O que é ética profissional como deve ser um comportamento ético de um profissional de educação física?

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O que é ética profissional como deve ser um comportamento ético de um profissional de educação física?

�tica e Educa��o F�sica escolar: reflex�es e possibilidades

Ethics and school Physical Education: reflections and possibilities

�tica y Educaci�n F�sica en la escuela: reflexiones y posibilidades

O que é ética profissional como deve ser um comportamento ético de um profissional de educação física?

 

*Mestre em Ci�ncias da Motricidade pela UNESP � Rio Claro

Docente das Faculdades Integradas Claretianas

**Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano

pela USP, S�o Paulo. Docente da Universidade Estadual Paulista. Rio Claro

(Brasil)

Fernanda Moreto Impolcetto*

Suraya Cristina Darido**

 

Resumo

          O desenvolvimento de uma educa��o voltada para a cidadania pressup�e a apresenta��o de quest�es sociais que contribuam para a aprendizagem e reflex�o dos alunos, que ofere�am a possibilidade de uma vis�o ampla e consistente da realidade da qual fazem parte e proporcione o desenvolvimento da capacidade de posicionar-se diante das quest�es que interferem na vida coletiva. O presente trabalho apresenta reflex�es sobre a inclus�o do tema transversal �tica, indicado pelos Par�metros Curriculares Nacionais (PCNs/BRASIL, 1998), nas aulas de Educa��o F�sica escolar, indicando algumas possibilidades para a inser��o dos princ�pios de respeito m�tuo, justi�a, solidariedade e di�logo nessas aulas.

          Unitermos

: �tica. Educa��o F�sica escolar. Temas transversais.

Resumen

          El desarrollo de educaci�n centrada en la ciudadan�a supone la presentaci�n de cuestiones sociales que contribuyen al aprendizaje y reflexi�n de los estudiantes, ofreciendo la posibilidad de una visi�n amplia y coherente de la realidad de la que forman parte y proporciona el desarrollo de capacidades para situarse frente a los problemas que afectan la vida colectiva. Este art�culo presenta reflexiones sobre la inclusi�n del tema transversal ��tica�, seg�n lo determinado por los Par�metros Curriculares Nacionales (PCNs/BRASIL, 1998), en las clases de educaci�n f�sica, indicando algunas posibilidades para la inclusi�n de los principios de respeto mutuo, justicia, solidaridad y di�logo en las clases.

          Palabras clave

: �tica. Educaci�n F�sica escolar. Temas transversales.

Abstract

          The development of an education focused on citizenship presupposes the presentation of social issues that contribute to students learning and reflection, offering the possibility of a wide and consistent view of the reality where they are part of; and provides development of the ability to position in front of the issues that affect the collective life. This work presents reflections on the transversal theme, ethics, as indicate by Parametros Curriculares Nacionais (PCNs/BRAZIL, 1998), in physical education school classes, indicating some possibilities for the inclusion of the principles of mutual respect, justice, solidarity and dialogue in these classes.

          Keywords

: Ethics. School Physical Education. Transversal themes.  
O que é ética profissional como deve ser um comportamento ético de um profissional de educação física?
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - A�o 16 - N� 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

O que é ética profissional como deve ser um comportamento ético de um profissional de educação física?

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Introdu��o

    Buscar o desenvolvimento de uma educa��o voltada para a cidadania, requer segundo os PCNs (BRASIL, 1998) a apresenta��o de quest�es sociais que efetivamente contribuam para a aprendizagem e reflex�o dos alunos, que ofere�am a possibilidade de uma vis�o ampla e consistente da realidade da qual fazem parte e proporcione o desenvolvimento da capacidade de posicionar-se diante das quest�es que interferem na vida coletiva.

    Na perspectiva de consolidar este objetivo, o documento apresenta os Temas Transversais, alguns temas sociais emergentes, indicando-os como quest�es geradoras da realidade social, que, portanto, necessitam ser problematizados, criticados, refletidos e possivelmente encaminhados.

