Elainne Christine de Souza Gomes, pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz/PE) e coordenadora do Laboratório de Referência em Esquistossomose para o Ministério da Saúde, explica que essa é uma doença negligenciada — quando se conhece o processo de transmissão, as consequências, a patogenia e as estratégias de prevenção e controle, mas ainda assim faltam ações efetivas para o enfrentamento. “Normalmente existem tratamentos, mas mesmo assim as medidas de controle são ineficientes para erradicar a doença. Ela continua existindo na população por uma série de outros fatores associados a condições socioeconômicas, principalmente o acesso à água encanada e ao saneamento básico”, explica. Segundo a pesquisadora, a maioria das doenças negligenciadas estão associadas a populações em situação de vulnerabilidade, embora haja exceções, como é o caso da tuberculose, que ainda existe em países desenvolvidos.
Como Elainne explica, essa é uma doença parasitária sanguínea. O parasita se aloja nas veias que irrigam o fígado e o baço (chamadas de veias do sistema porta), onde a fêmea e o macho copulam e vivem juntos por vários anos. A fêmea começa a produção de ovos, que libera no sistema sanguíneo. É esse o grande agente patogênico da doença e não o parasita em si, de acordo com a pesquisadora. Esses ovos saem nas fezes da pessoa infectada — liberadas no esgoto, se não há tratamento correto, elas podem encontrar novos hospedeiros intermediários e recomeçar o ciclo da doença. Na visão da pesquisadora, combater o caramujo não é suficiente. “A gente saiu de um panorama em que tínhamos altas prevalências, quando a principal estratégia era matar o caramujo e tratar a população em massa, para um sistema em que a principal estratégia é não mais fazer extermínio do vetor, porque já foi observado que o caramujo tem inúmeras estratégias de sobrevivência”, descreve.
“É aí que acontece a contaminação do ser humano, ao entrar em contato com os pés descalços em água contaminada, por exemplo”, explica o biólogo. Segundo ele, a doença pode atingir alguns órgãos, como fígado e pulmão, podendo causar aumento do fígado e baço e hemorragia digestiva. “São problemas sérios que podem até levar à morte da pessoa, caso não seja diagnosticada de forma adequada”, ressalta. A coordenadora do Laboratório de Referência para a doença descreve que, depois que a cercária penetra na pele, ela transforma-se em esquistossômulo — forma juvenil do parasita — e percorre o sistema circulatório até chegar no fígado e ali se instala na circulação sanguínea do órgão. Uma vez que o macho encontra a fêmea, eles podem viver por vários anos naquele sistema circulatório. A fêmea começa a colocar os ovos, que vão sendo espalhados para vários tecidos. Uma parte desses ovos vai para o intestino, causando a forma inicial da doença. Com o tempo, acabam sendo levados pelo fluxo sanguíneo para o fígado e o baço e começam a provocar os problemas de aumento dos órgãos, o que acarreta no extravasamento de líquidos para o abdômen — formando o que se chamava “barriga d’água”.
“A gente tem tudo, no Brasil, para erradicar a esquistossomose, porque existe uma cobertura assistencial de atenção básica muito boa”, pondera. Segundo a pesquisadora, o que falta é, ainda, atenção à questão ambiental. “Mesmo que eu trate este indivíduo, ele vai voltar para a sua casa, que é uma área sem cobertura sanitária, e vai entrar novamente em contato com o ambiente insalubre em que há a presença do caramujo e em que existem outros indivíduos doentes. Então, é possível que ele venha a se reinfectar”. Para ela, “a bala de prata” do controle da esquistossomose é o saneamento básico, que resolveria o problema dessa e de muitas outras doenças, associadas à precária condição sanitária ainda presenciada em muitos lugares do Brasil. No trabalho em Vigilância em Zoonoses, a equipe que Marcos Paulo coordena faz o mapeamento do município em relação à questão de áreas vulneráveis, da própria falta do saneamento básico, do abastecimento adequado e da potabilidade da água. A equipe realiza busca ativa em relação ao vetor, tanto o caramujo aquático Biomphalaria, que transmite a esquistossomose, quanto de outros, como o Achatina fulica, conhecido como caramujo africano, que é vetor de outras doenças. “A gente faz todo o trabalho de prevenção, orientação junto à população e controle da população desses animais”, descreve.
Fonte: Radis Seções Relacionadas: Nenhum comentário para: Esquistossomose permanece endêmica em regiões do Brasil pela falta de saneamento básico Comente essa matéria: Utilize o formulário abaixo para se logar. E-mail E-mail é obrigatório e deve possuir um e-mail válido Nome: Nome é obrigatório e deve possuir ao menos 10 caracteres Comentário: Todo material postado é de inteira responsabilidade do autor, mas a seleção dos conteúdos é feita pela equipe de editores do Portal, não havendo qualquer obrigatoriedade de publicá-los. É condição necessária para publicação, a certeza de identificação do autor, que assume total responsabilidade sobre os direitos autorais dos conteúdos que assina. Você concorda que não utilizará os serviços deste Portal para:
Todo conteúdo deverá ser incluído respeitando as regras estabelecidas neste portal. O usuário deverá se identificar, incluindo seu nome correto e e-mail válido. Não será permitido o uso de apelidos. O conteúdo que for considerado impróprio pelos editores, desrespeitando princípios éticos, ferindo a privacidade dos colaboradores ou denegrindo a imagem institucional não serão aceitos para publicação. A ENSP reserva-se o direito de não publicar ou retirar do Portal qualquer conteúdo que motive reclamações de usuários, questionando a veracidade, autoria, co-autoria, coerência, consistência das informações enviadas, ou por outros motivos que entender conveniente, e de suspender, unilateralmente, independentemente de reclamação, o acesso público a conteúdos que infrinjam este contrato. Conheça os termos de uso do portal. li e concordo com os termos Qual a importância do controle da população de caramujos no combate à esquistossomose?Por isso, é importante que a população esteja atenta à presença do molusco, que normalmente vive em locais úmidos e alagados. Somente uma espécie de caramujos, a Biomphalaria glabrata, é transmissora da esquistossomose. Ela é encontrada exclusivamente em regiões aquosas, a exemplo de lagos e pequenos córregos.
Qual a função do caramujo para a esquistossomose?A doença- A esquistossomose é uma doença causada pelo Schistosoma mansoni, parasita que tem no homem seu hospedeiro definitivo, mas que necessita de caramujos, como B. glabrata,como hospedeiros intermediários para desenvolver seu ciclo evolutivo.
Por que o controle da população de caramujos hospedeiros?Aprovada pela comunidade. O controle da população de caramujos hospedeiros de esquistossomose é importante para quebrar o ciclo desta verminose, pois a larva deste verme é liberada na água e contamina o homem. O homem, por sua vez, libera os ovos do verme através das fezes que infectam os caramujos e assim por diante.
Qual o controle da esquistossomose?Prevenção e Controle
A prevenção da esquistossomose consiste em evitar o contato com águas onde existam os caramujos hospedeiros intermediários infectados. O controle da esquistossomose é baseado no tratamento coletivo de comunidades de risco, acesso a água potável e saneamento básico e educação em saúde.
|