O que e felicidade

A felicidade é um estado de ânimo que se traduz num sentimento de satisfação. Quem é feliz sente-se à vontade, contente e de bem com a vida. Contudo, o conceito de felicidade é subjectivo e relativo. Não existe qualquer índice de felicidade nem uma categoria que tenhamos de alcançar para nos considerarmos pessoas felizes.

Do ponto de vista biológico, a felicidade é o resultado de uma actividade neural fluida, em que os factores internos e externos estimulam o sistema límbico.

O ser humano costuma sentir felicidade quando alcança os seus objectivos e sempre que consegue superar os diversos desafios na sua vida quotidiana. Nos casos em que isso não acontece, nutre então um sentimento de frustração que leva à perda da felicidade.

As pessoas que se sentem realizadas e plenas tendem a ser mais serenas e estáveis, uma vez que chegam a um equilíbrio entre as cargas emocionais e as cargas racionais.

Há quem seja da opinião de que a felicidade está relacionada com os bens materiais e com o dinheiro, daí existirem frases como “O dinheiro não traz felicidade, mas ajuda”, na medida em que o dinheiro é o meio necessário para a satisfação das necessidades materiais humanas; uma vez satisfeitas, o indivíduo tende a ir à procura de produtos que lhe proporcionem maior felicidade.

Já, as religiões e as pessoas com inclinação pelo lado espiritual associam a felicidade a um estado de alma perante o qual o ser humano se sente em paz. Este estado pode ser alcançado através das relações pessoais ou dos laços com os entres queridos, por exemplo.

Equipe editorial de Conceito.de. (15 de Janeiro de 2012). Conceito de felicidade. Conceito.de. https://conceito.de/felicidade

Felicidade: uma palavra tão antiga e, ao mesmo tempo, tão contemporânea. Mais do que nunca, estamos buscando felicidade.

A felicidade é um tema central de reflexão desde a antiguidade. Filósofos do período helênico construíram amplas concepções sobre o que torna a vida boa de ser vivida. Estes pensamentos foram a base para a pesquisa psicológica sobre a felicidade e o bem-estar nos anos 50 e 60 do séc. XX. A partir de modelos que destacam a felicidade enquanto prazer e virtude, o fenômeno pode ser medido e investigado em termos do seu impacto na qualidade de vida e seus principais preditores. A felicidade, enquanto fenômeno complexo, está constantemente sendo considerada, desde projetos individuais de vida até o planejamento de organizações e Estados.

Há exatamente 10 anos, eu estive envolvida em uma pesquisa chamada “Happiness”, ou seja, “Felicidade”. Esta era uma pesquisa que decorria de uma pesquisa inicial chamada “DNA Brasil” que realizamos e cujo o resultado foi o livro “DNA Brasil  – Tendências e Conceitos e Emergentes para as  Cinco Regiões Brasileiras”, o qual eu fui a organizadora. Realizada nas 5 regiões do país, onde cada participante recebia um “moleskine” e uma máquina fotográfica descartável, a pesquisa “Happiness” tinha como objetivo entender o que era felicidade para os brasileiros.  Durante 7 dias ininterruptos, cada participante precisava fazer  um registro escrito e fotográfico de pelo menos 3 momentos de bem-estar vivenciados no dia. De uma maneira geral, os momentos relacionados à felicidade eram sempre situações ordinárias e nada de extraordinário.  Normalmente eram situações simples do nosso dia-a-dia.

Hoje me deparo, novamente, com este tema em minha vida. Não pelo fato de muitos estarem falando sobre a tal felicidade, mas porque, no curso de pós-graduação em Psicologia Positiva que estou cursando, estamos estudando a Ciência da Felicidade.

Tal Ben-Sharar, professor israelense conhecido por ministrar o curso mais popular e concorrido da história de Harvard sobre “Psicologia Positiva”, e o terceiro curso mais popular da instituição, chamado de “A Psicologia da Liderança” – em que fala sobre a Ciência da Felicidade –, diz que o caminho que o fez estudar a felicidade foi justamente a sua infelicidade.

