Resumo A intensidade do exerc�cio � reduzida em altitude devido a uma baixa press�o parcial de oxig�nio (pO2). Uma perman�ncia adequada na altitude desenvolve uma s�rie de altera��es fisiol�gicas que melhoram o transporte de oxig�nio. Essas adapta��es podem ser agudas ou cr�nicas, e visam aumentar o fluxo sangu�neo para compensar a redu��o na concentra��o de oxig�nio e aumentar a concentra��o de hemoglobina. O processo de aclimata��o varia de acordo com o tempo de exposi��o e o n�vel de altitude, durante esse processo pode ocorrer o acometimento de alguns problemas de sa�de relacionados � hip�xia se n�o tomadas as devidas precau��es. O maior interesse da realiza��o do treinamento em altitude � o aumento no conte�do de hemoglobina, que melhora o transporte de oxig�nio e aprimora o desempenho aer�bio, gerado atrav�s de um aumento na s�ntese do horm�nio eritropoetina. O modelo de viver em uma altitude m�dia e treinar em uma altitude menor mostra-se como o m�todo que produz os melhores resultados no desempenho. O objetivo deste artigo � revisar as adapta��es fisiol�gicas geradas pela exposi��o � altitude e seus efeitos no desempenho f�sico. Unitermos: Exerc�cio em altitude. Aclimata��o. Hemoglobina. Eritropoetina.
Introdu��o Pela menor disponibilidade de oxig�nio, a intensidade do exerc�cio � reduzida na altitude, e as adapta��es geradas por essa exposi��o s�o os principais fatores a serem avaliados quando h� programada uma competi��o em altitude elevada. Uma perman�ncia adequada na altitude desenvolve uma s�rie de altera��es fisiol�gicas, que visam um melhor transporte de oxig�nio. Buscando aprimorar a entrega de oxig�nio aos tecidos, muitos atletas de elite usam do treinamento na altitude para aperfei�oarem a prepara��o f�sica e melhorarem o desempenho ao n�vel do mar. O tempo de exposi��o e o n�vel de altitude s�o os principais fatores que podem levar a um desempenho otimizado, ou a preju�zos para a sa�de do atleta. (WILBER, STRAY-GUNDERSEN, LEVINE, 2007; MAZZEO, 2008). Muitos autores citam uma evolu��o na condi��o f�sica de atletas que utilizaram do treinamento em altitude, embora com grandes varia��es na metodologia aplicada. O objetivo deste artigo � revisar as adapta��es fisiol�gicas geradas pela exposi��o � altitude e seus efeitos no desempenho f�sico. Efeitos da exposi��o � altitude Ao realizar um exerc�cio f�sico na altitude, temos dois tipos de estresses aos quais o corpo mais responde e se adapta, o exerc�cio e a hip�xia, que � a quantidade reduzida de oxig�nio num ambiente, e afeta diretamente a intensidade do exerc�cio. Ao n�vel do mar, segundo Mcardle, Katch e Kacth (2003), o ar exerce uma press�o barom�trica de 760 mil�metros de merc�rio (mmHg), com um percentual de oxig�nio de cerca de 20,93%. Mazzeo (2005) descreve que na altitude, o ar ambiente continua contendo 20,93% de oxig�nio, por�m, a press�o barom�trica � menor conforme ascendemos a n�veis maiores de altitude, fazendo com que diminua o n�mero de mol�culas de oxig�nio por unidade de volume, ou seja, uma menor press�o parcial de oxig�nio (pO2). Citado por West (2004), o consumo m�ximo de oxig�nio (VO2 max) � reduzido � 85% do valor ao n�vel do mar, numa altitude de 3.000 m. A 5.000 m de altitude, esse valor � de apenas 60% do valor conseguido ao n�vel do mar, e no pico do Monte Everest (8.848 m) o consumo m�ximo de oxig�nio fica em menos de 30% do valor ao n�vel do mar. As altera��es fisiol�gicas, como conseq��ncia da hip�xia, ocorrem nos primeiros momentos de exposi��o � altitude. Essas adapta��es s�o fundamentais para o fornecimento de oxig�nio aos tecidos, seguidas por adapta��es cr�nicas que podem levar meses. Esse processo de adapta��o recebe o nome de aclimata��o � altitude, como veremos em detalhes. Aclimata��o Os principais ajustes que ocorrem em resposta a exposi��o aguda � altitude s�o a hiperventila��o e um maior d�bito card�aco (em repouso e em exerc�cio subm�ximo). Exposi��es prolongadas � altitude proporcionam ajustes que ocorrem de maneira mais lenta, para melhorar a toler�ncia � hip�xia, como um equil�brio �cido-b�sico dos l�quidos corporais, um aumento no n�mero de hem�cias e maior concentra��o de hemoglobina. Os efeitos da aclimata��o variam conforme a altitude e a individualidade biol�gica. Uma adapta��o plena a uma altitude m�dia, pode ser apenas uma adapta��o parcial a altitudes maiores. O tempo ideal necess�rio para a aclimata��o, numa m�dia geral, fica em torno de 15 dias para uma altitude de 2.500 m, a partir da�, cada aumento de 610 m necessita de uma semana adicional para uma aclimata��o plena. As adapta��es produzidas pela aclimata��o dissipam-se em cerca de 20 dias ap�s retorno ao n�vel do mar. (FOSS, KETEYIAN, 2000; MUZA, 2007). Mazzeo (2008) cita tamb�m que h� uma s�ntese aumentada das catecolaminas (adrenalina e principalmente noradrenalina), horm�nios produzidos pela medula supra-renal, em resposta a exposi��o �s grandes altitudes. Esses horm�nios ajudam no processo de adapta��o a um ambiente com menor quantidade de oxig�nio. A adrenalina acelera a freq��ncia card�aca e aprimora a contratilidade do mioc�rdio, aumentando assim o fluxo sang��neo para os m�sculos, o consumo de oxig�nio e a mobiliza��o de glicog�nio. A melhora na satura��o do oxig�nio arterial ocorre com a aclimata��o, diminuindo o estresse hip�xico e diminuindo os n�veis de adrenalina. J� a noradrenalina tem seus n�veis plasm�ticos semelhante aos observados ao n�vel do mar em exposi��o aguda � altitude, atingindo seus n�veis m�ximos ap�s 4-6 dias de exposi��o a uma grande altitude. Entre seus principais efeitos est� a constri��o aumentada das arter�olas e v�nulas, resultando em aumento da press�o arterial. Transporte de oxig�nio no sangue O oxig�nio pode ser dissolvido no plasma e transportado at� os tecidos numa quantidade relativa de 3% a 4% do consumo total por minuto. O transporte efetivo do oxig�nio dos pulm�es at� os tecidos � realizado pela hemoglobina, uma prote�na presente nas hem�cias, que al�m de carrear O2 tem uma importante fun��o na manuten��o do pH sang��neo. A mol�cula de hemoglobina � constitu�da de quatro subunidades, onde cada subunidade pode transportar uma mol�cula de oxig�nio. (MARZZOCO, TORRES, 2007). As hem�cias, tamb�m chamadas de eritr�citos ou gl�bulos vermelhos, onde est�o presentes as hemoglobinas, s�o c�lulas anucleadas e sem mitoc�ndrias, sendo portanto c�lulas exclusivistas de glicose, que produzem energia unicamente atrav�s da glic�lise. A hemoglobina mostra-se com a afinidade reduzida pelo oxig�nio quando os n�veis de 2,3-bisfosfoglicerato (2,3-BPG) est�o altos. O 2,3-BPG � formado a partir do 1,3-bisfosfoglicerato, um intermedi�rio na degrada��o da glicose. Os n�veis de 2,3-BPG aumentam em condi��es de hip�xia prolongada, como a perman�ncia na altitude. � uma adapta��o � diminui��o na oferta de oxig�nio, que visa compensar essa disponibilidade diminu�da com um aumento da libera��o de O2 pela hemoglobina. Com uma afinidade reduzida pelo oxig�nio, a hemoglobina o libera de maneira mais eficiente. (FOSS, KETEYIAN, 2000; MARZZOCO, TORRES, 2007). A mioglobina, uma prote�na semelhante a uma subunidade da hemoglobina, � encontrada em grande quantidade no m�sculo, funcionando como um reservat�rio adicional de oxig�nio. Por ter uma afinidade maior por oxig�nio em rela��o a hemoglobina, em qualquer pO2, a mioglobina recebe o O2 transportado pela hemoglobina e o libera em condi��es de pO2 muito baixas, para ser utilizado pelas mitoc�ndrias das c�lulas musculares. (LEHNINGER, NELSON, COX, 2007; ROBACH et al, 2007) Policitemia A baixa press�o parcial do oxig�nio, associada com os efeitos da altitude, estimula