    De acordo com Darido et al (2001) este conjunto de temas propostos pelos PCNs (BRASIL, 1998) recebe a denomina��o de �transversais� pois podem e/ou devem ser trabalhados por todos os componentes curriculares. Deste modo, sua interpreta��o pode se dar entendendo-os como as ruas principais do curr�culo escolar que necessitam ser atravessadas por todas as disciplinas.

    A reflex�o �tica aparece como eixo norteador dessa concep��o, pois envolve posicionamentos e id�ias a respeito das causas e efeitos de sua dimens�o hist�rica e pol�tica. Discute sobre temas como a liberdade de escolha, interroga sobre a legitimidade de pr�ticas e valores consagrados pela tradi��o e pelos costumes sociais, abrangendo a cr�tica das rela��es entre os grupos, dos grupos nas institui��es e ante elas, como tamb�m a dimens�o das a��es pessoais. Trata ,portanto, de discutir o sentido �tico da conviv�ncia humana nas rela��es com v�rias dimens�es da vida social, como o ambiente, a cultura, o trabalho e o consumo, a sexualidade e a sa�de (BRASIL, 1998).

    Especificamente em rela��o ao tema transversal �tica, os PCNs (BRASIL, 1998) apresentam quatro princ�pios b�sicos nos quais o embasamento da pr�tica pedag�gica � proposto, sendo eles: o respeito m�tuo, a justi�a, a solidariedade e o di�logo.

    Pensando na inclus�o destes princ�pios nas aulas de Educa��o F�sica, ser� que um trabalho de valoriza��o do di�logo pode ajudar na resolu��o dos conflitos que geralmente acontecem nessas aulas? O que pode ser feito para que os alunos respeitem as diferen�as individuais? �tica no jogo implica em respeito pelo advers�rio? Os jogos podem possibilitar discuss�es sobre valores �ticos? A televis�o pode auxiliar o professor de Educa��o F�sica no trato de quest�es referentes a valores e �tica?

    O objetivo deste trabalho � refletir sobre a inclus�o do tema transversal �tica nas aulas de Educa��o F�sica escolar, indicando algumas possibilidades para a inser��o dos princ�pios de respeito m�tuo, justi�a, solidariedade e di�logo nessas aulas.

A �tica

    O conceito de �tica est� diretamente relacionado aos contextos hist�ricos e culturais que marcam o desenvolvimento e a vida das diversas sociedades. Estes contextos diversos nos revelam que, com o passar do tempo, as sociedades sofreram mudan�as e, desta maneira, tamb�m os homens que a comp�em. Pr�ticas que s�o condenadas pela sociedade atualmente, como a escravid�o, por exemplo, j� foram leg�timas tanto na Gr�cia Antiga quanto no Brasil.

    Dentro de cada cultura, criada a partir de diversos grupos com formas peculiares de viver, foram elaborados v�rios princ�pios e regras que regulam a conviv�ncia entre seus membros. Estes princ�pios e regras espec�ficas possuem a fun��o de indicar os direitos, deveres e obriga��es dos indiv�duos que participam da vida comum de uma sociedade. Os valores transformam-se em propriedades que s�o atribu�das pelos seres humanos � realidade, por meio das rela��es que s�o estabelecidas entre si e com essa realidade, transformada continuamente.

    Sendo assim, � por meio da cria��o cultural de cada grupo social que se instala a refer�ncia sobre o que se � e o que se deve ser. O que se deve fazer � traduzido numa s�rie de determina��es criadas pelas sociedades para orientar a conduta dos indiv�duos. E este seria o campo da moral e da �tica (BRASIL, 1998).

