Por que aumentou a gasolina

Por que aumentou a gasolina

Combustível foi um dos itens que mais pesaram no bolso do brasileiro em 2021

  • Gasolina subiu 49,9% em 2021 e dificulta ainda mais a vida do brasileiro

  • Cidadão brasileiro está sofrendo com o aumento de todos os preços

  • Combustível alto é efeito do dólar, que sofreu aumento de 9% no ano

O bolso do brasileiro está cada vez mais vazio. Gasolina, carne, carro, o cidadão brasileiro tem visto o preço explodir em 2021. O combustível não é diferente. A gasolina teve um aumento de 49,9% entre dezembro de 2020 e 2021. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 10,74%, o maior aumento para o período desde 2003. No ano até aqui, isto é, entre janeiro e novembro, o valor subiu 9,26%.

A tempestade perfeita que atingiu os índices tem origem no contexto internacional. As nuvens começaram a se acumular com a rápida retomada das atividades globais após a primeira onda de Covid-19, em 2020. Com a instabilidade política e o governo de Jair Bolsonaro pressionando por aumento nos gastos às vésperas das eleições, a percepção de risco de insolvência das contas públicas pelo mercado cresceu.

O presidente Jair Bolsonaro está cada vez mais perto de ter um papel em tornar a gasolina e o diesel mais baratos para os motoristas brasileiros, depois que um painel importante do Senado apresentou um projeto de lei que visa estabilizar os preços dos combustíveis.

A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou uma proposta de legislação que permitiria ao governo estabelecer faixas de preços para o combustível e taxar as exportações de petróleo progressivamente - com taxas cada vez mais altas quanto mais alto o preço do petróleo - para proteger o abastecimento doméstico. O projeto também prevê um fundo de estabilização para ajudar a reduzir a volatilidade dos preços.

Bolsonaro está em um cabo de guerra com a estatal Petrobras sobre o aumento dos preços dos combustíveis, enquanto o país luta com uma inflação de dois dígitos antes das eleições presidenciais do próximo ano. A Petrobras tem resistido às pressões políticas tanto do governo quanto da oposição para tornar o combustível artificialmente mais barato para os motoristas.

Mas não está claro o quão prejudicial o projeto de lei proposto seria para a Petrobras, porque também exige a adesão aos preços internacionais. O projeto já foi enviado ao plenário do Senado para discussão, embora não haja data para votação. A Petrobras não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o projeto.

A proposta acrescenta incerteza à indústria de petróleo brasileira em um momento em que o país busca atrair investimentos tanto na produção quanto no refino de petróleo. Este mês, o governo está oferecendo áreas na região do pré-sal de águas profundas, que abriga as maiores descobertas do Brasil. O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse em uma entrevista recente que os impostos de exportação propostos ajudarão a financiar o fundo de estabilização.

Por que a gasolina aumentou tanto?

Um dos principais motivos é a cotação do petróleo no mercado internacional. O barril do tipo Brent – negociado em Londres e usado pela Petrobras para cálculo de preço – aumentou quase 40% desde o início do ano, pressionando os preços dos combustíveis fósseis em geral.

A Petrobras, que fornece para as distribuidoras, calcula o preço nas refinarias com base na cotação do petróleo e na taxa de câmbio, pois a commodity é cotada em dólar. Nesse sentido, a valorização da moeda norte-americana, acumulada em quase 10% em 2021, também forçou para cima a gasolina. A estatal aumentou o preço do combustível onze vezes somente neste ano.

Depois de uma forte queda no início da pandemia de Covid-19, resultado do desaquecimento da economia mundial e de uma disputa entre Arábia Saudita e Rússia – que inundaram o mercado na ocasião, forçando os preços para baixo –, a cotação do petróleo voltou a subir conforme as atividades econômicas foram sendo retomadas. Mas se o consumo de combustíveis cresceu, a produção mundial não avançou no mesmo ritmo

De acordo com informações da Agência Internacional de Energia (AIE), a produção mundial de combustíveis estava em 92,3 milhões de barris por dia no segundo trimestre de 2020, ao passo que a demanda era de 84,8 milhões de barris. No mesmo período de 2021, a procura aumentou para 96,7 milhões de barris diários, mas a produção ficou em 94,9 milhões de barris. Segundo projeções da AIE, a produção mundial só deve voltar a ultrapassar a demanda no primeiro trimestre de 2022. Mas há outros fatores que podem influenciar na cotação do petróleo, como um recrudescimento da pandemia, com a variante Delta e Omicron, e riscos geopolíticos, a exemplo de conflitos regionais.

Na variação do câmbio, porém, o Brasil poderia ter mais tranquilidade. A desvalorização do real ocorre por motivos externos e internos, e entre estes fatores estão as incertezas sobre o futuro da pandemia, o compromisso do governo com a reponsabilidade fiscal e a instabilidade política.

Bolsonaro libera quase R$ 300 milhões no auxílio gás

O presidente Jair Bolsonaro assinou projeto de lei autorizando a abertura de R $ 300 milhões para o custeio do programa vale gás, lançado em novembro pelo governo federal.

A expectativa do Ministério da Cidadania e Economia é que a medida beneficie cinco milhões de famílias. O programa vai destinar vale gás de R $ 52 a cada dois meses para famílias com renda de até meio salário mínimo (R $ 550).

O valor corresponde a pouco mais da metade do preço médio da garrafa de gás de 13kg no Brasil. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, o botijão foi vendido por cerca de R$ 100.

