Como o filósofo Sócrates produzia o seu conhecimento filosófico?

Com este depoimento dou início a uma série dedicada aos grandes vultos da humanidade, pois considero que é muito importante que os escolares dos diferentes níveis conheçam aquelas pessoas de projeção universal que, com os seus grandes valores, muito contribuíram para os diferentes campos da cultura, da educação, do desenvolvimento humano e científico, da paz, da ecologia, da fraternidade entre povos e pessoas, da filosofia e do pensamento, da democracia, da luita contra a escravidão e de tudo aquilo que for positivo para o mundo, a sociedade e a vida de todos os seres humanos. Analisando a biografia, obra e pensamento de todos estes vultos, os escolares hão poder refletir sobre a ação e pensamento de todos eles, tomando posturas certas nas suas próprias vidas, ao poder seguir o exemplo de aqueles, utilizando o método comparativo que já na antiguidade propunha Plutarco.

Em sucessivos depoimentos daremos a voz a vultos tão extraordinários como: Buda, Rigoberta Menchú, Confúcio, Gandhi, Lincoln, Jesus, Salvador Allende, Kant, Mandela, Hélder Câmara, Freud, Luther King, Madame Curie, Fleming, Voltaire, Benjamim Franklin, Rammohun Ray, Ellen Key, Agostinho de Hipona, Carlos Marx, Goethe, Descartes, Platão, Aristóteles, Quintiliano, Séneca, Leonardo da Vinci, Camões, Luis Vives, Pascal, Darwin, Einstein, Tagore, Sartre, Isadora Duncan, Wittgenstein, Condorcet, Alfred Nobel, etc.

Sócrates (470 a.C-399 a.C.) foi um filósofo grego, sendo referência central na filosofia do Ocidente. O princípio de sua filosofia estava na frase “Conhece-te a ti mesmo”. Não deixou obra escrita, mas outros filósofos como Platão, Xenofonte, Aristófanes e Aristóteles, se encarregaram de propagar sua filosofia. Nasceu em Atenas, no ano de 470 a.C. Filho do escultor e pedreiro Sofronisco e da parteira Fenarete, da sua infância nada se sabe. Homem feito, chamava atenção não só pela sua inteligência mas também pela estranheza de sua figura e seus hábitos. Corpulento, baixo, nariz chato, boca grande, olhos saltados, vestes rotas, pés descalços, costumava fiar horas mergulhado em seus pensamentos. Quando não estava meditando solitário, conversava com seus discípulos, procurando ajudá-los na busca da verdade. Antes de Sócrates surgir no panorama intelectual da Grécia, os filósofos estavam voltados para a explicação natural do universo, fase que ficou conhecida como pré socrática. No final do século V a.C. iniciou-se a segunda fase da filosofia grega, conhecida como socrática ou antropológica, onde a preocupação de maior vulto se relacionava com o indivíduo e a organização da humanidade. Passaram a perguntar: O que é a verdade? O que é o bem? O que é a justiça.

Sócrates criou um método de investigação do conhecimento através da maiêutica “técnica de trazer a luz” no qual, por meio de sucessivas questões, se chegava à verdade. Esse caminho usado por Sócrates era um verdadeiro “parto”, onde ele induzia os seus discípulos a praticarem mentalmente a busca da verdade última. O princípio da filosofia de Sócrates estava na frase “conhece-te a ti mesmo”. Antes de lançar-se em busca de qualquer verdade, o homem deve antes analisar-se e reconhecer sua própria ignorância. Sócrates inicia sua discussão e conduz seu interlocutor a tal reconhecimento, através do diálogo, que a primeira fase do seu método em busca da verdade. Para ele existiam verdades universais, válidas para toda a humanidade em qualquer espaço e tempo. Para encontrá-las era necessário refletir sobre elas, descobrir suas razões. Conta-se que no Oráculo de Delfos, o deus Apolo declarou que Sócrates era o homem mais sábio de Atenas, e Sócrates que costumava dizer: “Só sei que nada sei”, frase que se tornou síntese de seu pensamento, concluiu que era sábio porque era o único que sabia que nada sabia.

Política e moral eram temas frequentes em Atenas. Sócrates achava que a Pólis grega deveria ser governada por aqueles que detinham o conhecimento, uma espécie de “aristocracia dos sábios”. O filósofo não era a favor da democracia grega como era praticada em Atenas.

Sócrates acreditava na imortalidade da alma. Foi com essa crença que, condenado à morte pelos governantes de Atenas, acusado de corromper a juventude e de desrespeito aos deuses, não aceitou ajuda para fugir da cidade. Da condenação à sua sentença, Sócrates preferiu manter-se em Atenas, aproveitando o momento para discutir a imortalidade da alma com seus alunos. Foi condenado a tomar cicuta, um tipo de veneno letal. Morreu em 399 a. C.

São interessantes aquelas suas frases nas que diz:

Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e serás sábio.”