Por que será que este assunto tem atraído o interesse de tantas pessoas?  Por que vemos tantas pessoas tão infelizes? Vivemos em uma sociedade que nos impõe que sejamos felizes. Que precisamos ir atrás dos nossos propósitos e, erroneamente, muitas pessoas traçam como meta de vida serem felizes.  Segundo Ben-Sharar:

A chave não é encontrar a felicidade, a chave é aumentar os níveis de felicidade. A felicidade não é um ponto final que alcançamos, mas um caminho que percorremos. É possível que a maioria das pessoas, na maioria das vezes, aumente os níveis de felicidade, mesmo que seja um pouco. E esse é o objetivo final da ciência da felicidade.”

Ser feliz não significa sentir prazer o tempo todo. Esta expectativa é errônea e altamente frustrante. Felicidade é viver e desfrutar o momento presente, como também fazer algo com um objetivo futuro, algo que faça sentido a longo prazo.

O psiquiatra australiano W. Béran Wolfe , em 1932, resumiu o que para ele seria felicidade: “Se você observar um homem realmente feliz, ele o encontrará construindo um barco, escrevendo uma sinfonia, educando seu filho, cultivando dálias duplas em seu jardim ou procurando ovos de dinossauro no deserto de Gobi”.

É preciso ter um projeto, seja ele qual for. Objetivos dão sentido à vida, pois o caminho até atingí-los estará repleto de momentos felizes que cada um poderá experimentar.  Ter um propósito, algo que dê sentido à sua vida, te trará felicidade porque, como falei anteriormente, a felicidade não é o objetivo a ser atingido. A felicidade está no caminho a ser percorrido.

Ser feliz significa dar espaço às emoções, sejam elas positivas ou negativas. Sentir medo, angústia, tristeza e ansiedade é natural e humano.  Não podemos alimentar esta cultura exacerbada em que precisamos estar bem o tempo todo. Isso não é real, só gera mais frustração. A felicidade está relacionada ao “ser” (nosso interior) e não ao “ter” ( mundo exterior).  Na pesquisa “Happiness” que desenvolvemos em todo o país, este resultado ficou absolutamente evidente.

Já ouvimos aquela famosa frase: “Dinheiro não traz felicidade”.  E por mais que pareça meio Poliana, é a mais pura verdade. As pessoas mais felizes não são aquelas que tem mais dinheiro, que possuem uma bolsa de marca ou que fez a viagem para a paradisíaca Ilhas Maldivas. O que faz uma pessoa ser feliz está relacionado ao seu comportamento, como vivem cada momento de suas vidas.  São pessoas que valorizam os pequenos prazeres, pois eles estão acessíveis a todo o momento, está no ordinário, nos pequenos prazeres da vida.

Felicidade é continuar desejando aquilo que já se possui. “ Santo Agostinho

Mas acredito que para sermos  mais felizes é preciso aceitar a infelicidade. Sem esta aceitação não existe felicidade.

O que e felicidade

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Crédito da imagem da capa: Reaching For Happiness – Copyright © 2018, Tiffany McFarlane

O que é felicidade? Provavelmente, cada pessoa que resolver responder a esta pergunta apresentará uma resposta própria, pois a felicidade, num certo sentido, é algo individual, pessoal e intransferível. Por outro lado, há uma ideia de felicidade que pertence ao senso comum e é compartilhada pela esmagadora maioria das pessoas: felicidade é ter saúde, amor, dinheiro suficiente, etc. Além disso, a ideia de felicidade não é uma coisa recente. Com certeza, ela acompanha o ser humano há muito tempo e faz parte de sua história.

Sendo assim, é possível traçar a evolução histórica dessa ideia, se nos debruçarmos sobre a disciplina que sempre se dedicou a investigar nossas ideias, de modo a defini-las e esclarecê-las: a filosofia. Na verdade, a ideia de felicidade tem grande importância para a origem da filosofia. Ela faz parte das primeiras reflexões filosóficas sobre ética, que foram elaboradas na Grécia antiga. Vamos, então, acompanhar a evolução histórica dessa ideia fazendo uma viagem pela história da filosofia.

A referência filosófica mais antiga de que se dispõe sobre o tema é um fragmento de um texto de Tales de Mileto, que viveu entre as últimas décadas do século 7 a.C. e a primeira metade do século 6 a.C. Segundo ele, é feliz “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. Vale atentar para a expressão “boa sorte”, pois disso dependia a felicidade na visão dos gregos mais antigos.

