Quais são as doenças causadas por espiroquetas?

Características Gerais

Principais características das espécies Borrelia

  • Espiroquetas gram-negativas em forma de saca-rolhas
  • De maiores dimensões que as espécies de Treponema
  • Visualização:
    • Microscopia de campo escuro
    • Coloração de Wright ou Giemsa
    • Difíceis de observar através de coloração de Gram
  • Microorganismo microaerofílico
  • Rodeado por uma membrana externa rica em fosfolípidos e algumas proteínas
  • Difícil de cultura em meio comum; O meio Barbour-Stoenner-Kelly (BSK) é frequentemente usado.

Microscopia de campo escuro de Borrelia burgdorferi

Imagem: “Borrelia burgdorferi (CDC-PHIL-6631) lores” por CDC. Licença: Domínio Público

Espécies clinicamente relevantes

  • Doença de Lyme:
    • B. burgdorferi
    • B. afzelii
    • B. garinii
  • Febre recorrente:
    • A infeção transmitida por carraças está associada a várias espécies:
      • B. hermsii
      • B. turicatae
      • B. miyamotoi
      • B. hispânica
      • B. duttoni
      • B. pérsica
    • Transmissão por piolhos: B. recurrentis

Vídeos recomendados

Patogénese

Reservatórios

  • Roedores
  • Aves
  • Morcegos
  • Gazela de cauda branca
  • Humanos (B. recorrenteis)

Transmissão

  • Carraças
    • Ocorre através da injeção de saliva durante a alimentação
    • As carraças são habitualmente muito pequenas e por esse motivo a picada passa muitas vezes despercebida.
    • Uma fixação mais prolongada está associada a um maior risco de transmissão.
    • Espécies associadas
      • Ixodes scapularis (carraça de veado)
      • Ornithodoros
  • Piolho
    • Espécie: Pediculus humanus corporis (piolho do corpo humano)
      • Vive em roupas
      • Só se alimenta de humanos
    • A espécie B. recurrentis é introduzida quando o piolho é esmagado por humanos.
      • Pode entrar através de lesões na pele ou pela conjuntiva (por esfregar os olhos)
      • Não é transmitido pela saliva ou fezes do piolho

Virulência

  • Motilidade
    • Possuem numerosos filamentos axiais
      • Endoflagelos finos no espaço periplasmático
      • Permitem que mobilidade de forma giratória
    • Impulsiona o microorganismo através do sangue e da matriz extracelular
    • Permite a evasão da fagocitose
  • Proteínas de superfície externa (Osps)
    • As lipoproteínas de superfície podem ser reguladas para cima ou para baixo para facilitar a transmissão.
    • OspA
      • Responsável pela fixação ao intestino médio das carraças
      • A regulação negativa resulta no desprendimento e transferência para a saliva dos carrapatos.
    • OspC
      • Permite a invasão através da pele do hospedeiro
      • Importante para o uso de plasminogénio
        • Digere fibrina e glicoproteínas
        • Auxilia o movimento através da matriz extracelular
  • As proteínas principais variáveis (VMPs) fornecem variação antigénica.
    • As espécies de Borrelia são capazes de alterar os principais antigénios na sua superfície.
    • Permitem que as bactérias evitem a resposta imune adaptativa do hospedeiro
  • Por norma, as endo e exotoxinas não são produzidas; os sintomas decorrem da resposta do sistema imune do hospedeiro.

Filamentos axiais de Borrelia:
Os filamentos axiais são constituídos por múltiplos flagelos periplasmáticos (imagem inferior), permitindo que a espiroqueta (imagem superior) se mobilize de forma giratória.

