O que é brincar Para Piaget e Vygotsky?

  1. Início
  2. Jornalismo

Jornalismo

Estudos, pesquisas e livros são boas fontes não só para compreender a relevância do brincar como também para proporcioná-lo às crianças. Mergulhe fundo neles!

Por

16/09/2016

Brincar é importante para os pequenos e disso você tem certeza. Mas por quê? Sem essa resposta, fica difícil desenvolver um bom trabalho com as turmas de creche e de pré-escola, não é mesmo? Se essa inquietação faz parte do seu dia a dia, sinta-se convidado a estudar o tema. Ele rende pano para manga desde muito, muito tempo atrás. "Os primeiros questionamentos sobre o brincar não estavam relacionados a jogos, brinquedos e brincadeiras, mas focavam a cultura", diz Clélia Cortez, formadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.

No fim do século 19, o psicólogo e filósofo francês Henri Wallon (1879-1962), o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) e o psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934) buscavam compreender como os pequenos se relacionavam com o mundo e como produziam cultura. Até então, a concepção dominante era de que eles não faziam isso. "Investigando essa faceta do universo infantil, eles concluíram que boa parte da comunicação das crianças com o ambiente se dá por meio da brincadeira e que é dessa maneira que elas se expressam culturalmente", explica Clélia.

Wallon foi o primeiro a quebrar os paradigmas da época ao dizer que a aprendizagem não depende apenas do ensino de conteúdos: para que ela ocorra, são necessários afeto e movimento também. Ele afirmava que é preciso ficar atento aos interesses dos pequenos e deixá-los se deslocar livremente para que façam descobertas. Levando em conta que as escolas davam muita importância à inteligência e ao desempenho, propôs que considerassem o ser humano de modo integral. Isso significa introduzir na rotina atividades diversificadas, como jogos. Preocupado com o caráter utilitarista do ensino, Wallon pontuou que a diversão deve ter fins em si mesma, possibilitando às crianças o despertar de capacidades, como a articulação com os colegas, sem preocupações didáticas.

Já Piaget, focado no que os pequenos pensam sobre tempo, espaço e movimento, estudou como diferem as características do brincar de acordo com as faixas etárias. Ele descobriu que, enquanto os menores fazem descobertas com experimentações e atividades repetitivas, os maiores lidam com o desafio de compreender o outro e traçar regras comuns para as brincadeiras.

As pesquisas de Vygotsky apontaram que a produção de cultura depende de processos interpessoais. Ou seja, não cabe apenas ao desenvolvimento de um indivíduo, mas às relações dentro de um grupo. Por isso, destacou a importância do professor como mediador e responsável por ampliar o repertório cultural das crianças. Consciente de que elas se comunicam pelo brincar, Vygotsky considerou uma intervenção positiva a apresentação de novas brincadeiras e de instrumentos para enriquecê-las. Ele afirmava que um importante papel da escola é desenvolver a autonomia da turma. E, para ele, esse processo depende de intervenções que coloquem elementos desafiadores nas atividades, possibilitando aos pequenos desenvolver essa habilidade.

Jogar define a organização da cultura humana

Mais focado na questão do brincar com jogos, o filósofo e historiador holandês Johan Huizinga (1872-1975) se dedicou a observar os aspectos do tema no que diz respeito não só ao universo infantil. Ele se debruçou sobre a questão envolvendo a produção cultural de forma geral, chegando a propor que a nomenclatura Homo ludens fosse usada para distinguir os humanos de outras espécies, como Homo sapiens e Homo faber.

A razão, de acordo com ele, é a seguinte: os jogos fazem parte de todas as fases da vida e estão na base do surgimento e do desenvolvimento da civilização, a ponto de definir a organização cultural das sociedades. Seus mecanismos e suas estruturas estão na essência, por exemplo, de guerras e leis. Com base em levantamentos históricos, Huizinga apontou que ambas têm características semelhantes às encontradas no funcionamento dos jogos. Há espaços definidos para as jogadas - o campo de batalha e o tribunal, respectivamente - e os adversários competem de acordo com regras no intuito de evitar arbitrariedades.