Bom demônio

Em grego, felicidade se diz “eudaimonia”, palavra que é composta do prefixo “eu”, que significa “bom”, e de “daimon”, “demônio”, que, para os gregos, é uma espécie de semi-deus ou de gênio, que acompanhava os seres humanos. Ser feliz era dispor de um “bom demônio”, o que estava relacionado à sorte de cada um. Quem tivesse um “mau demônio” era fatalmente infeliz.

Não há dúvida de que, entre os séculos 10 a.C. e 5. a.C, o pensamento grego tende a considerar os maus demônios mais frequentes do que os bons e apresentar uma visão pessimista da existência humana. Não é por acaso que os gregos inventaram a tragédia. Uma expressão radical desse pessimismo nos é fornecido por um velho provérbio grego, segundo o qual “a melhor de todas as coisas é não nascer”.

Foi a filosofia que rompeu com essa visão pessimista e procurou estabelecer orientações para que o homem procurasse a felicidade. Demócrito de Abdera (aprox. 460 a.C./370 a.C.) julgava que a felicidade era “a medida do prazer e a proporção da vida”. Para atingi-la, o homem precisava deixar de lado as ilusões e os desejos e alcançar a serenidade. A filosofia era o instrumento que possibilitava esse processo.

Virtude e justiça

Sócrates (469 a.C./399 a.C.) deu novo rumo à compreensão da ideia de felicidade, postulando que ela não se relacionava apenas à satisfação dos desejos e necessidades do corpo, pois, para ele, o homem não era só o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade era o bem da alma que só podia ser atingido por meio de uma conduta virtuosa e justa.

Para Sócrates, sofrer uma injustiça era melhor do que praticá-la e, por isso, certo de estar sendo justo, não se intimidou nem diante da condenação à morte por um tribunal ateniense. Cercado pelos discípulos, bebeu a taça de veneno que lhe foi imposta e parecia feliz a todos os que o assistiram em seus últimos momentos.

Entre os discípulos de Sócrates, Antístenes (445 a.C./365 a.C.) acrescentou um toque pessoal à ideia de felicidade de seu mestre, considerando que o homem feliz é o homem autossuficiente. A ideia de autossuficiência (que, em grego, se diz “autarquia”,) continuará diretamente vinculada à de felicidade nos setecentos anos seguintes.

Uma função da alma

Mas o maior discípulo de Sócrates, que efetivamente levou a especulação filosófica adiante de onde a deixara seu mestre, foi Platão (427 a.C./347 a.C.), o qual considerava que todas as coisas têm sua função. Assim, como a função do olho é ver e a do ouvido, ouvir, a função da alma é ser virtuosa e justa, de modo que, exercendo a virtude e a justiça, ela obtem a felicidade.

É importante deixar claro que noções como virtude e justiça integram uma vertente do pensamento filosófico chamada Ética, que se dedica à investigação dos costumes, visando a identificar os bons e os maus. Para Platão, a ética não estava limitada aos negócios privados, devendo ser posta em prática também nos negócios públicos. Desse modo, o filósofo entendia que a função do Estado era tornar os homens bons e felizes.

A ligação entre ética e política estará ainda mais definida na obra do mais importante discípulo de Platão, Aristóteles (384 a.C./322 a.C.), o qual dedicou todo um livro à questão da felicidade: a “Ética a Nicômaco” (que é o nome de seu filho, para quem o livro foi escrito). Amigo de Platão, mas, em suas próprias palavras, “mais amigo da verdade”, Aristóteles criticou o idealismo do mestre, reconhecendo a necessidade de elementos básicos, como a boa saúde, a liberdade (em vez da escravidão) e uma boa situação socioeconômica para alguém ser feliz.

Felicidade intelectual

Por outro lado, a partir de uma série de raciocínios que têm como base o fato de o homem ser um animal racional, Aristóteles conclui que a maior virtude de nossa “alma racional” é o exercício do pensamento, pelo quê, segundo ele, a felicidade chega a se identificar com a atividade pensante do filósofo, a qual, inclusive, aproxima o ser humano da divindade.