Transforme as pedras que você tropeça nas pedras de sua escada.”

O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu carácter.”

Chamo de preguiçoso o homem que podia estar melhor empregado.”

É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal.”

Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.”

Quatro características deve ter um juiz: ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente.”

A ociosidade é que envelhece, não o trabalho.”

Quem melhor conhece a verdade é mais capaz de mentir.”

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Título original: Socrate (Sócrates). Coprodução: Itália-Espanha-França.


Diretor: Roberto Rossellini (Itália, 1971, 120 min., cor. Pata TV).

Roteiro: Roberto Rossellini, Renzo Rossellini, Jean-Dominique de la Rochefoucauld e Marcella Mariani. Fotografia: Jorge H. Martín. Música: Mario Nascimbene.

Atores: Jean Sylvère, Anne Caprile, Giuseppe Mannajuolo, Ricardo Palacios, Antonio Medina e Julio Morales.

Argumento: Esta superprodução europeia é a cinebiografia de Sócrates (470 – 333 a.C.), um dos maiores filósofos da Humanidade. Editado o filme em DVD, traz ainda um revelador depoimento de Roberto Bolzani, professor de Filosofia (USP) e especialista em filosofia socrática. Rossellini mostra o final da vida de Sócrates, em especial seu julgamento e sua condenação à morte, com destaque para os célebres diálogos socráticos: “Apologia”, discurso de defesa do filósofo; “Críton”, em que um dos seus discípulos tenta convencê-lo a fugir da prisão; e “Fédon”, com seus últimos ensinamentos antes de tomar a cicuta. Este filme é mais uma aula de cinema de Rossellini e um programa obrigatório para os interessados em Filosofia.

Nota: Pode ver-se legendado entrando em:

//www.youtube.com/watch?v=SlJSF-V6yBA

O PECULIAR MÉTODO EDUCATIVO DE SÓCRATES:

Sócrates foi o criador do que hoje é chamado de Método Socrático, uma técnica de ensino e investigação, que utiliza uma forma de inquisição dialética. Diferente de debates direcionados a persuadir o opositor, o Método Socrático manifesta a oposição de Sócrates à retórica como uma forma de arte que visa agradar os ouvintes e também à oratória, que convence por vias emocionais, não requerendo lógica ou prova. Seu método era o de dividir o problema em questão, a matéria do debate, em questões menores, que em tese poderiam ser respondidas com maior facilidade ou ao menos levariam o interlocutor a olhar o problema por todos os ângulos, entendendo as possibilidades lógicas da questão, eliminando as contradições e, em ultima análise, gradualmente levando ambos à solução do problema em questão. É um método negativo de eliminação de hipótese, no qual uma hipótese é levantada, questionada e busca-se demonstrar que ela leva a contradições, caso em que seria inaceitável. Caso não seja possível demonstrar que tal hipótese leva a contradições, a mesma deverá ser considerada um candidato aceitável à posição de verdade.

Sócrates é ainda creditado por Aristóteles como o primeiro filósofo a buscar definições universais para as virtudes morais, tendo contribuído para as áreas da epistemologia, procurando entender a extensão do conhecimento humano; política, em que defendia o filósofo como governante ideal, sendo interpretado por alguns estudiosos como um crítico da democracia; ética, em que defendia que a melhor forma de viver é focar na virtude; entre outros temas. Sócrates foi considerado pelos seus contemporâneos como um “sofista”, embora se tenha oposto a eles na intenção e conteúdos dos seus ensinos. Procurava nos seus discípulos não tanto o sucesso e a habilidade na vida, quanto a conquista da verdade e a virtude. Ao contrário dos sofistas, não cobrava pelo seu ensino, vivendo com grande austeridade. Coincidia com os sofistas em ser um inovador audaz em ideias e métodos e em considerar-se condutor da juventude por novas veredas. Foi um homem valente em todos os sensos, tanto na vida quotidiana como nas luitas contra os inimigos de Atenas.

Em matéria educativa Sócrates colocava em primeiro plano o elemento ético e ao pensar que a educação era antes que nada uma questão de capacidades naturais e de um simples método, que as faça florescer, neste caso o método da maiêutica, também chamado interrogativo, que era uma espécie de método heurístico, de investigação e descoberta da verdade, e ao mesmo tempo um método didático. Com esta estratégia submetia o seu interlocutor a uma série de perguntas subtis e intencionadas, de aparente simplicidade, nas quais ele desde o início costumava alegar (fase inicial da ironia) a sua total ignorância sobre o tema (é por isto que dizia: “só sei que não sei nada”). Ufano o seu interlocutor da ignorância de Sócrates, tendia a expor as suas opiniões como definitivas. O “mestre” Sócrates pela sua parte, com diferentes objeções, questionava-as, até obrigá-lo também a confessar a sua própria ignorância. Etapa da maiêutica, a partir da qual Sócrates tratava de conduzi-lo à melhor compreensão da questão através de diversos exemplos e considerações.

