A origem do carnaval festa popular

Existe um velho dito popular que diz que o ano só começa depois do Carnaval. Mas, pela primeira vez, o brasileiro vai ter que iniciar um novo ano sem a festa tradicional que marca a celebração que antecede o início da Quaresma, segundo o calendário católico Ocidental.  A pandemia do novo coronavírus fez com que a comemoração fosse adiada não só no Brasil, mas também no mundo. Poucos sabem, mas a festa não é realizada apenas aqui. A origem do Carnaval vem de longa data.

Quando e onde surgiu o Carnaval?

A origem do carnaval festa popular
(Reprodução/Google)

O Carnaval é uma festa popular realizada em diferentes lugares do mundo, portanto, não é invenção brasileira como muitos imaginam. Segundo historiadores, a origem da festa vem da antiguidade, e existem algumas teorias e registros sobre quando foi inventada – e tudo indica que é ligada ao cristianismo.

No Brasil, por exemplo, o Carnaval foi “importado” pelos colonizadores portugueses, que ao chegarem no país, trouxeram diversos rituais europeus, entre eles festividades associadas à cultura cristã, como o próprio Carnaval. Apesar dos registros na Europa, a data também foi encontrada na Babilônia e Mesopotâmia. De acordo com os historiadores brasileiros, a festa se estabeleceu no Brasil durante os séculos XVI e XVII e tem como principal região o Rio de Janeiro.

Algumas das tradições mais conhecidas como o desfile e as máscaras, existem desde a idade média. Mas antes deste período, a festa já era associada aos prazeres e à “subversidade”, já que os papéis sociais eram invertidos, como, por exemplo, os homens se vestindo de mulheres. A associação entre o Carnaval e as orgias é relacionada com as festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos).

O Carnaval como é conhecido atualmente, remonta tradições presentes no Carnaval de Roma, na Itália medieval. As festas duravam dias e dias, e eram regadas a álcool, fartura e danças. Os elementos circenses e a festa de rua pública também veem da mesma época. A cidade de Paris, na França, também teve um papel relevante como principal “exportadora da festa carnavalesca” para o resto do mundo.

Qual o motivo do Carnaval?

O Carnaval é um rito de passagem, tanto visto através da perspectiva das celebrações pagãs –  na Mesopotâmia era um momento de comemoração do “ano novo” que se iniciava com a chegada de uma nova estação – como também na ótica cristã. Hoje em dia mesmo, a celebração se tornou para os brasileiros, uma data que inicia o resto do ano, por exemplo. Mas segundo historiadores, a Igreja pretendia manter uma data para as pessoas “cometerem seus excessos”, antes do período da severidade religiosa. Nesse momento, o Carnaval estendia-se durante várias semanas, entre o Natal e a Páscoa.

Qual é o significado do Carnaval para os cristãos?

A origem do carnaval festa popular
Carnaval cristão (Foto: Arquidiocese de Teresina/Divulgação)

Registros históricos apontam que a palavra “Carnaval” possui origem do latim “carnis levale”, cujo significado é “retirar a carne”. Para os cristãos, a etimologia da palavra está ligada ao jejum que deve ser realizado durante a Quaresma, assim como o controle dos prazeres mudanos.  Com o passar dos anos, a Igreja Católica fez um movimento de ressignificação da data senso mais cristão.

Origem da data de Carnaval

Por isso também, o Carnaval costuma ocorrer 47 dias antes da Páscoa, em fevereiro, geralmente, ou às vezes em março (como no caso de 2020). Conforme o Cálculo da Páscoa, ocorre próximo do dia de Lua Nova.

Origem do Carnaval no Brasil

A origem do carnaval festa popular
(Foto: Fernando Grilli/RioTur/FotosPúblicas)

O Carnaval é uma parte importante da cultura brasileira. A primeira manifestação aconteceu na época da colônia, quando a festividade era praticamente somente pelos escravos e se chamava “entrudo”.  Na época, não passava de uma “brincadeira” e a principal piada era jogar água e “limões perfumados” uns nos outros. Para isso, os escravos também se fantasiavam. Em 1841 o entrudo foi proibido, mas continuou até meados do século XX.