    De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998) apesar das palavras moral e �tica possu�rem o mesmo significado etimol�gico (mores, no latim e ethos, no grego, remetem a defini��o de costume) os conceitos incorporaram ao longo do tempo significa��es diferenciadas. A moral � considerada como �o conjunto de princ�pios, cren�as e regras que orientam o comportamento dos indiv�duos nas diversas sociedades�, enquanto a �tica � classificada como a �reflex�o cr�tica da moral� (p.49).

    Considerando tal defini��o, podemos verificar que a moral torna-se o campo no qual predominam os valores relacionados ao bem e ao mal, como aquilo que deve ser buscado e o que deve ser afastado. � importante ressaltar, por�m, que o conte�do destas no��es � concretizado no interior dos contextos sociais espec�ficos e varia muito de uma sociedade para outra, de acordo com as culturas, interesses, poderes e conflitos que as regem. Sendo assim, a moralidade � componente de todas as culturas e sua dimens�o est� presente no comportamento de cada pessoa em rela��o �s outras, das culturas e dos povos entre si.

    No entanto, quando ocorrem conflitos a partir de quest�es complexas (por exemplo, a legaliza��o do aborto) � que se constatam os limites das respostas oferecidas pela moral e neste ponto entramos no dom�nio da �tica, a partir da necessidade de problematizar respostas e verificar a consist�ncia de seus fundamentos.

    Sendo assim, a �tica possui a caracter�stica de n�o ser normativa, pois quando se realiza uma reflex�o �tica, pergunta-se sobre a consist�ncia e a coer�ncia dos valores que norteiam as a��es, buscando o esclarecimento e questionamento a respeito dos princ�pios que orientam as a��es, para que elas adquiram um significado aut�ntico no �mbito das rela��es.

    A fun��o da �tica, portanto, seria verificar a coer�ncia entre a pr�tica e os princ�pios, questionando, reformulando e fundamentando os valores e as normas componentes da moral, num constante movimento que vai da a��o para a reflex�o sobre os sentidos e fundamentos da moral, da reflex�o retornando para a a��o revigorada e transformada.

    Nas aulas de Educa��o F�sica a viv�ncia de diferentes sensa��es como irrita��o, excita��o, prazer, cansa�o, somadas a estados intensos de emo��es, sentimentos de satisfa��o, medo, vergonha, alegria e tristeza tornam-se um desafio � racionalidade das crian�as e adolescentes, na medida que demandam controle e adequa��o na express�o destes sentimentos e emo��es, pois s�o processados em um contexto no qual as regras, os gestos, as rela��es interpessoais e suas conseq��ncias s�o claramente delimitadas. Al�m disso, geralmente s�o experi�ncias diferentes das vivenciadas nas salas de aula e na vida cotidiana.

    Na verdade, esta complexa estrutura � que possibilita a riqueza e a contradi��o das pr�ticas da cultura corporal, principalmente nas situa��es que envolvem intera��o social e intensa mobiliza��o afetiva, em que o car�ter �tico dos indiv�duos torna-se expl�cito por meio de atitudes que permitem a tomada de consci�ncia e a reflex�o sobre os valores mais �ntimos.

    Assim, cabe ressaltar as possibilidades que estas situa��es vivenciadas nas aulas de Educa��o F�sica oferecem para a constru��o de formas funcionais de praticar e refletir sobre os valores que as permeiam, sob a constata��o de que apenas a pr�tica das atividades e o discurso dos professores resultam insuficientes na sua transmiss�o e incorpora��o pelos alunos.

Os componentes da �tica na Educa��o F�sica escolar

Respeito m�tuo

    A afirma��o do respeito m�tuo fundamenta-se no princ�pio de que todos os indiv�duos merecem ser respeitados independentemente de sua origem social, etnia, religi�o, sexo, manifesta��es s�cio-culturais, opini�o etc., pois o respeito implica na valoriza��o de cada indiv�duo de acordo com sua singularidade e as caracter�sticas que o constituem.