um aumento na produ��o de eritropoetina pelos rins, em resposta a uma hip�xia arterial. O horm�nio eritropoetina, tamb�m chamado de horm�nio eritr�cito-estimulante, age na medula �ssea de ossos longos, estimulando a produ��o, que leva a um aumento, das hem�cias, condi��o esta denominada policitemia. (MCARDLE, KATCH, KATCH, 2003; GORE, CLARK, SAUNDERS, 2007). Al�m da exposi��o � altitude, outras pr�ticas induzem a um aumento no n�mero de hem�cias, como a perman�ncia em c�maras de hip�xia artificial, com a quantidade de oxig�nio controlada por filtra��o do g�s ou dilui��o de nitrog�nio, reduzindo a pO2 ambiente, pr�tica recentemente inclu�da na lista de subst�ncias/m�todos proibidos da Ag�ncia Mundial de Anti Doping (WADA � World Anti Doping Agency), a aplica��o de eritropoetina end�gena e o doping sangu�neo, ambos proibidos pelo COI (Comit� Ol�mpico Internacional). (BARROS NETO, 2001; WILBER, 2005). Em um estudo realizado por Levine e Stray-Gundersen (1997) apud Wilber, Stray-Gundersen e Levine (2007), ap�s 22 horas por dia de exposi��o, durante 4 semanas de perman�ncia numa altitude de 2.500 metros, corredores treinados exibiram aumento significativo de 5% no volume de hem�cias, 9% na concentra��o de hemoglobina e uma melhora de 4% no VO2max avaliado em esteira. Com a s�ntese de eritropoetina elevada, aumenta a produ��o de hem�cias, e consequentemente o n�mero de hemoglobina dispon�vel, melhorando a capacidade de liga��o do oxig�nio. � sugerido por Weineck (2005) que posteriormente � produ��o de hem�cias, o n�mero de mol�culas de hemoglobina por hem�cia tamb�m seja aumentado, portanto, ocorre um aumento no n�mero e no tamanho das hem�cias, e com isto, um aumento da viscosidade do sangue, o que torna o trabalho card�aco maior. Durante a exposi��o cont�nua � uma altitude de em m�dia 2.200 m, a eritropoetina atinge seu pico de libera��o dentro de 24-48 horas e depois declina pr�ximo aos n�veis basais. (GORE, CLARK, SAUNDERS, 2007). Entretanto o processo de policitemia � lento, levando v�rios dias para aumentar a produ��o de hem�cias. (WEST, 2004). Segundo Grover e B�rtsch (2001) apud Gore, Clark e Saunders (2007), a eleva��o dos n�veis de eritropoetina nas primeiras horas de perman�ncia na altitude representa o per�odo em que a produ��o excedeu o consumo pela medula �ssea, a qual subsequentemente aumentou o consumo do horm�nio, levando a uma alta na produ��o de hem�cias, e finalmente a um equil�brio. Apesar de uma produ��o elevada, os n�veis de eritropoetina ficam pr�ximos aos n�veis basais, pois seu consumo tamb�m � aumentado, o que impede a avalia��o de altera��es em sua concentra��o ap�s a exposi��o inicial. A exposi��o a um ambiente hip�xico, como a altitude, ativa o fator de transcri��o HIF-1 (hypoxic-inducible factor 1) que controla uma ampla gama de genes envolvidos na produ��o de hem�cias. (ROBACH et al, 2007). Sob condi��es de pO2 normal, o HIF-1 � rapidamente degradado. Em condi��es hip�xicas, o complexo HIF-1 � est�vel, ativando a transcri��o e estimulando a produ��o de eritropoetina, al�m de outros efeitos fisiol�gicos, como atuar no transporte da glicose, na atividade de enzimas glicol�ticas, em respostas inflamat�rias e no metabolismo dos ossos. (WANG, SEMENZA, 1996 apud WILBER, STRAY-GUNDERSEN, LEVINE, 2007). A produ��o de hem�cias envolve aumento no suprimento de ferro, componente da hemoglobina, e al�m de poder resultar em falta de ferro para outros compartimentos corporais, pessoas com reservas insuficientes de ferro podem n�o responder efetivamente aos efeitos da aclimata��o. (HERSHKO, 2007). No trabalho de Robach et al (2007) foram examinados os efeitos da hip�xia sobre prote�nas do metabolismo do ferro (HIF-1, IRP- iron regulatory proteins, IRE � iron regulatory elements e TfR � transferrin receptor) no sangue e no m�sculo vasto