Este método consistia basicamente em ajudar a dar à luz, por meio de hábeis perguntas, uns conceitos e uma compreensão das cousas que, a julgar por Sócrates, estavam já presentes no interior do espírito do interrogado. Sócrates entendia que a função do mestre era fundamentalmente a de provocador no bom senso, e de despoletador, de incitação e ajuda, de exercício de uma parteira psíquica e intelectual. Sócrates foi antes de nada o criador de uma atitude ética e humana, que serviu de guia educativo para os seus discípulos e para as gerações seguintes.

Segundo Sócrates, o mestre é guia da civilização, e deve procurar sempre a verdade embora seus contemporâneos se oponham a isto. Ao mestre exige, especialmente, integridade. Em matéria de educação, Sócrates era, principalmente, um moralista e interessava-se pouco pela ciência. Considerava que a natureza era menos importante que o problema do homem. Ele não era somente um teórico, como também vivia em concordância com os seus ideais pedagógicos. Acreditava que o rico e o pobre, o sábio e o ignorante, o jovem e o velho, todos necessitavam de uma verdadeira educação. Mas achava que a educação era um processo espontâneo, o que hoje entendemos como educação difusa ou informal. Por isso ministrava o seu peculiar ensino ao ar livre, normalmente nos pórticos dos templos. E os seus temas principais (o seu currículo) eram a virtude, a verdade e a imortalidade. Criava ao seu redor uma verdadeira serenidade, ausente de toda ansiedade, e isto produzia equilíbrio emocional nos seus discípulos. Outro dos seus temas preferidos era a dignidade e a função do mestre deve ser o despertar o homem comum, para que adquira a consciência de si mesmo, dando significado à sua vida, fomentando a sua curiosidade e desenvolvendo as suas atitudes sociais positivas. Para transformar a sociedade é necessário combinar a moral e a ética com a inteligência. O verdadeiro mestre ou educador tem de ter ideais, e se não os tiver nunca será um bom educador ou docente.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica: planos, contraplanos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques cinematográficos, etc.) e o fundo do filme antes resenhado, realizado por Roberto Rossellini.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Sócrates e o seu método didático. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, murais, aforismos socráticos, textos, lendas, livros e monografias.

Com a ajuda dos docentes correspondentes, podemos realizar um jogo dramático ou uma dramatização, em que as personagens representadas sejam Sócrates e os seus discípulos. O cenário teria que ser a cópia dum pórtico dum templo ateniense. Antes teríamos que redigir um roteiro com palavras socráticas para desenvolver o seu método da maiêutica e da ironia. Mesmo se temos câmara podemos filmar a representação dramática que realizemos.

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É Professor de EGB em excedência, licenciado em Pedagogia e graduado pela Universidade Complutense de Madrid. Conseguiu o Doutoramento na UNED com a Tese Tagore, pioneiro da nova educação. Foi professor na Faculdade de Educação de Ourense (Universidade de Vigo); professor-tutor de Pedagogia e Didática no Centro Associado da UNED de Ponte Vedra desde o curso 1973-74 até à atualidade; subdiretor e mais tarde diretor da Escola Normal de Ourense. Levou adiante um amplíssimo leque de atividades educativas e de renovação pedagógica. Tem publicado inúmeros artigos sobre temas educativos e Tagore nas revistas O Ensino, Nós, Cadernos do Povo, Vida Escolar, Comunidad Educativa, Padres y Maestros, BILE, Agália, Temas de O ensino, The Visva Bharati Quarterly, Jignasa (em bengali)... Artigos sobre tema cultural, nomeadamente sobre a Índia, no Portal Galego da Língua, A Nosa Terra, La Región, El Correo Gallego, A Peneira, Semanário Minho, Faro de Vigo, Teima, Tempos Novos, Bisbarra, Ourense... Unidades didáticas sobre Os magustos, Os Direitos Humanos, A Paz, O Entroido, As árvores, Os Maios, A Mulher, O Meio ambiente; Rodrigues Lapa, Celso Emílio Ferreiro, Carvalho Calero, São Bernardo e o Cister em Ourense, em condição de coordenador do Seminário Permanente de Desenho Curricular dos MRPs ASPGP e APJEGP.

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Como o filósofo Sócrates produzia o seu conhecimento filosófico?

Seu método para chegar ao verdadeiro conhecimento foi à ironia e a maiêutica. E a base de sua filosofia foi a frase: “Só sei que nada sei”, ou seja, reconhecer a própria ignorância é o caminho da construção do verdadeiro conhecimento.

Como se dá o conhecimento em Sócrates?

O autoconhecimento era um dos pontos fundamentais para Sócrates, "conhece-te a ti mesmo", o saber não era algo que vinha de fora do homem e sim de si mesmo, ao interrogar a si mesmo.Na medida em que Sócrates desenvolve diálogos críticos com seus interlocutores,como que num ato de "dar a luz" conseguia que os mesmos ...

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