    Uma sociedade com bases democr�ticas exige que se respeite a dignidade do ser humano e a conviv�ncia com respeito no ambiente escolar � a melhor experi�ncia que pode ser oferecida ao aluno pois, desta maneira, al�m de vivenciar ele pode refletir sobre o respeito nas diferentes �reas de conhecimento, aprendendo a respeitar e a exigir respeito (PCNs/BRASIL, 1998).

    Para que os alunos sejam capazes de exercer o respeito m�tuo, � imprescind�vel que professores e administra��o tamb�m o fa�am, o que exige coer�ncia entre o discurso e a pr�tica cotidiana.

    Assim como no contexto escolar de forma geral, nas aulas de Educa��o F�sica h� meninos e meninas, alunos com caracter�sticas diferentes, alguns com limita��es no desempenho, outros habilidosos para determinadas atividades, alunos portadores de necessidades especiais, outros t�midos e resistentes � aproxima��o etc. Todos os alunos est�o, como na sala de aula, usufruindo o mesmo direito � educa��o e � participa��o.

    Nas situa��es de preconceito como aquelas em que se estigmatizam indiv�duos com apelidos pejorativos, por exemplo, os alunos cuja apar�ncia n�o corresponde a um �modelo� criado e ocasionalmente valorizado, todos devem ter consci�ncia para identificar e repudiar as situa��es de desrespeito, assim como de humilha��o e vergonha.

    Em rela��o aos alunos menos habilidosos para as modalidades esportivas tradicionais das aulas de Educa��o F�sica sugerimos a inclus�o de outras modalidades, com o objetivo de oportunizar a participa��o do maior n�mero poss�vel de alunos. Nos campeonatos realizados nas escolas, al�m das modalidades tradicionais, outras como o atletismo, a dan�a, jogos da cultura local podem ser adicionadas. Sugerimos tamb�m, quando o espa�o permitir, a realiza��o de mais de uma atividade por vez, para que um n�mero maior de alunos possa participar, cada um na modalidade que se considerar mais capaz.

    Com a inclus�o dos alunos portadores de necessidades especiais, os professores podem incentivar as turmas a promover adapta��es para que estes possam participar das atividades das aulas. Al�m disso, surge a possibilidade de que todos aprendam a lidar com as limita��es e dificuldades que os indiv�duos apresentam.

    Na intera��o com os advers�rios em um jogo ou modalidade esportiva, o respeito m�tuo pode ser exercido na busca pela participa��o na atividade de forma leal e n�o-violenta. A colabora��o, a coopera��o, o respeito �s regras do jogo, dos limites de determinadas brincadeiras, s�o todas quest�es que podem ser tratadas pelos professores nas aulas de Educa��o F�sica buscando desenvolver o princ�pio do respeito m�tuo.

    Em rela��o aos meios de comunica��o, o professor pode incentivar debates e discuss�es, especialmente em rela��o aos jogos de futebol transmitidos pela televis�o, nos quais se assistem atitudes incompat�veis com o respeito m�tuo, como faltas violentas e desleais, tentativas de se enganar o juiz, lances ilegais, gols cometidos de maneiras irregulares etc.

    Atitudes como estas, muitas vezes, s�o glorificadas. Um jogador que marcou um gol com a m�o salvando seu time da derrota � valorizado por sua esperteza em vez de ser criticado por sua atitude �anti-esportiva�. Exemplos como estes somados � import�ncia que o futebol representa na sociedade brasileira, conduzem a necessidade de se refletir sobre todos os valores e atitudes nele presente.

Justi�a

    O princ�pio da justi�a, al�m de basear-se na busca da igualdade de direitos e oportunidades, pressup�e a considera��o das condi��es concretas das situa��es e dos sujeitos envolvidos para o julgamento do que � justo ou injusto.

    O crit�rio da igualdade indica que todas as pessoas t�m direitos iguais, n�o existe raz�o para que sejam tratadas de maneiras diferentes ou que alguns grupos recebam mais privil�gios que outros, contudo deve-se considerar a igualdade de direitos articulada �s diferen�as que caracterizam os indiv�duos.