lateral de jovens adultos, avaliados ao n�vel do mar e depois de 7-9 dias de aclimata��o a uma altitude de 4.559 m. Foi percebido um aumento no n�mero de hemoglobina, acompanhado de uma diminui��o na concentra��o muscular de mioglobina, sugerindo que o aumento na necessidade de ferro pelos est�mulos hip�xicos resultaram em mobiliza��o de ferro muscular. Deve-se lembrar que o trabalho utilizou-se de um curto per�odo de perman�ncia na altitude e n�o houve controle alimentar citado. Problemas de sa�de relacionados � altitude Al�m das adapta��es geradas para uma perman�ncia mais confort�vel, pessoas expostas � altitude correm o risco de desenvolver alguns problemas de sa�de decorrente da quantidade diminu�da de oxig�nio. Esses problemas, na maioria das vezes, est�o ligados a uma subida r�pida a grandes altitudes, n�o respeitando o per�odo de aclimata��o, e geralmente desaparecem com a descida para altitudes menores. As condi��es problem�ticas mais comuns que afetam as pessoas na altitude s�o: Mal agudo das montanhas, Edema pulmonar das grandes altitudes e Edema cerebral das grandes altitudes. Nas principais enfermidades ligadas � exposi��o � altitude, a primeira provid�ncia indicada � descer o mais r�pido poss�vel para altitudes menores. Em alguns casos, o diagn�stico preciso da enfermidade � dificultado pelos efeitos da altitude, podendo n�o haver a distin��o entre um poss�vel problema de sa�de e o processo de aclimata��o. O mais indicado � realizar uma ascens�o gradual, respeitando o tempo necess�rio para as adapta��es fisiol�gicas, reduzindo assim a possibilidade de desenvolver algum problema de sa�de, e ter dispon�vel um cilindro de oxig�nio suplementar para uma eventual emerg�ncia. Buss e Oliveira (2006) falam sobre a import�ncia da alimenta��o para praticantes de exerc�cio na altitude. Com o aumento na taxa metab�lica basal de 400 � 600 kcal por dia, juntamente com uma redu��o no apetite e no consumo alimentar, muitas vezes ocorre uma diminui��o do peso da pessoa exposta � altitude (anorexia), caso n�o ocorra um replanejamento nutricional. Desempenho f�sico na altitude A diminui��o da satura��o da hemoglobina com o oxig�nio leva a redu��es do VO2max na altitude. Como conseq��ncia de que cada litro de sangue estar� transportando menos oxig�nio por minuto, a freq��ncia card�aca � aumentada para compensar a quantidade reduzida de oxig�nio, aumentando sua velocidade de transporte. (POWERS, HOWLEY, 2006). Em compara��o, exerc�cios de caracter�stica predominantemente anaer�bicas, de curta dura��o, n�o apresentam queda no desempenho ou dificuldade na realiza��o em conseq��ncia dos efeitos da altitude. (WEINECK, 2005). Mazzeo (2008) relata em seu estudo que a exposi��o � altitude n�o provocou mudan�as nas vias metab�licas anaer�bicas e que exerc�cios de alta intensidade que utilizam de energia de forma n�o-oxidativa (anaer�bico) poderiam n�o apresentar melhoras ap�s per�odos de treinamento na altitude. Outros resultados mostram que o limiar de lactato ocorre em uma intensidade de exerc�cio mais baixa em hip�xia, comparado a um ambiente em norm�xia, e a concentra��o de lactato sang��neo � mais alta em hip�xia, sugerindo um aumento na ativa��o do Sistema Nervoso Simp�tico, o que estimularia a degrada��o do glicog�nio e a glic�lise, contribuindo para um aumento no ac�mulo de lactato. (OGURA et al., 2005, LORENZ et al., 2006). Ap�s uma adapta��o cr�nica � altitude, percebe-se que um exerc�cio de intensidade sub-m�xima, que na fase aguda produzia altos n�veis de lactato sang��neo, n�o provoca os mesmos aumentos, mantendo uma quantidade menor na produ��o de lactato, fen�meno este denominado paradoxo do lactato. (MCARDLE, KATCH, KATCH, 2003). Uma prov�vel explica��o, segundo Gore, Clark e Saunders (2007), � um aumento das prote�nas MCT1 e MCT4 (monocarboxylate