O que afeta o eu lírico?

(UFPA)

Se eu podess’ora meu coraçon,

Senhor1, forçar e poder-vos dizer

quanta coita2 mi fazedes sofrer

por vós, cuid’eu, assi Deus mi perdon,

que haveríades doo3 de mi.

Ca4, senhor, pero me fazedes mal

e mi nunca quisestes fazer bem,

se soubéssedes quanto mal mi vem

por vós, cuid’eu, par Deus que pod’e val5,

que haveríades doo de mi.

E, pero mi havedes gran desamor,

se soubéssedes quanto mal levei

e quanta coita, des que vos amei,

por vós, cuid’eu, per boa fé, senhor,

que haveríades doo de mi.

E mal seria se nom foss’assi.

(D. Dinis. In Portal Galego da Língua: Cantigas trovadorescas. Disponível em: //agalgz.org)

1 – Senhor: senhora. 2 – Coita: sofrimento de amor. 3 – Doo: dó. 4 – Ca: porque. 5 – Val: valer, ajudar.

Considerando-se que o texto transcrito é uma cantiga de amor, é correto afirmar, sobre esse tipo de produção poética, que

a) o trovador, de acordo com as regras do amor cortês, ao cantar a alegria de amar, na cantiga de amor, revela em seus poemas o nome da mulher amada.

b) o homem, nesse tipo de composição poética, nutre esperanças de um dia conquistar a mulher amada, que, mesmo sendo imperfeita, é objeto de desejo.

c) na lírica trovadoresca, essa modalidade de cantiga caracteriza-se por conter a confissão amorosa da mulher, que lamenta a ausência do namorado que viajou e a abandonou.

d) o trovador se coloca no lugar da mulher que sofre com a partida do amado e confessa seus sentimentos a um confidente (mãe, amiga ou algum elemento da natureza).

e) o eu-lírico é um homem apaixonado que sofre e se coloca na posição de servo da “senhor”; a mulher (ou o seu amor) é vista como algo inatingível, aspecto que confere à cantiga de amor um tom lamentativo.

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

 

Fernando Pessoa

O poema que você leu agora é de autoria daquele que é considerado o maior poeta da língua portuguesa: Fernando Pessoa. Pessoa provou, com seus vários heterônimos, que o poeta não cabe no poema; sua genialidade fez nascer outros tipos, diferentes abordagens e estilos. Talvez Fernando Pessoa seja a maior prova de que o poeta entrega seus versos para o verdadeiro dono do poema: o eu lírico.

Você sabe o que é eu lírico? Existem outras denominações, como eu poético e sujeito lírico, mas o termo mais conhecido e divulgado é este: eu lírico. Esse termo designa uma espécie de narrador do poema, e assim seria chamado se não estivéssemos falando dos textos literários, sobretudo do gênero lírico. Quando você lê um poema e percebe a manifestação de um “eu literário”, aquela voz, aquela personagem presente nos versos, não é necessariamente o autor real do poema.

É preciso compreender a diferença entre o poeta e o eu lírico. Não devemos confundir a pessoa real com a entidade fictícia. Claro que o poema não está isento da subjetividade de seu criador, mas no momento da escrita uma nova entidade nasce, desprendida da lógica e da compreensão de si mesmo, fatores que nunca abandonam quem escreve os versos (autor/poeta). Observe a construção do eu lírico na canção de Chico Buarque:

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“Se acaso me quiseres 
Sou dessas mulheres que só dizem sim
Por uma coisa à toa 
Uma noitada boa 
Um cinema, um botequim 
E se tiveres renda 
Aceito uma prenda 
Qualquer coisa assim 
Como uma pedra falsa 
Um sonho de valsa 
Ou um corte de cetim 
E eu te farei as vontades 
Direi meias verdades 
Sempre à meia luz 
E te farei, vaidoso, supor 
Que és o maior e que me possuis 
Mas na manhã seguinte 
Não conta até vinte, te afasta de mim 
Pois já não vales nada 
És página virada 
Descartada do meu folhetim”.

 

(Folhetim – Chico Buarque)

Temos, em algumas canções de Chico Buarque (vide Com açúcar, com afeto; Atrás da porta, Iolanda, Anos Dourados, Teresinha, Palavra de mulher e tantas outras), um exemplo claro de manifestação do eu lírico. No caso das canções citadas, o eu lírico fica ainda mais evidente, pois a despeito do poeta, nos versos temos a presença de um eu lírico feminino, que retrata diversos temas sob o ponto de vista das mulheres. Não fica claro, então, que o poeta e o eu lírico são elementos diferentes no gênero lírico?

Podemos concluir que o eu lírico é a voz que fala no poema e nem sempre essa voz equivale à voz do autor, que pode vivenciar outras experiências, que não as do poeta (como fica claro na canção Folhetim, de Chico Buarque). O eu lírico é o recurso que possibilita a criatividade do autor. Já pensou se ele não existisse? Estaria eliminada a criatividade dos sentimentos poéticos. Graças a esse importante e interessante elemento, os sentidos são pluralizados, o que torna os textos poéticos tão peculiares e belos.

O que afeta o eu lírico no poema Sentimento do Mundo?

Neste poema o eu lírico suspende todos os sentimentos, o amor, o ódio, pois o tempo é do medo. O medo é um sentimento internacional, mundial. O eu solitário está inserido no mundo e tem este sentimento em mãos.

O que afeta o eu lírico Brainly?

Resposta verificada por especialistas a) O que afeta o eu lírico é o sentimento de incapacidade e impotência diante da guerra.

O que caracteriza o eu lírico?

eu lírico é a voz que enuncia o poema. Pode ser mais próximo ou mais distante do autor, mas jamais deve ser confundido com o poeta. O eu lírico é um elemento fundamental da poesia.

Como saber a quem se dirige o eu lírico?

O eu-lírico se dirige ao leitor, com a finalidade de convencê-lo a visitar o lugar descrito no poema e permanecer ali.

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