    Deste modo, de acordo com os PCNs (BRASIL, 1998) este conceito deve ser ampliado pelo de equidade, pois, na grande maioria das vezes, as pessoas n�o se encontram em posi��o de igualdade. Existem as diferen�as f�sicas, de condi��es sociais, econ�micas etc. Seria injusto n�o considerar essas diferen�as, por exemplo, ao destinar crian�as e adultos aos mesmos trabalhos, assim como, dar igual recompensa ou castigo a todas as a��es, punir um crime de infra��o e um de assassinato da mesma maneira ou atribuir a mesma nota a todos os alunos.

    No contexto escolar, atuar com justi�a nas diferentes situa��es que se apresentam � um desafio muito grande, pois n�o existe um modelo que indique como ser justo, muito menos m�todos que garantam esse aprendizado, j� que as situa��es reais s�o sempre complexas.

    Tratando-se de um princ�pio, a legitima��o da justi�a envolve a constru��o conceitual, o aprendizado de procedimentos e o desenvolvimento de atitudes. Decorre disso a necessidade de que a escola seja uma �sociedade justa�, na qual as rela��es e sua pr�pria organiza��o estejam orientadas de acordo com par�metros de justi�a (PCNs/BRASIL, 1998).

    A escola pode desenvolver um papel fundamental para que os alunos adquiram a capacidade de se pautarem pelo princ�pio da justi�a de modo aut�nomo, e, para que isso aconte�a, algumas condi��es se fazem necess�rias.

    � fundamental que os alunos tenham conhecimento das normas de conduta estabelecidas pela escola, que estas estejam relacionadas � aprendizagem e que sejam expostas e explicadas. Os deveres tamb�m devem ser compreens�veis, normas amb�guas impedem que os alunos saibam o que exatamente se espera deles e o que se cobra. Os direitos devem ser esclarecidos para que saibam quando est�o sendo injusti�ados.

    Nas aulas de Educa��o F�sica os professores tamb�m devem estar atentos a todas estas quest�es, �s normas para o bom andamento das aulas e a preserva��o da seguran�a dos alunos devem ser expostas e esclarecidas de modo que todos entendam a necessidade de se respeit�-las. Por exemplo, dirigir-se � quadra em sil�ncio e sem correria evita atrapalhar as outras classes e o contato brusco com outros alunos, o que pode ferir a integridade f�sica de algu�m.

    � imprescind�vel ainda que os professores tenham conhecimento do regimento escolar e das leis que permeiam o campo educacional, para que nenhum tipo de infra��o seja cometida no ambiente de trabalho, como atitudes de preconceito, humilha��o, exclus�o, discrimina��o, etc.

    � preciso ter claro que as san��es devem punir somente os culpados (por exemplo, n�o optar por aplicar castigo a uma classe toda por n�o conhecer o respons�vel pelo delito), ser aplicadas de maneira justa, por reciprocidade, ou seja, proporcionais � falta cometida.

    Aplicar castigos f�sicos tamb�m � algo que deve ser totalmente evitado, pois pode humilhar os alunos, enquanto as san��es coletivas podem causar sentimento de revolta e injusti�a nos que n�o t�m culpa e est�o sendo punidos.

    O professor deve estar muito atento tamb�m para a quest�o da inclus�o dos alunos nas aulas, pois independentemente de suas habilidades, todos t�m o mesmo direito de usufruir as atividades propostas.

    A respeito das rela��es entre a afetividade e a racionalidade, uma situa��o freq�ente no cotidiano escolar e nas aulas de Educa��o F�sica � o conflito que se estabelece entre a afetividade e o limite, quando por exemplo, um professor tenta impor limites de uma maneira mais branda, demonstrando sua afetividade e os alunos acabam por n�o levar t�o a s�rio. Outra vari�vel para esta quest�o diz respeito ao sentido que � atribu�do ao �n�o� dependendo do aluno que est� sendo censurado: o �n�o� atribu�do um aluno bom � igual ou tem o mesmo sentido do emitido a um aluno considerado �bagunceiro�?

