Graduada em História (Udesc, 2010) Show
Ouça este artigo: No século XV, quando os portugueses se lançaram ao mar nas grandes navegações, o continente africano já era entendido como território a ser explorado. Ao fazer o périplo africano durante o século XVI os portugueses passaram explorar não só matérias primas, mas também mão-de-obra escravizada, dando início ao comércio triangular com as colônias europeias na América. Estas formas de exploração do continente africano duraram até 1885, quando os países europeus passam a exercer controle político das regiões africanas partilhando-os em colônias. Em 1830 missionários e exploradores adentram no continente com a finalidade de “salvar as almas selvagens”, mascarando pela religiosidade que a verdadeira intenção era a da conquista da África pela Europa. Os missionários tinham como intensão construir cidades aos moldes europeus, desrespeitando as culturas locais. Além disso prepararam os nativos para o cultivo dos produtos de exportação, incentivando o trabalho livre e denunciando a escravidão. Estes missionários estavam seguindo a propaganda inglesa da época. Os exploradores foram responsáveis por transmitir aos europeus os eixos de acesso ao centro do continente, colocando nos mapas europeus, por exemplo, a nascente do Rio Nilo; as descobertas do Rio Níger (com cerca de 4.200 quilômetros na região da África Ocidental) e do Rio Zambeze (com aproximadamente 2.700 quilômetros, unindo a costa Atlântica à costa Índica). A descoberta deste rio fez com que os portugueses sonhassem em ter um território que ligasse a parte atlântica africana, Angola, e a parte índica, Moçambique, que resultaria no mapa “cor-de-rosa”. Este projeto teve início com as incursões do Major Serpa Pinto entre 1877-1879. Estes empreendimentos ajudaram a acelerar os processos da partilha do continente africano pelas potências europeias. A partilha da África foi um dos períodos mais violentos da História Contemporânea e existiram quatro motivos principais que levaram os países europeus a realizarem, de fato, os planos de partilhar o continente, concretizados na Conferência de Berlim (1884-1885). O primeiro motivo foi a vontade do rei Leopoldo II da Bélgica de fundar um império ultramarino em 1865 - sua intenção de estudar uma forma de explorar o continente africano. Em 1876 Leopoldo II organizou a Conferência Internacional de Geografia de Bruxelas, com o objetivo de localizar rotas pelo interior do continente africano, além da instalação de postos científicos, hospitaleiros e pacificadores, a fim de estabelecer a paz entre as nações africanas. No fim da Conferência, Leopoldo II, estabeleceu uma “Confederação de Repúblicas Livres” no Congo, que se tornaria o futuro o Estado Livre do Congo, onde ele seria o soberano desse novo estado.O segundo motivo, foi a tentativa dos portugueses de colocarem em prática o projeto do “mapa cor-de-rosa”, que foi anunciado em 1883, estabelecendo o que seria uma província “Angolomoçambicana”. O terceiro motivo foi a política expansionista crescente dos franceses, que tentavam assumir o controle de partes do Norte da África. O quarto motivo, foi a intenção da Grã-Bretanha de dominar do Cairo (Egito) ao Cabo (África do Sul), além de se interessar por uma política de livre comércio e navegação nas bacias do Rio Níger e do Congo. Foi então que França, Grã-Bretanha, Portugal, Alemanha, Bélgica, Itália, Espanha, Áustria-Hungria, Países Baixos, Dinamarca, Suécia e Noruega, Turquia e EUA assinaram a ata da Conferência de Berlim em 1885, com o objetivo de assegurar as vantagens de livre navegação e o livre comércio sobre os principais rios africanos que desaguam no Atlântico e delimitaram os novos territórios africanos para cada país. É necessário entender que os povos africanos não aceitaram de forma passiva, e é importante pensar esses povos como múltiplos, e múltiplas foram as suas reações, sejam elas favoráveis ou contrárias, as resistências à partilha da África foram diversas. Leia também:
Referência: HERNANDEZ, Leila M. G. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. 3. ed. São Paulo: Selo Negro, 2008 Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/partilha-da-africa/ Há 130 anos, em 1885, terminava na Alemanha um encontro de líderes europeus que ficou conhecido como Conferência de Berlim. O objetivo era dividir África e definir arbitrariamente fronteiras, que existem até hoje. Tinha cinco metros o mapa que dominou o encontro em Berlim, que teve lugar na Chancelaria do Reich. Mostrava o continente africano, com rios, lagos, nomes de alguns locais e muitas manchas brancas. Quando a Conferência de Berlim chegou ao fim, a 26 de fevereiro de 1885, depois de mais de três meses de discussões, ainda havia grandes extensões de África onde nenhum europeu tinha posto os pés. Representantes de 13 países da Europa, dos Estados Unidos da América e do Império Otomano deslocaram-se a Berlim a convite do chanceler alemão Otto von Bismarck para dividirem África entre si, "em conformidade com o direito internacional". Os africanos não foram convidados para a reunião. À excepção da Etiópia e da Libéria, todos os Estados que hoje compõem África foram divididos entre as potências coloniais poucos anos após o encontro. Muitos historiadores, como Olyaemi Akinwumi, da Universidade Estatal de Nasarawa, na Nigéria, consideram que a Conferência de Berlim foi o fundamento de futuros conflitos internos em África. "A divisão de África foi feita sem qualquer consideração pela história da sociedade, sem ter em conta as estruturas políticas, sociais e económicas existentes." Segundo Akinwumi, a Conferência de Berlim causou danos irreparáveis e alguns países sofrem até hoje com isso. Novas fronteiras Foram definidas novas fronteiras e muitas rotas de comércio desapareceram porque já não era permitido fazer negócios com pessoas fora da sua própria colónia. Em muitos países, como foi o caso dos Camarões, os europeus desconsideraram completamente as comunidades locais e as suas necessidades, lembra o investigador alemão Michael Pesek, da Universidade de Erfurt. "Os africanos aprenderam a viver com fronteiras que muitas vezes só existiam no papel. As fronteiras são importantes para a interpretação do panorama geopolítico de África, mas para as populações locais têm pouco significado", defende. Na década de 1960, quando as colónias em África começaram a tornar-se independentes, os políticos africanos tiveram a oportunidade de rever os limites coloniais. No entanto, não o fizeram. "Em 1960, grande parte dos políticos africanos disse: se fizermos isso, então vamos abrir a caixa de Pandora", explica Michael Pesek. "E provavelmente tinham razão. Se olharmos para todos os problemas que África teve nos últimos 80 anos, vemos que houve muitos conflitos internos, mas muito poucos entre Estados por causa de fronteiras."
Funcionário do Governo alemão durante o período colonial nos Camarões Compensações pelo colonialismo Em 2010, no 125º aniversário da Conferência de Berlim, representantes de muitos países africanos em Berlim exigiram compensações para reparar os danos do colonialismo. A divisão arbitrária do continente africano entre as potências europeias foi um crime contra a humanidade, disseram em comunicado. Defendiam, por exemplo, o financiamento de monumentos em locais históricos, a devolução de terra e outros recursos roubados e a restituição de bens culturais. Mas, até hoje, nada disso foi feito. O historiador Michael Pesek não se mostra surpreendido. "Fala-se muito em compensações por causa do comércio de escravos e do Holocausto. Mas pouco se fala dos crimes cometidos pelas potências coloniais europeias durante os anos que passaram em África." O investigador nigeriano Olyaemi Akinwumi também não acredita que algum dia haverá qualquer tipo de indemnização.
Quais os impactos da Conferência de Berlim para o continente africano?As consequências da Conferência de Berlim
A principal consequência, obviamente, foi a divisão do território africano entre os países integrantes. A liberdade comercial na bacia do congo e no rio Níger foi conquistada, bem assim a proibição da escravidão e do tráfico de pessoas.
O que foi a Conferência de Berlim e quais suas consequências para a África?A conferência de Berlim, finalizada em fevereiro de 1885, permitiu a posse de quase 90% das terras africanas. Os europeus deixaram de lado as características culturais, sociais, étnicas e linguísticas das populações nativas, dividindo o continente de acordo com as suas preferências.
O que aconteceu durante a Conferência de Berlim?A Conferência de Berlim consagrou como regra de Direito Internacional o princípio de “uti possidetis jure” do litoral africano, afastando definitivamente os denominados “direitos históricos” (defendidos por Portugal).
O que aconteceu na Conferência de Berlim Brainly?A intenção do encontro foi definir quais territórios africanos esses países repartiriam entre si. Os povos africanos não foram convidados - após as decisões, muitos deles resistiram e lutaram como puderam. A Conferência foi marcante para a história.
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