O longa A Teoria de Tudo teve seu lançamento em 2014. Desde então, tem sido um filme de referência, sempre buscado por quem se interessa pela vida e genialidade de Stephen Hawking.
Não é segredo pra ninguém que Hollywood costuma pintar a realidade com cores mais fortes. Por isso, veja a seguir o que é verdadeiro e o que é exagero no filme A Teoria de Tudo – vencedor do Oscar exibido pela TV Globo na Sessão da Tarde.
Stephen Hawking: o gênio da Física
Stephen William Hawking nasceu na cidade de Oxford em 8 de janeiro de 1942 (exatos 300 anos após a morte de Galileu Galilei) e apresentou, desde cedo, um enorme interesse pela ciência.
Em 1959, entrou para a University College de Oxford, onde pretendia estudar Matemática, mas acabou por cursar o programa de Física, formando-se 3 anos depois.
O físico obteve doutorado em Cambridge e foi pesquisador e professor no Gonville and Caius College. Em 1979, entrou para o Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica onde ocupou o cargo de professor lucaisiano de Matemática por 40 anos (posto anteriormente ocupado por Isaac Newton).
Um homem de família
Stephen se casou pela primeira vez em julho de 1965 com Jane Hawking, de quem se divorciou em 1991. Em seguida, o físico casou-se com sua enfermeira, Elaine Mason, em 1995. O relacionamento deles durou até 2006.
Hawking passou a vida se dividindo entre a família (com três filhos e três netos) e sua pesquisa em física teórica junto com um extenso programa de viagens e conferências.
ELA: Esclerose Lateral Amiotrófica
Stephen Hawking era portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa que paralisa progressivamente os músculos do corpo, mas que geralmente não afeta as funções cognitivas.
A doença, que ainda não possui cura, ganhou destaque mundial em 2014, com o viral ‘Desafio do Balde de Gelo‘. Entretanto, foi detectada em Stephen quando ele tinha apenas 21 anos de idade.
Em 1985 o físico teve que se submeter a uma traqueostomia após ter contraído uma pneumonia em uma viagem à Suíça. Desde então, Stephen buscou métodos variados para se comunicar, até chegar no famoso sintetizador de voz.
Pouco a pouco, Stephen foi perdendo o movimento dos braços e pernas, bem como do resto da musculatura voluntária, incluindo a força para manter a cabeça erguida, de modo que sua mobilidade fosse praticamente nula.
Stephen Hawking morreu em casa, em Cambridge, em 14 de março de 2018, aos 76 anos, devido a complicações da doença.
A Teoria de Tudo: real ou ficção?
O filme A Teoria de Tudo teve o roteiro construído com base no livro de memórias da ex-esposa de Stephen, Jane Hawking, intitulado ‘Travelling to Infinity: My Life with Stephen’ [‘Viajando ao infinito: minha vida com Stephen, em tradução nossa].
A primeira queda (quase real)
Uma das cenas mais memoráveis do filme é a primeira queda de Stephen, em um dia normal ao sair do prédio da Universidade de Cambridge. Por conta desse incidente, ele é levado ao hospital e diagnosticado com a Esclerose Lateral Amiotrófica.
Esse fato sofreu alterações para o filme, conforme pode ser comprovado pelo próprio Stephen Hawking em sua autobiografia: Minha Breve História (2013).
“No Natal, quando fui patinar no lago em St. Albans, caí e não consegui me levantar. Minha mãe percebeu esses problemas e me levou ao médico da família”, ele escreveu no livro.
No livro, Stephen segue relatando o diagnóstico, incluindo a expectativa de vida de apenas 2 anos, conforme o filme retratou com mais precisão nessa parte.
Quando Stephen conheceu Jane (falso)
No longa, o espectador é levado a acreditar que Stephen e Jane se conheceram na Universidade e ela só veio a ter conhecimento de seus problemas de saúde após o início do romance.
Conforme a própria Jane relatou em seu livro, não foi bem assim. Eles haviam se conhecido na infância, frequentando a mesma escola.
