no auxílio à infância e no combate à Aids.

Legado 

Três anos depois de sua liberdade, Mandela foi vencedor do Prêmio Nobel da Paz. Tornou-se ainda presidente da África do Sul, em 1994. Faleceu em 5 de dezembro de 2013, mas permanece eternizado como pai da moderna nação sul-africana, Pinterest/Divulgação

Mandela morreu em 5 de dezembro de 2013, aos 95 anos, por conta de uma infecção pulmonar. Mas ele segue como um símbolo de resistência, luta e inspiração. 

“Acho que o maior legado de Mandela foi a cultura de paz que ele criou em torno de um assunto tão feroz. Ele valorizou o diálogo sempre que pôde. As pessoas o admiram muito, por conta da forma que ele se colocou e não incitou o ódio. Mas acho importante ressaltar que existem muitas formas de reivindicação e que elas se complementam. Os avanços que temos hoje em torno da pauta racial foi a junção de várias formas de pleito, desde as mais ‘violentas’ até as mais ‘calmas’ nesse sentido”, explica Juliana Bueno, professora de Cultura Popular Brasileira na Camino School, em São Paulo.

Ela organiza um projeto, que inclui aulas sobre temas como representatividade, apropriação cultural e racismo. E, segundo a professora, é importante que as crianças conheçam desde cedo a trajetória de Mandela. “Primeiro, pela questão da representatividade e, também, por conta de sua história, já que é um homem negro, com uma vida pessoal intensa e uma luta pelo fim da segregação racial mais intensa ainda. Ele é um símbolo de luta pela paz e pela igualdade racial”, completa. 

Quer se aprofundar mais na história de Mandela? Também fizemos uma lista com filmes e documentários que exploram suas batalhas e conquistas – que não foram poucas. Madiba fez muito pelos direitos humanos e deixou um legado que merece ser sempre relembrado. 

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