    N�o podemos deixar de considerar que o componente da afetividade faz com que os professores acabem por criar la�os com determinados alunos que s�o diferentes em rela��o a outros, por isso, a necessidade em se procurar sempre estabelecer uma postura que n�o demonstre qualquer tipo de injusti�a frente a uma mesma falta cometida por alunos diferentes.

    Atuar com justi�a em todas as situa��es que ocorrem no contexto escolar � muito dif�cil, pois v�rios fatores fazem com que cada caso seja diferente. No entanto, os professores devem estar sempre muito atentos para n�o cometer injusti�as com os alunos, especialmente diante da classe. Tratamentos privilegiados s�o percebidos pelos alunos e constituem injusti�as, j� que por direito todos devem ser tratados da mesma maneira.

    Durante o desenvolvimento das aulas, outras situa��es como o confronto com o resultado de um jogo e a presen�a do �rbitro, permitem a viv�ncia e o desenvolvimento da capacidade do julgamento de justi�a. O respeito �s regras torna-se necess�rio para que o jogo seja �limpo�, qualquer infra��o resulta em um ato de injusti�a contra a equipe advers�ria e o contrato estabelecido por meio das regras.

    Estes s�o exemplos de situa��es para as quais os professores devem estar atentos e que podem ser utilizadas nas aulas de Educa��o F�sica para o desenvolvimento do princ�pio da justi�a que, al�m de fundamental no contexto escolar e das diversas �reas de conhecimento, tamb�m o � para a vida em sociedade.

Solidariedade

    A solidariedade pode ser considerada como a express�o concreta do respeito que os indiv�duos tem entre si, demonstrando sentimentos de interdepend�ncia e pertin�ncia, por meio dos quais a pessoa ou comunidade se sente unida e adquire como dever compartilhar interesses e ideais, considerando a repercuss�o de seus atos na vida coletiva (PCNs/BRASIL, 1998).

    Podemos considerar que existem diversas formas de ser solid�rio, como ajudar pessoas necessitadas engajando-se em campanhas de socorro, por exemplo, em prol de v�timas de terremotos ou enchentes e participar ativamente do espa�o p�blico e na vida pol�tica (PEREIRA-AUGUSTO, 2001).

    Na escola o desenvolvimento do princ�pio da solidariedade deve passar pela pr�tica e reflex�o, por meio das quais os alunos sejam levados a pensar e a praticar sobre ela, juntamente com os outros valores.

    A organiza��o e a participa��o em a��es comunit�rias, o aprendizado de primeiros socorros, a forma��o de uma biblioteca comunit�ria, o engajamento em campanhas de sa�de, contra as drogas, a preserva��o do meio ambiente, s�o exemplos de atividades que podem ser estimuladas pela escola para que os alunos se envolvam na resolu��o de problemas reais (PEREIRA-AUGUSTO, 2001).

    Nas aulas de Educa��o F�sica, muitas situa��es podem proporcionar o desenvolvimento da atitude solid�ria nos alunos. Por exemplo, em rela��o aos alunos portadores de necessidades especiais � preciso que se crie um ambiente de acolhida, no qual estes alunos possam participar das atividades da melhor maneira poss�vel, sem sofrer qualquer tipo de discrimina��o.

    Essa participa��o � t�o importante para o aluno especial quanto para os demais que t�m a oportunidade de aprender a lidar com uma situa��o diversa, respeitando as limita��es do outro e contribuindo para que cada vez mais elas sejam minimizadas.

