Quais os desafios da valorização da cultura indígena?

A redação do Enem merece bastante atenção por ser um dos maiores pesos na pontuação final do aluno e, também, pelo fato de abordar criticamente questões sociais.

O tema da Redação do Enem de 2022 não foi diferente: “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” trouxe, aos candidatos, a necessidade de refletir sobre uma realidade que faz parte da vida de muitos brasileiros.

Análise das Referências

Texto I

Você sabe quais são as comunidades e os povos tradicionais brasileiros? Talvez indígenas e quilombolas sejam os primeiros que passam pela cabeça, mas, na verdade, além deles, existem 26 reconhecidos oficialmente e muitos outros que ainda não foram incluídos na legislação.

São pescadores artesanais, quebradeiras de coco babaçu, apanhadores de flores sempre-vivas, caatingueiros, extrativistas, para citar alguns, todos considerados culturalmente diferenciados, capazes de se reconhecerem entre si.

Para uma pesquisadora da UnB, essas populações consideram a terra como uma mãe, e há uma relação de reciprocidade com a natureza. Nessa troca, a natureza fornece “alimento, um lugar saudável para habitar, para ter água. E elas se responsabilizam por cuidar dela, por tirar dela apenas o suficiente para viver bem e respeitam o tempo de regeneração da própria natureza”, diz.

O primeiro texto, retirado de uma reportagem veiculada pelo G1, é importante por diversos aspectos. Primeiramente, porque ele traz a noção de que muitos de nós, cidadãos brasileiros, não temos conhecimento sobre quais são os povos e comunidades tradicionais do nosso país: talvez pensemos apenas em indígenas e quilombolas. Essa ideia já faz refletir “por que não temos esse conhecimento?”.

Além disso, o texto dá alguns exemplos e, exatamente por não contemplar todos, nos faz entender que também não é necessário que o candidato aborde todas as comunidades e povos tradicionais brasileiros.

Por fim, para que não reste dúvida, há a definição de uma pesquisadora da UnB sobre essas populações, deixando evidente a relação delas com a terra e a natureza, o que é extremamente interessante para abrir caminho para contrastar com a exploração dos recursos naturais, com o capitalismo, com casos de violência contra esses povos e aqueles que os defendem – por exemplo, o assassinato de Dom e Bruno poderia ter sido abordado.

Texto II

Quais os desafios da valorização da cultura indígena?

O segundo texto é essencial para que tenhamos dados sobre os povos tradicionais brasileiros, principalmente sobre onde a maioria de cinco deles está presente. A partir desses dados, principalmente pelo fato de o Brasil ser um país considerado “continental”, é possível traçar relações entre questões socioculturais, econômicas e regiões brasileiras.

Texto III

Povos e comunidades tradicionais

O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) preside, desde 2007, a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), criada em 2006. Fruto dos trabalhos da CNPCT, foi instituída, por meio do Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2017, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). A PNPCT foi criada em um contexto de busca de reconhecimento e preservação de outras formas de organização social por parte do Estado.

O terceiro texto traz informações técnicas sobre órgãos responsáveis pela preservação de outras formas de organização sociais, fazendo o candidato refletir sobre o papel do Estado nesse cenário, além de fornecer informações que poderiam ser utilizadas – associadas a outras referências – como base para a argumentação.

Texto IV

Carta da Amazônia 2021

Aos participantes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26)

        Não podia ser mais estratégico para nós, Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais brasileiras, reafirmarmos a defesa da sociobiodiversidade amazônica nesse momento em que o mundo volta a debater a crise climática da COP26. Uma crise que atinge, em todos os contextos, os viventes da Terra!

Nossos territórios protegidos e direitos respeitados são as reivindicações dos movimentos sociais e ambientais brasileiros.

Não compactuamos com qualquer tentativa e estratégia baseada somente na lógica do mercado, com empresas que apoiam legislações ambientais que ameaçam nossos direitos e com mecanismos de financiamento que não condizem com a realidade dos nossos territórios.

Propomos o que temos de melhor: a experiência das nossas sociedades e culturas históricas, construídas com base em nossos saberes tradicionais e ancestrais, além de nosso profundo conhecimento da natureza.

Inovação, para nós, não pode resultar em processos que venham a ameaçar nossos territórios, nossas formas tradicionais e harmônicas de viver e produzir.

Amazônia, Brasil, 20 de outubro de 2021.

Entidades signatárias: CNS; Coiab; Conaq; MIQCB; Coica; ANA Amazônia e Confrem

O último texto é importante tanto como base para argumentação, podendo ser usado como referência, quanto para a reflexão sobre como questões climáticas e a falta de preservação ambiental prejudicam diretamente os povos em evidenciados pela proposta de redação.

Análise Geral

De modo geral, o tema pede para que se redija um texto sobre os desafios existentes para o reconhecimento e valorização dos povos tradicionais brasileiros. Estando a palavra “desafios” na frase-tema, devemos nos concentrar no fato de ser algo problemático: que não acontece como deveria. Além da palavra “desafio”, a palavra “valorização” também é extremamente importante: o que é valorizar? Basicamente, podemos entender como “reconhecer a importância”, “demonstrar a relevância” e, além disso, apresentar atitudes que condizem com esse cenário de valorização. Já em relação à definição de “comunidades e povos tradicionais”, o candidato não deveria se preocupar, já que os textos de apoio ajudaram bastante na definição e, é claro, não havia necessidade de contemplar especificamente a identidade de todos em uma redação de, apenas, 30 linhas.