O aumento dos preços do gás e dos combustíveis tem sido um dos pontos principais do discurso do presidente Jair Bolsonaro, que costuma se esquivar da inflação e responsabilizar prefeitos e governadores, seja pelos impostos estaduais sobre o preço do gás e do petróleo, seja pelas medidas restritivas adotado para conter o avanço do coronavírus.

Segundo especialistas, no entanto, apesar da influência dos impostos e das consequências da nova pandemia do coronavírus, o valor do gás de cozinha aumentou principalmente devido à desvalorização do real frente ao dólar, provocada pela crise política que o Brasil atravessa no últimos anos e, recentemente, pela perspectiva de desajustamento fiscal.

Etanol pode ajudar a baixar o preço

Outro item que contribui para o aumento da gasolina é o preço do etanol. No Brasil o etanol hidratado é vendido como combustível nos postos e o etanol anidro é misturado à gasolina na razão de 27%. Ambos estão em alta.

O preço médio do etanol nos postos estava em R$ 2,828, em 2018, e representava 64% do valor da gasolina comum (R$ 4,365). A conta simples que donos de veículos flex sabem de cor é que se a divisão do preço do álcool pelo da gasolina ficar acima de 0,7 (70%), é melhor botar a segunda opção. Essa proporção atualmente está em 0,77. Atualmente, segundo o levantamento semanal da Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulgado em 11 de dezembro, o álcool sai em média por R$ 5,210, enquanto a gasolina comum custa R$ 6,708.

VEJA Mercado em vídeo | Fechamento | 10 de maio.

Em apenas dois dias, a cotação do petróleo afundou 10% e voltou para a casa dos 102 dólares o barril. A leitura do mercado é que os lockdowns na China por causa dos surtos de Covid-19 podem diminuir a demanda pela commodity, mas a pergunta que fica no ar é se essa queda vai impedir a Petrobras de reajustar o preço da gasolina no Brasil. Para alguns especialistas, a estatal ganha um pouco de fôlego, mas a pressão em cima do petróleo não tende a arrefecer enquanto durar a guerra na Ucrânia. O preço da gasolina e a volatilidade do petróleo são os assuntos do VEJA Mercado desta quarta-feira, 10.

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O aumento de 18,7% da gasolina e de 24,9% do diesel S-10, anunciado ontem (11) pela Petrobras, é o maior reajuste promovido pela estatal desde janeiro de 2021, quando teve início a escalada dos preços dos combustíveis no país. É a segunda vez neste ano que a Petrobras sobe o valor da gasolina e do diesel vendidos em suas refinarias.

O primeiro reajuste foi em 12 de janeiro, com alta de 4,9% no preço da gasolina e de 8,1% no litro do diesel S-10. Com esse novo aumento, a gasolina vai ultrapassar os R$ 7 na média nacional e o diesel poderá chegar ao valor médio de R$ 6,46 nos postos de abastecimento.

Levantamento do Observatório Social da Petrobras (OSP), organização ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), aponta que desde janeiro do ano passado o maior aumento havia sido registrado em 19 de fevereiro de 2021. Na época, a gasolina ficou 10,2% mais cara e o diesel, 15,2%. Nesse período, incluindo a alta de hoje, a Petrobras já aumentou 13 vezes o preço da gasolina e 11 vezes o do diesel.

O anúncio do reajuste levou consumidores em várias cidades a formarem filas nos postos de combustíveis para abastecerem os carros antes ainda com preços sem aumento.

Refinaria privada ainda cobra mais

Apesar do novo reajuste, a Refinaria de Mataripe, na Bahia, privatizada em dezembro do ano passado, continua com os preços acima da média da estatal, segundo o Observatório Social da Petrobras. A Acelen, gestora de Mataripe, vende o litro da gasolina 6,8% e do diesel 2,8% acima da média da Petrobras. Em relação à gasolina, é o maior preço entre todas as refinarias do país.

A gasolina na Refinaria de Mataripe, antiga Landulpho Alves (Rlam), estava custando 27,4% a mais do que a vendida pela Petrobras antes dos reajustes da estatal. A diferença em relação ao valor do diesel S-10 era de 28,2%.

Ou seja, os reajustes da Petrobras ainda foram inferiores à diferença a favor que havia para a refinaria privada.

Os combustíveis comercializados pela refinaria baiana, privatizada em dezembro de 2021, já tinham anunciado um reajuste no sábado (5), o quinto aumento só neste ano.

Mataripe tem hoje os combustíveis com os preços mais elevados do Brasil, em comparação com as refinarias da estatal, segundo estimativas do Observatório Social da Petrobrás (OSP).

Para comparar, segundo o OSP, a gasolina ao consumidor pode custar na Bahia R$ 7,65. Já o diesel S-10, pode chegar a R$ 6,79.

"A guerra na Ucrânia acentuou o problema, mas o encarecimento da gasolina e do diesel na Bahia já é estrutural com a privatização", diz disse Eric Gil Dantas, economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps).

Espaço para segurar os preços

No Golfo do México, que serve como referência para o Preço de Paridade de Importação (PPI), de acordo com o economista, o aumento do valor da gasolina foi de 15% na semana passada.

"Os custos para produzir gasolina e diesel no Brasil não mudaram. O único custo que aumentou foi o pagamento de participações governamentais. A Petrobras pode sim segurar os preços localmente sem que haja prejuízos contábeis. O último resultado, com lucro líquido de R$ 106 bilhões e distribuição de dividendos de R$ 100 bilhões, mostra o quanto de gordura a empresa tem para queimar", disse o economista.