Segundo dados históricos, o primeiro baile de Carnaval aconteceu no Rio de Janeiro em 1840, nos moldes europeus, totalmente diferente do entrudo. As pessoas dançavam valsa e também usavam máscaras como em Veneza. Em 1855, as pessoas mais ricas organizaram as “sociedades” que desfilavam em carros alegóricos. Como reação, as pessoas mais pobres começaram a desfilar também, mas de uma forma mais simples.

Depois surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos, e as escolas de samba. Afoxés, frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca brasileira. As marchinhas, sambas e outros gêneros musicais foram incorporados à maior manifestação cultural do Brasil.

Fonte: SILVA, Daniel Neves. “História do Carnaval”; Brasil Escola. 

Carnaval em 2021 no Brasil

Com a pandemia da Covid-19, neste ano o Brasil não vai comemorar o Carnaval. Em julho de 2020, tanto as prefeituras de Rio de Janeiro e São Paulo anunciaram o adiamento dos desfiles das escolas de samba. Na época, se falava em transferir a festa para o mês de julho de 2021.

A cidade de Salvador, na Bahia, que também é referência quando se trata de Carnaval, seguiu os mesmos passos de São Paulo e Rio e disse que o planejamento das comemorações aconteceria em julho, uma previsão que caminhou com o cronograma de vacinação em todo país. Entretanto, com as atuais perspectivas, a data será comemorada apenas em 2022 – quando o plano nacional de imunização já estará mais avançado.

Até o momento, apenas 2,16% da população brasileira foi vacinada, um total de 4.584.338 pessoas receberam as duas doses da vacina. A informação foi dada pelo UOL nesta última sexta-feira, 12 de fevereiro.

O Carnaval é uma das principais manifestações culturais do Brasil, sendo realizado em todo o território nacional, nos meses de fevereiro ou março. O Carnaval é uma data móvel, em virtude de ser realizado na terça-feira anterior à chamada quarta-feira de cinzas, que é definida de acordo com a celebração da Páscoa cristã.

A relação do Carnaval com o catolicismo serve como ponto de partida para entender a origem dessa festa popular comemorada não só no Brasil, mas em diversos países.

Leia também: Corpus Christi – celebração católica ao sacramento da Eucaristia

Origem do Carnaval

O Carnaval é uma festa de origem pagã, que remonta à Antiguidade. Em face de uma de suas principais características, a inversão dos papéis sociais durante as comemorações – como os escravos se fantasiarem de senhores, por exemplo –, a origem do Carnaval pode ser encontrada tanto na Mesopotâmia quanto na Grécia ou em Roma.

Na Babilônia, um exemplo de inversão dos papéis pode ser encontrado nas Saceias, uma festa em que um prisioneiro assumia durante poucos dias as insígnias reais e suas vestimentas, podendo ainda dormir com as esposas do rei. Após esse período de poucos dias, o prisioneiro era castigado com chicotadas, sendo depois enforcado ou empalado.

Na Grécia, uma das origens e características do Carnaval podem ser encontradas nas festas dedicadas a Dionísio, também conhecido como Baco entre os romanos, o deus das videiras e do vinho. A inversão de papéis também era verificada, com prostitutas vestindo-se de virgens e homens de mulheres, por exemplo. A bebedeira também estava presente, servindo combustíveis para a prática dos atos de libertinagem.

Em Roma, essas características eram verificadas em festas como as Saturnálias, celebradas em dezembro, e as Lupercálias, ocorridas em fevereiro, que marcavam o período anterior ao ano-novo para os romanos, comemorado em março. O consumo de bebidas, comidas, a inversão dos papéis sociais e a libertinagem dessas festas pagãs desagradavam a moralidade e o controle social que a Igreja Católica pretendia exercer.

