Sempre que vejo um batalhão de jornalistas aproximar-se, qual cardume de piranhas, de um protagonista da nossa vida política com os microfones em riste, penso nas palavras que ouvimos nos filmes de acção americanos. Ao algemar o criminoso, o agente da lei lê-lhe os direitos, dizendo solenemente: «Você tem o direito de permanecer calado. Tudo o que disser poderá ser – e será – usado contra si». Show Por cá, já vimos acontecer muito disso: declarações anódinas tornarem-se uma questão nacional e os discursos mais bem-intencionados voltarem-se contra o autor, como uma espécie de bumerangue. Talvez por ser um país de poetas, em Portugal fala-se de mais e faz-se de menos. Podemos estar à beira da bancarrota ou de uma guerra mundial, mas, quem vir o noticiário, achará que isso é completamente acessório quando comparado com a gafe de um ministro ou as palavras deslocadas do chefe do Governo. Um governante pode roubar, pode mentir, pode ser incompetente ou corrupto. Até pode ser condenado pela Justiça. Mais ai de quem não meça bem as suas palavras e cometa um deslize! Não passou ainda um minuto e já lhe caiu meio mundo – que é como quem diz meio Portugal – em cima, levantando-se vozes a dizer todo o tipo de enormidades: «É um escândalo», «tem de se demitir», «mandem-no para a Sibéria». E assim, com estas questiúnculas, se vai desgastando a nossa classe política, quando podia e devia estar a trabalhar com afinco para o bem comum. Paralelamente, cria-se esta espécie de ruído de fundo mediático que abafa as questões verdadeiramente importantes. Já para não falar nos comentadores, que se digladiam na arena das televisões, discutindo o que este disse ou não disse como se fosse uma questão de vida ou de morte. O problema é que pode ser mesmo uma questão de vida ou de morte, mas não pelos motivos que presumiríamos. É que a guerra das palavras vai fazendo as suas vítimas. Não são apenas os políticos – os portugueses ainda não o perceberam, mas em última análise são os grandes prejudicados e os mais atingidos. p.s. Frank Bruni, crítico gastronómico do New York Times e uma espécie de lenda viva (ninguém sabe quem é, o seu nome verdadeiro, ou sequer se é um homem ou uma mulher), acaba de declarar o seu amor por Lisboa. A Condé Nast, a mais prestigiada revista de viagens, elegeu nove lugares de sonho no Porto. Isto sim, merece ser divulgado. O resto são cantigas. Os comentários estão desactivados.
Editorial da Folha de hoje (11/4/15):
Como se chama o direito de ficar calado?O princípio ou garantia da não autoincriminação consiste que ninguém é obrigado a se autoincriminar, ou mesmo produzir prova contra si mesmo – incluindo o suspeito, o réu ou mesmo a testemunha.
Tem o direito de permanecer calado frase?“Você tem o direito de ficar calado. Tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal”. A frase é muito conhecida entre todos nós e tem sua origem nos Estados Unidos da América no caso Miranda Vs. Arizona, quando Miranda faz essa advertência.
Quais as consequências do silêncio do acusado no interrogatório judicial?198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do convencimento do juiz."
Por que ficar calado?Além disso, quando estamos em silêncio, podemos ouvir o que os demais dizem. Frequentemente, se você ficar de fora das conversas, pode conhecer melhor as pessoas que participam dela, porque você pode observar seus gestos e como elas se expressam. Se você ficar calado, certamente obterá mais benefícios do que desgostos.
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