Sugestão de Teses

O tema abre espaço somente para uma visão: existem obstáculos/dificuldades para que as comunidades e povos tradicionais sejam valorizados e essa valorização é importante.

Nesse sentido, existe a possibilidade de dois formatos de tese – a sintética e a analítica. A analítica depende de que caminhos o candidato escolheu seguir para defender o ponto de vista dele, já que, nela, há “spoiler” dos argumentos que serão trabalhados nos desenvolvimentos.

  • Tese sintética: “Os povos tradicionais brasileiros são constantemente menosprezados e, por isso, há urgência de medidas que minimizem os obstáculos de mudança desse cenário.”.
  • Tese analítica: “Nesse sentido, nota-se que há desafios para garantir a importância deles, devido ao descuido com a cultura nativa e à destruição de terras ribeirinhas.”.

O desenvolvimento deve comprovar o ponto de vista apresentado na introdução da redação. Em relação às teses mencionadas anteriormente, os argumentos poderiam ser:

  1. Problemas relacionados à alienação social e a questões políticas, principalmente, em se tratando de representatividade de direitos.

D1: Abordar a responsabilidade das instituições de ensino nesse cenário. Por exemplo, poderia problematizar o aprendizado da história ainda com uma perspectiva colonizadora e estereotipada em relação aos povos originários brasileiros.

D2: Problematizar o descaso da sociedade que é reflexo, também, do descaso estatal, fatos que, somados, perpetuam a falta de representatividade políticas dos povos tradicionais e, consequentemente, a ineficácia de políticas públicas que defendam seus direitos.

  1. Falar sobre o descuido com a cultura nativa e sobre a destruição de terras ribeirinhas.

D1: Trazer exemplos que ilustrem o descaso com a cultura nativa, citando, por exemplo, que os indígenas da Aldeia Maracanã, que já haviam sido expulsos do antigo Museu do Índio, foram expulsos de seus espaços durante os preparativos para a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos sediados no Brasil, associando esse fato à visão de violência simbólica de Bourdieu.

D2: Falar sobre crimes ambientais e como esses crimes impactam os povos tradicionais. Para isso, é possível abordar a população ribeirinha e o garimpo ilegal.

Conclusão

O tema, então, exige que sejam apresentados meios para driblar os desafios impostos à valorização das comunidades e povos tradicionais no Brasil. Essa intervenção deve solucionar ou amenizar os problemas mencionados no próprio texto. Por isso, as possíveis intervenções acerca dos argumentos poderiam ser:

  1. Ministério da Educação – órgão responsável por implementar mudanças nas diretrizes educacionais – deve propor alteração na BNCC acrescentando disciplinas sociais obrigatórias sobre o ensino acerca dos povos tradicionais brasileiros, incentivando a realização de feiras culturais e projetos que ampliem o conhecimento dos jovens as comunidades invisibilizadas no nosso país e como elas se organizam. Assim, desde cedo, indivíduos podem desenvolver maior noção sobre a necessidade de se envolver em causas que protejam essas populações, cobrando políticas públicas que garantam seus direitos e bem-estar.
  1. Ministério do Meio Ambiente – órgão responsável pela política ambiental – assegure o cumprimento das leis destinadas à proteção do ecossistema. Essa ação deve ser feita por meio da fiscalização do garimpo ilegal e efetiva extinção dessa prática depredatória, para que o povo ribeirinho tenha sua sobrevivência garantida. É importante, também, valorizar a cultura da população indígena, de modo que o mercado não tenha mais controle sobre suas terras, para que, enfim, as garantias fundamentais sejam colocadas em prática.

Quais são os desafios da cultura indígena brasileira na atualidade?

Para além dos desafios territoriais, os povos indígenas enfrentam, ainda nos dias de hoje, problemas com racismo, preconceito, violação aos direitos das mulheres indígenas, falta de acesso à saúde e serviços públicos, além da alimentação escassa e pobre em nutrientes.

Quais os desafios da valorização da cultura indígena na formação da sociedade brasileira?

Embora seja ficcional, a obra épica revela os desafios vividos pela sociedade no processo de valorização da cultura indígena. Nesse sentido, esses desafios podem ser enumerados como a incorporação cultural de outros povos, além da falta de proteção sobre regiões indígenas.

Porque a cultura indígena não é valorizada?

De acordo com ele, a sociedade tem um preconceito com os índios, pois não sabe a importância da terra para a sobrevivência desses povos: “Com a chegada dos portugueses, em 1500, tudo isso começou a se tornar uma tragédia para a gente, porque nós ficamos presos no sistema.

Qual a importância de valorizar a cultura dos povos indígenas?

A divulgação da cultura indígena pode sensibilizar a população para a importância de viver de forma sustentável e, assim, utilizar práticas conservacionistas e transmitir para as futuras gerações o conhecimento adquirido por esses povos. A valorização da cultura indígena é um dever de todos os países do mundo.