O pensamento infantil ainda desafia os pesquisadores

Se com os resultados das pesquisas realizadas entre os séculos 19 e 20, várias questões sobre o brincar foram respondidas, ainda existem muitas sem respostas. Hoje, diversos pesquisadores continuam se dedicando ao tema levando em consideração o que Wallon e seus contemporâneos descobriram.

O filósofo francês Gilles Brougère, por exemplo, se dedica a pesquisar os brinquedos e a relação das crianças com eles em diferentes contextos desde a década de 1970. Ele defende que, mesmo fazendo parte da essência do ser humano, a brincadeira precisa de um contexto social para ocorrer. Com base nessa concepção, define o objeto como algo simbólico e que só tem caráter funcional quando os pequenos o utilizam em brincadeiras. Ao levar em conta esse aspecto, Brougère considera que a intervenção do educador deve ocorrer para socializar as diferentes maneiras de brincar da turma, com conversas e registros.

No Brasil, núcleos de pesquisas também se dedicam ao tema. É o caso do Grupo de Estudo e Pesquisa em Psicopedagogia (Gepesp) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do qual faz parte Rosely Brenelli, doutora em Psicopedagogia. Desde a década de 1980, ela se dedica a pesquisar jogos de regra e sua influência nas interações sociais, focando o ambiente escolar.

O estudo teve como ponto de partida a observação de crianças com dificuldades de aprendizagem para entender como as necessidades delas podem ser supridas com jogos. "Eles surgiram como uma alternativa para o ensino de alguns conteúdos. Mas era necessário entender por que isso ocorria e em que medida seria útil na sala de aula", diz. A pesquisa abordou como as intervenções do educador afetam a construção do raciocínio de uma criança durante o jogo. "Analisamos em que medida isso deve ocorrer para que ela construa suas habilidades."

Outra brasileira que estuda o brincar é Renata Meirelles, mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Com o objetivo de conhecer e divulgar o amplo repertório de jogos, brinquedos e brincadeiras do Brasil, ela se voltou às práticas externas à escola. "Descobri modalidades e variações interessantes a serem exploradas", diz ela.

Além desses estudiosos, existem outros empenhados em desvendar as questões que envolvem jogos, brinquedos e brincadeiras, a relação deles com os pequenos, com a Educação e com você também. Vale a pena conhecer mais a fundo as pesquisas para enriquecer as experiências da turma.

  • Henri Wallon Na escola, as brincadeiras devem ter um fim em si mesmas
  • Jean Piaget O brincar se dá de acordo com as faixas etárias
  • Lev Vygotsky O educador deve ampliar o repertório cultural das crianças
  • Johan Huizinga Os jogos definem a organização cultural das sociedades
  • Gilles Brougère As brincadeiras precisam de um contexto social para ocorrer
  • Rosely Brenelli Os jogos podem ajudar na aprendizagem da criançada
  • Renata Meirelles A escola deve aproveitar o repertório das crianças

continuar lendo

Veja mais sobre:

O que é o brincar para Piaget?

Piaget (1978) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.

O que é o brincar para Vygotsky?

Para Vygotsky (1991) o brincar é essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois os processos de simbolização e de representação a levam ao pensamento abstrato. Elkonin (1998) avançando nos estudos de Vygotsky elaborou a lei do desenvolvimento do brinquedo.

O que os teoricos falam sobre o brincar?

Autores como Vygotsky (1984), Huizinga (1990) e Negrine (1994) (cit. Dallabona & Mendes, 2004) defendem a ideia de que o brincar é uma atividade que contribui positivamente para o desenvolvimento da criança. Este pode ser linguístico, social, cognitivo, motor, físico, sensorial e afetivo.