transportes) que facilitam o transporte de lactato e H+, e teriam sua produ��o aumentada em resposta a exposi��o � altitude. Weineck (2005) relata que a hip�xia pode induzir a uma diminui��o do pensamento anal�tico, o que compromete a capacidade de tomar decis�es, al�m de uma diminui��o da capacidade de rea��o, que prejudica a coordena��o dos movimentos e aumenta o risco de les�es. J� um estudo realizado por Szubski, Burtscher e L�scher (2007) mostrou que adapta��es neuromusculares perif�ricas e centrais s�o semelhantes em hip�xia e em norm�xia, sendo que a hip�xia n�o resulta em aumento da fadiga central, e que a recupera��o da for�a de contra��o � mais r�pida em hip�xia, o que sugere uma altera��o na fosforila��o das isoformas de miosina, podendo assim aumentar a for�a de contra��o. Durante a realiza��o de exerc�cio na altitude, o principal substrato energ�tico utilizado � o glicog�nio, por ser o substrato que mais gera ATP por litro de oxig�nio consumido. (BUSS, OLIVEIRA, 2006). A utiliza��o de �cidos-graxos para produ��o de energia durante a realiza��o de exerc�cios f�sicos na altitude n�o seria interessante, pois al�m de ter um ritmo mais lento de oxida��o, a produ��o de energia atrav�s destas fontes utilizaria de um volume maior de oxig�nio, o que levaria a uma redu��o na intensidade do exerc�cio. A concentra��o reduzida de oxig�nio, exerc�cios realizados acima do limiar de lactato e uma alta degrada��o de glicog�nio podem levar a um estado de fadiga precoce. Os resultados do estudo de Kohin et al. (2001) mostraram que o trabalho isolado de fibras musculares individuais, sem a presen�a de fatores extracelulares, � afetado pela hip�xia, apresentando um decl�nio na produ��o de for�a, apesar da aus�ncia de fatores circulantes. Acompanhada da diminui��o da for�a, foi percebido uma queda no pico de c�lcio, sugerindo uma baixa na sensibilidade miofibrilar ao c�lcio, dificultando a contra��o. Uma breve pr�-exposi��o � hip�xia melhorou a produ��o de for�a e as mudan�as nos canais de c�lcio, melhorando a recupera��o da c�lula durante exposi��o subseq�ente � hip�xia. O principal interesse da realiza��o do treinamento em altitude � a melhora na capacidade de transporte de oxig�nio no sangue, atrav�s de um aumento na conte�do de hemoglobina. Na revis�o elaborada por Gore, Clark e Saunders (2007), abordou-se a poss�vel influ�ncia de outros fatores que contribuem para a melhora no desempenho f�sico, al�m do aumento no volume de hem�cias, como a melhora na economia do movimento. A economia do movimento � a quantidade de energia necess�ria para manter uma velocidade constante do movimento (MCARDLE, KATCH, KATCH, 2003) e os poss�veis mecanismos para melhor�-la ap�s um per�odo de exposi��o � altitude incluem melhoras no processo de excita��o e contra��o muscular, que levam a um desempenho com menor custo energ�tico, atrav�s de redu��es no ac�mulo de co-produtos como ADP, Pi e H+, e melhora na efici�ncia mitocondrial. (GREEN et al., 2000 apud GORE, CLARK, SAUNDERS, 2007). A melhora na economia do movimento ocorre independente do ambiente de treinamento, mas neste caso, a melhora no desempenho ao n�vel do mar ap�s um per�odo de treinamento na altitude, com rela��o a economia do movimento, acontece por um aumento na produ��o de ATP por mol de oxig�nio e por diminui��o do custo de ATP para a contra��o muscular. (WILBER, 2007). Treinamento e altitude Pessoas treinadas quando expostas � altitude apresentam uma redu��o no VO2max maior do que pessoas destreinadas. (POWERS, HOWLEY, 2006). Atletas de elite usam o treino em altitude � muito tempo, embora a efici�ncia desta pr�tica, em rela��o a melhora no desempenho ao n�vel do mar, ainda seja questionada por estudos. (WILBER, 2007). Gore, Clark e Saunders (2007) classificam os n�veis de altitude em: N�vel do mar de 0 � 1.000 metros; baixa altitude de 1.000 � 2.000 metros; m�dia altitude de 2.000 � 3.000 metros; grande altitude de 3.000 � 5.000 metros; altitude extrema de 5.000 � 8.848 metros. Diferentes metodologias de treinamento s�o utilizadas para aprimorar o desempenho f�sico atrav�s dos benef�cios da aclimata��o � altitude, como veremos em detalhes. Viver e treinar na altitude (Live High + Train High) O modelo original de treinamento em altitude foi o de viver e treinar em altitudes m�dias (live high + train high, LH+TH) que mesmo sendo utilizado por v�rias d�cadas, seus benef�cios em aprimorar o desempenho f�sico ao n�vel do mar continuam incertos. Uma potencial limita��o do treinamento em condi��es hip�xicas � o fato de que muitos atletas s�o incapazes de atingir o n�vel de intensidade necess�rio para gerar as mudan�as fisiol�gicas que aprimorariam o desempenho, e em muitos casos, retornavam ao n�vel do mar num estado de destreino, com redu��es de 3�8% no desempenho f�sico. (LEVINE, STRAY-GUNDERSEN, 2005; WILBER, STRAY-GUNDERSEN, LEVINE, 2007). Viver no baixo e treinar na altitude (Live Low + Train High) Embora o nome indique treinamento na altitude, no modelo LL+TH (live low + train high), o atleta vive e treina ao n�vel do mar, com curtos per�odos de hip�xia (5 -180 minutos) onde respira atrav�s de m�scara um g�s com a porcentagem de oxig�nio reduzida durante o intervalo de recupera��o ou durante a sess�o de treino. O m�todo � principalmente indicado como um meio de pr�-aclimata��o antes de ascens�o � altitude para atletas que pretendem competir ou treinar em regi�es altas. (WILBER, 2007; MUZA, 2007). Muza (2007) acrescenta que o m�todo LL+TH parece fornecer os benef�cios da aclimata��o para soldados antes deles ascenderem a regi�es de grandes altitudes para opera��es militares, embora n�o haja estudos que comprovem a efic�cia deste m�todo em prevenir o acometimento de mal agudo das montanhas. Viver na altitude e treinar no baixo (Live High + Train Low) O modelo de viver na altitude e treinar num local mais baixo (live high + train low, LH+TL) foi desenvolvido por Levine e Stray-Gundersen em 1992, e mostrou ser eficiente por atletas de diferentes aptid�es. (LEVINE, STRAY-GUNDERSEN, 2005). Neste modelo o atleta vive na altitude para obter os benef�cios da aclimata��o (aumento na produ��o de eritropoetina, resultando no aumento de hem�cias) e treina num local mais baixo para conseguir atingir a intensidade de treino semelhante a do n�vel do mar. Atletas que usam o m�todo LH+TL vivem e/ou dormem em uma altitude moderada (2.000 � 3.000 metros) e treinam em uma eleva��o baixa (< 1.500 metros). (POWERS, HOWLEY, 2006; WILBER, 2007). Gore e Hopkins (2005) afirmam que o m�todo LH+TL produz uma altera��o fisiol�gica aumentando o desempenho aer�bio numa m�dia de 1%. Segundo Levine e Stray-Gundersen (2005) a melhora no VO2max, e consequentemente melhora do desempenho, est�o relacionadas ao aumento do volume das hem�cias, e seria conseguido atrav�s da exposi��o � altitude e de uma intensidade adequada de treinamento. Mas Gore e Hopkins (2005) acreditam que tais mudan�as s�o mais prov�veis de erros na avalia��o do que de adapta��es fisiol�gicas � altitude, sugerindo que a altera��o no volume das hem�cias em v�rios estudos parece ser diretamente proporcional � possibilidade de erro na avalia��o. Os autores ainda citam que o VO2max pode ser aumentado por esfor�o volunt�rio no processo de avalia��o, e que a melhora no desempenho poderia ser devido a um efeito placebo da viv�ncia na altitude, acreditando que a economia do movimento � o componente mais prov�vel de mediar os efeitos do m�todo LH+TL. Wilber, Stray-Gundersen e Levine (2007) avaliaram qual seria a �dose� ideal de exposi��o � altitude para obter-se os maiores aumentos de eritropoetina no modelo LH+TL. Seus