    A conviv�ncia com estes alunos pode ser muito valiosa para toda a comunidade escolar no sentido de que permite que todos os alunos aprendam a convier com as limita��es e diferen�as das pessoas, al�m disso, nas aulas de Educa��o F�sica, por exemplo, pode mobilizar os alunos a procurar meios que facilitem a participa��o dos alunos especiais nas atividades f�sicas realizadas. Por meio do conhecimento, da vivencia de situa��es concretas e pela reflex�o sobre elas � que os alunos podem construir uma postura solid�ria.

    As atividades em grupo, principalmente os jogos, em que � fundamental o trabalho em equipe, podem estimular a partilha e a coopera��o, fazendo com que a solidariedade possa ser exercida e valorizada. Como isso n�o ocorre naturalmente, torna-se muito importante a interven��o pedag�gica do professor.

    Aulas nas quais algumas no��es de primeiros socorros sejam ensinadas tamb�m podem preparar os alunos para lidar com quest�es deste tipo quando necess�rio, assim como a elabora��o de uma lista com os principais n�meros de telefones que podem ser consultados em situa��es de emerg�ncia.

    Incentivar os alunos a fazer um levantamento atrav�s de pesquisas sobre os locais p�blicos da cidade que oferecem a possibilidade da pr�tica gratuita de atividades f�sicas para que sejam divulgados para a comunidade, tamb�m � um exemplo de ato solid�rio que pode ser executado pelos alunos.

Di�logo

    O ato da comunica��o � inerente aos seres humanos e pode ser praticado em diversas dimens�es, como a express�o corporal por meio de gestos ou olhares, uma conversa entre duas pessoas, um debate p�blico, uma discuss�o cient�fica etc. (PCNs/BRASIL, 1998).

    De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998), pela pr�pria necessidade que o homem possui de se comunicar, um dos objetivos mais importantes da educa��o �, sem d�vidas, fazer com que os alunos consigam participar do universo da comunica��o criado pelos homens, para que, utilizando os instrumentos de que ela disp�e, consiga elaborar e emitir suas pr�prias mensagens.

    Os PCNs (BRASIL, 1997) indicam que a rela��o professor-aluno tem uma import�ncia fundamental neste processo, a fala do professor dever ser sempre muito clara e objetiva, evitando-se ambig�idades. Da mesma forma, deve exigir dos alunos clareza, evitando a ocorr�ncia de express�es vagas que permitam interpreta��es variadas.

    Neste sentido, o di�logo ser� um instrumento fundamental na escola para que o aluno participe do processo de ensino-aprendizagem interagindo com o professor e os colegas. Deve ser utilizado ainda sempre que necess�rio para o esclarecimento e supera��o de conflitos.

    A participa��o de toda a comunidade escolar deve ser valorizada na elabora��o e efetiva��o de projetos, na discuss�o e implementa��o das normas e regras escolares, e em todas as atividades cujo desenvolvimento envolva a aprendizagem dos alunos. Neste processo, as opini�es devem ser respeitadas, as decis�es baseadas em crit�rios de justi�a, nas quais a solidariedade e o bem comum sejam priorizados.

    Nas aulas de Educa��o F�sica o di�logo � instrumento fundamental para o desenvolvimento dos conte�dos e atividades, nas quais as possibilidades de constru��es coletivas devem ser valorizadas.

    Nos trabalhos em grupo, a coopera��o obtida propicia o estabelecimento e cumprimento de contratos, e � onde os alunos aprendem a honrar a palavra empenhada e constituem rela��es de reciprocidade.

    O professor pode estimular os alunos na constru��o de jogos e brincadeiras, nos quais as regras sejam estabelecidas por meio democr�tico atrav�s do di�logo. Assim, o descumprimento do que foi combinado estabelece uma rela��o de responsabilidade dos participantes pela conseq��ncia de suas atitudes relativas � pr�pria atividade.

    As situa��es de conflito geradas durante as aulas de Educa��o F�sica podem proporcionar situa��es de di�logo, nos quais as solu��es mais justas possam ser encontradas com base no respeito m�tuo entre as partes envolvidas. Desta maneira, evita-se que a lei do mais forte seja imposta e que os direitos de cada um sejam respeitados por todos.