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Populações de risco

  • Doenças transmitidas por carraças:
    • Caminheiros
    • Campistas
    • Carpinteiros
  • Doenças transmitidas por piolhos:
    • Refugiados
    • Sem-abrigo

Doenças Causadas por Borrelia

As seguintes doenças são causadas por Borrelia:

Tabela: Doenças causadas por Borrelia

DoençaDoença de LymeFebre RecorrenteEspécies associadasManifestações clínicasComplicaçõesDiagnósticoTratamentoPrevenção
  • B. burgdorferi (Estados Unidos)
  • B. afzelii e B. garinii (Europa)
  • B. hermsii, B. turicatae, B. miyamotoi (TBRF)
  • B. recurrentis (LBRF)
  • Febre, mialgias, linfadenopatia
  • Pele: eritema migrans crónico
  • Febre recorrente, mialgias, artralgias, cefaleia, delírio
  • Pele: erupção cutânea macular ou purpúrica no tronco e extremidades, eritema multiforme
  • Neurológicas: paralisia de Bell, meningite, meningorradiculite, encefalomielite
  • Cardíacas: miocardite, bloqueio AV
  • Musculoesqueléticas: poliartrite migratória
  • Neurológicas: paralisia de Bell, meningite, mielite
  • Cardíacas: miocardite
  • Pulmonares: SDRA
  • Hematológicas: trombocitopenia, hemoptises, epistáxis
Clínico, ELISA e Western blot Clínica, microscopia de campo escuro, coloração de Giemsa ou coloração de Wright de esfregaço de sangue
  • Doxiciclina
  • Ceftriaxone na doença grave
  • Doxiciclina, penicilina G
  • Doença grave: penicilina G, ceftriaxone
  • ↓ exposição a carraças → roupas de proteção, repelentes, remoção das carraças
  • PEP: doxiciclina em indivíduos de áreas de ↑ risco
  • TBRF: ↓ exposição a carraças → selar pisos de casas, evitar roedores, repelentes de carraças
  • LBRF: ↓ exposição ao piolho → melhoria das condições de higiene, ↓ aglomeração, lavagem das roupas
  • PEP: doxiciclina em indivíduos de áreas de ↑ risco

TBRF: febre recorrente transmitida por carraças

LBRF: febre recorrente transmitida por piolhos

AV: auriculoventricular

SDRA: síndrome de dificuldade respiratória aguda

ELISA: ensaio de imunoabsorção enzimática

PEP: profilaxia pós-exposição

Eritema migrans clássico de Borrelia burgdorferi

Imagem: “Diagnostic challenges of early Lyme disease: lessons from a community case series” por Aucott J, Morrison C, Munoz B, Rowe PC, Schwarzwalder A, West SK. Licença: CC BY 2.0

Comparação de Espiroquetas

As espiroquetas são gram negativas, em forma de espiral e móveis. A tabela abaixo compara sucintamente algumas espiroquetas clinicamente relevantes:

Tabela: Comparação de espiroquetas clinicamente relevantes

MicroorganismoMicroFatores de virulênciaReservatórioTransmissãoClínicaDiagnósticoTratamento
Treponema pallidum pallidum Outras subespécies de T. pallidum Treponema carateum Borrelia burgdorfi Borrelia recurrentis Leptospira interrogans
  • Microaerófilo
  • Não se observa com a técnica de coloração de Gram ou Giemsa
  • Microaerófilo
  • Não se observa com a técnica de coloração de Gram ou Giemsa
  • Microaerófilo
  • Não se observa com a técnica de coloração de Gram ou Giemsa
  • Microaerófilo
  • Não se observa com a técnica de coloração de Gram ou Giemsa
  • Microaerófilo
  • Não se observa com a técnica de coloração de Gram ou Giemsa
  • Aeróbio
  • Extremidades em gancho
  • Hialuronidase
  • Revestimento de fibronectina
  • Hialuronidase
  • Revestimento de fibronectina
  • Hialuronidase
  • Revestimento de fibronectina
  • Variação antigénica
  • Regulação por Osp
Variação antigénica
  • LPS
  • Hemolisinas
  • Reguladores e enzimas do complemento
Humanos Humanos Humanos
  • Roedores
  • Veados
Humanos
  • Animais selvagens
  • Gado
  • Animais domésticos
Contacto sexual Contacto P2P Contacto P2P Carraça Ixodes Piolho Contacto direto com tecidos ou fluidos animais
Sífilis
  • Bouba
  • Bejel
Pinta Doença de Lyme Febre Recorrente
  • Leptospirose
  • Doença de Weil
  • VDRL
  • FTA-ABS
  • Visualização direta
  • História clínica
  • VDRL
  • FTA-ABS
  • História clínica
  • VDRL
  • FTA-ABS
  • História clínica
  • ELISA
  • Western blot
Análise do esfregaço de sangue
  • Hemocultura
  • Urocultura
  • ELISA
  • PCR – reação em cadeia da polimerase
  • Penicilina G
  • Ceftriaxone
  • Doxiciclina
  • Penicilina G
  • Azitromicina
  • Penicilina G
  • Azitromicina
  • Doxiciclina
  • Amoxicilina
  • Ceftriaxone
  • Penicilina G
  • Doxiciclina
  • Penicilina G
  • Doxiciclina