“Quando entrei no primeiro ano no colégio St. Albans, aos sete anos, […] Nunca conversamos, mas tenho certeza de que essa primeira lembrança é confiável, porque Stephen foi aluno daquela escola naquela época, antes de ir para uma instituição preparatória, a alguns quilômetros dali”, contou.
Mais tarde, na juventude, Jane já havia notado Stephen na Universidade, como uma pessoa claramente diferente dos demais.
“[…] Me senti desconfortável com o jovem que acabara de ver. Talvez houvesse algo sobre sua excentricidade que me fascinara, tendo em vista minha existência bastante convencional. Talvez eu tivesse alguma estranha premonição de que o veria de novo. Fosse o que fosse, aquela cena em si ficou profundamente gravada na minha mente”, diz ela no livro.
O namoro (falso)
Em A Teoria de Tudo, a relação de Stephen e Jane evolui rapidamente, perpetuada pela linda cena do beijo na ponte durante o baile. Contudo, este é mais um detalhe ficcional que em nada se assemelha aos acontecimentos reais.
Conforme narrado pela própria Jane no livro, os encontros eram escassos e o relacionamento estava longe de um tórrido romance de conto de fadas.
“O curso do amor não corria nada bem. Não era preciso muita inteligência para perceber que Stephen não podia contemplar a ideia de embarcar em uma relação estável de longo prazo, por causa do prognóstico sombrio de sua doença”.
Ainda segundo a ex esposa, o pedido de casamento ocorreu por meio de um sussurro de Stephen em um “sábado à noite úmido e escuro”.
Bom-humor e apostas (real)
É possível notar diversas cenas no filme que revelam um lado bastante descontraído de Stephen Hawking. Dentre as brincadeiras, aconteciam apostas científicas, valendo ao vencedor a assinatura de revistas “adultas”.
Stephen confirma esse fato em sua autobiografia.
“Eu estava esperando perder essa aposta, já que eu obviamente fizera um grande investimento intelectual nos buracos negros. Mas, se eles não existissem, pelo menos eu teria o consolo de ganhar uma assinatura de quatro anos da revista Private Eye”, escreveu ele.
Pneumonia e traqueostomia (quase real)
Uma das sequências mais tensas e decisivas do filme mostra os momentos em que Stephen precisou passar por uma traqueostomia (procedimento cirúrgico que faz um orifício artificial na traqueia).
Contudo, enquanto no filme Stephen estaria em um concerto de ópera com alunos na França, o fato aconteceu realmente na Suíça, durante uma visita à Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN).
Nessa viagem, Hawking contraiu uma pneumonia severa e chegou a ficar em coma no hospital.
Cartão de soletração (real)
Após o procedimento de traqueostomia, o físico ficou incapacitado de falar. O filme retrata bem os dramas e desafios desses momentos, segundo confirma o próprio Stephen.
“Por certo tempo, a única maneira que eu tinha para me comunicar era soletrar as palavras, levantando as sobrancelhas quando alguém apontava para a letra certa em um cartão com o alfabeto”.
Final comentado de A Teoria de Tudo
A Teoria de Tudo é um filme que foi feito para ser inspirador, sensível em mostrar uma pequena parte da vida e genialidade de Stephen Hawking. Ele, que foi uma das mentes mais importantes de nossos tempos, e, porque não, de toda a História.
O foco do filme se divide em algumas instâncias, sobretudo no que diz respeito aos desafios na evolução da Esclerose Lateral Amiotrófica e a relação dramática entre Stephen e Jane.
Com o objetivo de mostrar o homem por trás da Física, A Teoria de Tudo não dá conta de abranger todo o imenso caminho científico que Stephen trilhou, mas com certeza desvenda seus aspectos mais humanos.
Talvez conhecer Stephen Hawking como um sujeito brincalhão e teimoso faça quebrar o mito do gênio inatingível, mas vale a pena.
A Teoria de Tudo traz o cientista brilhante para um local de “gente como a gente” e traça toda a jornada desse herói da vida real de uma forma delicada e surpreendente.
A cena final é repleta de sutilezas, mostrando uma retrospectiva da própria vida de Stephen. Isso tem tudo a ver com sua ciência e sua forma de encarar o universo e a vida cotidiana: tudo está interligado numa única “teoria de tudo”.
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