Sem perder de vista a aplicação prática de suas ideias, Aristóteles considera a política como uma extensão da ética e, nesse sentido, para ele também é uma função do Estado criar condições para o cidadão ser feliz. O Estado que o filósofo tinha em mente, porém, era a “polis” grega, que, naquele momento, estava deixando de existir, com o surgimento do império de Alexandre o Grande.

Depois de Alexandre, no mundo grego ou helênico, desenvolveram-se três escolas filosóficas que vão se estender até o fim do Império romano, as chamadas filosofias helenísticas. Todas elas, por caminhos diferentes, chegam a conclusão de que, para ser feliz, o homem deve ser não só autossuficiente, mas desenvolver uma atitude de indiferença, de impassibilidade, em relação a tudo ao seu redor. A felicidade, para eles, era a “apatia”, palavra que, naquela época, não tinha o sentido patológico que tem hoje.

Prazer e salvação da alma

Entre os filósofos do mundo helênico, pode-se citar Epicuro (341 a.C./271 a.C.), para deixar claro que essa ideia de “apatia” não significa abdicar ao prazer. O prazer era essencial à felicidade para Epicuro, cuja filosofia também é conhecida pelo nome de hedonismo (em grego “hedone” quer dizer “prazer”). Mas ele deixa claro, numa carta a um discípulo, que não se refere ao prazer “dos dissolutos e dos crápulas” e sim ao da impassibilidade que liberta de desejos e necessidades.

Com o fim do mundo helênico e o advento da Idade Média, a felicidade desapareceu do horizonte da filosofia. Estando relacionada à vida do homem neste mundo, ela não interessou aos filósofos cristãos como Agostinho de Hipona (354 d.C./430 d.C.), Anselmo de Canterbury (1033/1109) ou Tomás de Aquino (1225/1274), todos santos da Igreja católica. Para a filosofia cristã, mais do que a felicidade, o que conta é a salvação da alma.

Os filósofos voltaram a se debruçar sobre o tema na Idade Moderna. John Locke (1632/1704) e Leibniz (1646/1716), na virada dos séculos 17 e 18, identificaram a felicidade com o prazer, um “prazer duradouro”. Alguns décadas depois, o filósofo iluminista Immanuel Kant (1724/1804), na obra “Crítica da razão prática” definiu a felicidade como “a condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com o seu desejo e vontade”.

Direito do homem

No entanto, para Kant, como a felicidade se coloca no âmbito do prazer e do desejo, ela nada tem a ver com a Ética e, portanto, não é um tema que interesse à investigação filosófica. Sua argumentação foi tão convincente que, a partir dele, a felicidade desapareceu da obra das escolas filosóficas que o sucederam.

Mesmo assim, não se pode deixar de mencionar que, no mundo de língua inglesa, na mesma época de Kant, a ideia de felicidade ganhou lugar de destaque no pensamento político e buscá-la passou a ser considerada um “direito do homem”, como está consignado na Constituição dos Estados Unidos da América, que data de 1787 e foi redigida sob a influência do Iluminismo.

Egocentrismo e infelicidade

É também no âmbito da filosofia anglo-saxônica, no século 20, que se encontra uma nova reflexão sobre nosso assunto. O inglês Bertrand Russell (1872/1970) dedicou a ele a obra “A conquista da felicidade”, usando o método da investigação lógica para concluir que é necessário alimentar uma multiplicidade de interesses e de relações com as coisas e com os outros homens para ser feliz. Para ele, em síntese, a felicidade é a eliminação do egocentrismo.

Mais recentemente, em 1989, o filósofo espanhol Julián Marías também dedicou ao tema um livro notável, “A felicidade humana”, em que estuda a história dessa ideia, da Antiguidade aos nossos dias, ressaltando que a ausência da reflexão filosófica sobre a felicidade no mundo contemporâneo talvez seja um sintoma de como esse mesmo mundo anda muito infeliz.

  • O que e felicidade

    Os filósofos que fizeram a cabeça do mundo contemporâneo

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Bibliografia

Abbagnano, Nicola - "Dicionário de Filosofia", Martis Fontes, São Paulo, 2000.

Berti, Enrico - "No princípio era a maravilha", Loyola, São Paulo, 2010.

Marías, Julián - "A felicidade humana", Duas Cidades, São Paulo, 1989.