Osp: proteína de superfície externa

LPS: lipopolissacarídeo

P2P: pessoa a pessoa

Microaero: microaerófilo

VDRL: Teste de laboratório de pesquisa de doenças venéreas

FTA-ABS: absorção de anticorpos treponémicos fluorescentes

ELISA: ensaio de imunoabsorção enzimática

PCR: reação em cadeia da polimerase

Comparação visual de espiroquetas por micrografia eletrónica: espirais espessas de Treponema

Imagem: “Treponema pallidum” por Dr. David Cox. Licença: Domínio Público

Comparação visual de espiroquetas por micrografia eletrónica: as espécies de Borrelia são maiores que as de Treponema

Imagem “Lyme disease parasite, Borrelia burgdorferi” por Claudia Molins. Licença: Domínio Público

Comparação visual de espiroquetas por micrografia eletrónica: extremidades em gancho da Leptospira

Imagem: “A filtration-based technique for simultaneous SEM and TEM sample preparation for the rapid detection of pathogens” por Beniac DR, Siemens CG, Wright CJ, Booth TF. Licença: CC BY 3.0, editado por Lecturio.

Referências

  1. Barbour, A.G. (2020). Clinical features, diagnosis, and management of relapsing fever. In Mitty, J. (Ed.), Uptodate. Retrieved December 21, 2020, from //www.uptodate.com/contents/clinical-features-diagnosis-and-management-of-relapsing-fever
  2. Barbour, A.G.(2020). Microbiology, pathogenesis, and epidemiology of relapsing fever. In Mitty, J. (Ed.), Uptodate. Retrieved December 22, 2020, from //www.uptodate.com/contents/microbiology-pathogenesis-and-epidemiology-of-relapsing-fever
  3. Barbour, A.G. (2020). Microbiology of Lyme disease. In Mitty, J. (Ed.), Uptodate. Retrieved December 22, 2020, from //www.uptodate.com/contents/microbiology-of-lyme-disease
  4. Gladwin, M., & Trattler, B. (2008). Clinical microbiology made ridiculously simple (4th edition). Miami: MedMaster

Quais as doenças causadas por espiroquetas?

A65-A69 Outras doenças por espiroquetas.
leptospirose (A27.-).
sífilis (A50-A53).
A65 Sífilis não-venérea..
A66 Bouba..
A67 Pinta [carate].
A68 Febres recorrentes [Borrelioses].
doença de Lyme (A69.2).
A69 Outras infecções por espiroquetas..

O que causa a bactéria espiroquetas?

Essa bactéria espiroqueta influencia na danificação do tecido quando há uma infecção. Caso elas estejam em desarmonia com a microbiota da gengiva, que é o conjunto de microorganismos que habitam nela, por conta da periodontite, elas estimulam a deterioração do local.

Quais os sintomas da espiroquetas?

Os sintomas são inespecíficos: mal-estar, febre, cefaléia, rigidez da nuca, dores musculares, dores articulares e íngua. Podem durar várias semanas ou mais quando a doença não é devidamente tratada.

O que é um tipo de Espiroqueta?

tipo de bactérias, pertencente ao reino monera, que têm forma espiral. Podem ser patogênicas.

Toplist

Última postagem

Tag