Com o objetivo de estruturar seu poder e garantir seu crescente domínio na sociedade que habitou o Império Romano, a Igreja buscou disciplinar tais festas e impor alguns limites. Com a criação da quaresma no século VIII, a Igreja limitou a realização das festas até essa data, comemorada 40 dias antes da Páscoa.​

A origem do carnaval festa popular
Carnaval no sambódromo do Rio de Janeiro, uma das principais celebrações populares do Brasil.[1]

Como a quaresma era um período de jejum e controle dos comportamentos, as festas anteriores a ela eram marcadas pela liberdade no consumo e no comportamento. Talvez essas características expliquem uma das hipóteses para a origem do vocábulo Carnaval. Sua origem pode ser o termo latino carnis levale, que significa retirar a carne, uma referência ao jejum da quaresma.

A origem do carnaval festa popular
Tela de Johannes Lingelbach (1622-1674), Carnaval em Roma, que mostra um carnaval da commedia dell'arte.

Mesmo com o controle católico, a festa continuou a ser praticada durante toda a Idade Média e à época moderna. Na Renascença até o século XVIII, um exemplo da prática do carnaval pode ser encontrado com a commedia dell'arte italiana, de onde teriam saído figuras características, como o pierrô e a colombina.

Veja também: 21 de janeiro – Dia Mundial da Religião

Carnaval no Brasil

No Brasil, o Carnaval chegou possivelmente com o entrudo, uma festa anterior à quaresma praticada pelos portugueses. Entrudo significa entrada, marcando assim a entrada do período de carestia religiosa. No Brasil, ela era praticada desde o período colonial, principalmente por escravos e as camadas populares.

A origem do carnaval festa popular
​O entrudo pintado por Jean-Baptiste Debret (1768-1848).

O entrudo consistia na tomada das ruas por pessoas fantasiadas, com os rostos pintados com farinha, que era jogada nas pessoas. Além disso, os chamados limões-de-cheiro, com perfumes quase sempre desagradáveis, eram jogados também nas pessoas que estavam nas ruas. A prática era considerada violenta, além de haver uma sátira com as posições sociais, o que desagradava a elite do Brasil.

Uma primeira tentativa de controlar o entrudo ocorreu na década de 1840 no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a elite da capital do Império passava a celebrar o Carnaval em clubes fechados e pagos, nos moldes do Carnaval de Veneza.

Aos poucos, a elite conseguiu sair às ruas do Rio de Janeiro, após a repressão ao entrudo, principalmente com o desfile das chamadas sociedades. A partir daí duas práticas carnavalescas distintas ocorreram na então capital do Brasil.

De um lado, a elite, com as sociedades e depois com os corsos, desfiles em carros conversíveis pela Avenida Central. Do lado popular, surgiram os ranchos e os cordões, cortejos acompanhados de alguns instrumentos de percussão, que se assemelhavam esteticamente às procissões religiosas. Mais uma vez é possível perceber a inversão de valores da sociedade durante o Carnaval, além da disputa do espaço urbano entre a elite e as classes populares.

Gêneros musicais surgiram também no Carnaval, podendo ser citados as marchinhas e o samba. As chamadas escolas de samba surgiram na década de 1920 e fortaleceram-se ao longo das décadas, ganhando impulso financeiro e comercial em 1960 para se transformarem em uma das principais atrações turísticas do país.

No Nordeste, podemos destacar ainda o Carnaval de Salvador, cujas características remontam aos afoxés dos descendentes de escravos surgidos na virada do século XIX para o XX, e que ganhou impulso com o desenvolvimento dos trios elétricos na década de 1950.

A origem do carnaval festa popular
​Trio elétrico no carnaval de Salvador, na Bahia.[2]

Em Pernambuco, o destaque do Carnaval está no frevo e no maracatu praticados nas ruas de cidades como Olinda e Recife.

O Carnaval como festa popular ainda mantém algumas características da Antiguidade, como a inversão dos papéis e a liberalização de comportamento. Porém, tornou-se um importante negócio para a sociedade capitalista brasileira.

Créditos das imagens

[1] Migel / Shutterstock
[2] Vinicius Tupinamba / Shutterstock