Considera��es finais

    Considerando que o comportamento e as atitudes s�o fatores de fundamental import�ncia para a forma��o do cidad�o cr�tico e reflexivo, � que justifica-se a inclus�o da �tica no curriculos escolares como condi��o fundamental para uma forma��o que vise � prepara��o de indiv�duos conscientes que possam atuar em uma sociedade justa e democr�tica.     Sendo, pois, a forma��o �tica uma das fun��es da forma��o escolar, apresentamos neste trabalho, reflex�es sobre o tema transversal �tica e possibilidades para a inclus�o dos principios do respeito m�tuo, justi�a, solidariedade e di�logo, indicados como componentes da �tica pelos PCNs ( BRASIL, 1998) nas aulas de Educa��o F�sica escolar.

    Entendendo que a Educa��o F�sica escolar, como componente curricular da Educa��o B�sica tamb�m � respons�vel pela forma��o dos alunos para a cidadania, � que acreditamos na inclus�o dos temas transversais e especificamente neste trabalho, do tema transversal �tica, de modo intencional nas aulas, talvez assim, como indica Betti (1999) possamos desenvolver em nossos alunos as capacidades necess�rias para a reivindica��o e o exerc�cio dos direitos que garantem o bem estar social, de uma maneira cr�tica e criativa. Esta � uma possibilidade de contribui��o da Educa��o F�sica para a constru��o da cidadania democr�tica e participativa.

Refer�ncias bibliogr�ficas

  • BETTI, Mauro. Educa��o F�sica, esportes e cidadania. Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte, v.20, n.2, p.84-92, 1999.

  • BRASIL. Minist�rio da Educa��o e do Desporto. Par�metros Curriculares Nacionais: apresenta��o dos temas transversais e �tica / Secretaria de Educa��o Fundamental. Bras�lia: MEC/SEF, 1997.

  • BRASIL, Minist�rio da Educa��o e do Desporto. Par�metros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos: Apresenta��o dos temas Transversais / Secretaria de Educa��o Fundamental. Bras�lia: MEC/SEF, 1998.

  • DARIDO, Suraya Cristina et al. Educa��o F�sica, a forma��o dos cidad�os e os Par�metros Curriculares Nacionais. Revista Paulista de Educa��o F�sica, v.5, p.17-32, jan/jun, 2001.

  • PEREIRA-AUGUSTO, Maria Alice. A �tica como tema transversal: Um estudo sobre valores democr�ticos na escola. 2001. 194 f. Disserta��o (Mestrado). Faculdade de Educa��o, Universidade de S�o Paulo. S�o Paulo, 2001.

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Como deve ser um comportamento ético de um profissional de educação física?

A Ética Profissional na Educação Física Escolar tem sua origem na conduta do professor. Ela é demonstrada com características cotidianas básicas, através de assiduidade, cumprimento das atividades proposta pelo ambiente de trabalho, comportamento moral e sócio educativo.

Qual a importância da ética para o profissional de educação física?

Para que ocorra um diferencial na atuação dos profissionais de Educação Física é necessário agir eticamente, pois a prática da ética pode aumentar as chances de oportunidades, aumentar a credibilidade do profissional diante a sociedade, bem como aumentar seu valor profissional (BORGES; MEDEIROS, 2007).

O que é um comportamento ético profissional?

Ética profissional é o conceito moral e de cultura social que são considerados aceitáveis dentro do universo corporativo. Cada empresa ou ramo possui códigos de ética diferentes, mas com o mesmo intuito de fazer prevalecer o respeito e integridade.

Quais são os comportamentos adequados ao profissional de educação física?

respeitar e fazer respeitar o ambiente de trabalho; promover o uso adequado dos materiais e equipamentos específicos para a prática da Educação Física; manter-se em dia com as obrigações estabelecidas no Estatuto do CONFEF.