resultados recomendam que para a aquisi��o de benef�cios efetivos desse m�todo de treinamento, os atletas precisariam de uma exposi��o � 2.000 - 2.500 metros, por no m�nimo 4 semanas com uma exposi��o di�ria de 22 horas ou mais. Os autores salientam que a pr�-disposi��o gen�tica leva a uma consider�vel varia��o individual. Discuss�o Somente para atletas com um n�vel de condicionamento bem alto torna-se significativo o treinamento em altitude como est�mulo adicional, visto que a melhora no desempenho ocorre em uma porcentagem m�nima. Por�m, essa melhora de 1% na capacidade de executar exerc�cios de caracter�sticas aer�bicas pode representar uma porcentagem maior do que a diferen�a entre o campe�o e o vice de uma prova. Na Corrida de S�o Silvestre de 2007 (15.000 metros) a queniana Alice Timbilili venceu com o tempo de 53:07 (minutos:segundos) seguida pela brasileira Marizete Rezende, que conseguiu a segunda coloca��o com o tempo de 53:36, uma diferen�a de tempo de apenas 0,91%. Em junho de 2008 na Maratona de Londres (42.195 metros) o queniano Martin Lel venceu com o tempo de 2:05:15 (horas:minutos:segundos), enquanto o terceiro colocado, o marroquino Abderrahim Goumri, concluiu a prova em 2:05:30, somente 0,2% a mais de tempo que o vencedor. Com a marca deste ano, Martin Lel obteve o novo recorde da prova, ficando com um tempo de apenas 0,66% a mais do que o recorde mundial em maratonas, que � do et�ope Haile Gebrselassie com 2:04:26. Portanto, diferen�as m�nimas no desempenho podem fazer uma enorme diferen�a para a carreira de atletas de elite. Existem diverg�ncias sobre qual � o principal fator que leva a um desempenho aprimorado ap�s um per�odo de treinamento na altitude. Seja por aumento no n�mero e volume das hem�cias, melhora na efici�ncia mitoc�ndrial e na fosforila��o das isoformas de miosina ou melhora na economia do movimento, h� um consenso na literatura de que o VO2max e o rendimento de atletas ap�s um per�odo de treinamento em altitude s�o aumentados. Viver e treinar na altitude pode ser uma alternativa vi�vel para atletas que est�o no per�odo regenerativo, onde a intensidade do treinamento � de leve � moderada. A exposi��o intermitente a hip�xia pode ser usada por atletas ou equipes cujos calend�rios de competi��o n�o permitem o tempo adequado de aclimata��o, minimizando assim o aparecimento de poss�veis complica��es durante uma exposi��o aguda � altitude. A perman�ncia na altitude e o treinamento numa altitude menor parece ser o modelo ideal a ser adotado como uma alternativa de otimizar os resultados obtidos com o treinamento. De acordo com as adapta��es geradas para melhorar o transporte de oxig�nio, o per�odo pr�-competi��o seria o melhor momento para a aplica��o deste m�todo, visto que seus efeitos dissipam-se num curto espa�o de tempo. Conclus�o Um treinamento realizado de maneira correta, ao n�vel ideal de altitude respeitando os per�odos de aclimata��o, com um acompanhamento nutricional e atingindo a intensidade de treinamento adequada, certamente ser� um diferencial para o desempenho de atletas de endurance. Os riscos existem, mas podem ser controlados e anulados tomadas as devidas precau��es. O treinamento na altitude pode ser usado de diferentes formas, de acordo com a disponibilidade de tempo e fase de prepara��o. Ocorrem algumas dificuldades em comparar resultados de diferentes estudos referentes ao tema, principalmente pelo n�vel de altitude, tempo de exposi��o e acompanhamento nutricional aplicados, al�m da individualidade biol�gica que leva a grandes varia��es nos resultados. A realiza��o de estudos futuros dever� concluir se a melhora no condicionamento ocorre pelos efeitos da altitude, ou por um favorecimento gen�tico com rela��o � hip�xia. Refer�ncias bibliogr�ficas
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