Por que uma guerra comercial entre EUA e China poderia impacta a economia brasileira?

O combate aos produtos "made in China" é uma bandeira de campanha do presidente dos EUA, Donald Trump. Desde março, ele começou a colocar em prática sua política 'America First' (América Primeiro, na tradução livre), que tem entre seus focos fortalecer a indústria americana em detrimento de produtos importados.

Medidas e retaliações

Acompanhado de representantes da indústria do aço e alumínio, Donald Trump assina medida que aumenta tarifas de importação para aço e alumínio — Foto: Leah Millis/Reuters

Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os EUA miraram a China, mas se deram conta de que poderiam provocar um embate global generalizado ao disparar contra outros países, como Brasil, União Europeia, México e Canadá. Essas nações foram retiradas uma a uma temporariamente da lista.

Depois disso, os EUA calibraram a mira e direcionaram suas ações contra a China. E desde então os dois países estão queda de braço, com uma sequência de medidas de um contra o outro (veja cronologia completa no fim desta reportagem).

É guerra comercial?

Geralmente, são denominados guerras comerciais os conflitos iniciados quando um país impõe tarifas comerciais à importação de uma nação, que corresponde sobretaxando os produtos de seu concorrente.

Entre os especialistas, ainda não há consenso sobre como caracterizar uma guerra comercial. “O que a gente está vendo é uma guerrilha entre os dois”, diz Castro.

“Só EUA e China estão envolvidos. Não querem iniciar uma guerra, mas ninguém quer evitar também.”

“Por enquanto, é mais um conflito retórico limitado a ameaças de menor potencial. Mas pode evoluir para algo mais sério se não surgir uma saída pela negociação”, avalia o diretor da escola de investimentos internacionais do Grupo L&S, Liberta Global, Leandro Ruschel.

Disputas comerciais x OMC

As disputas comerciais entre países são frequentes e quem define as regras do comércio internacional e eventuais soluções de conflito é a Organização Mundial do Comércio (OMC), órgão criado nos anos 90.

Quando um país quer questionar as práticas comerciais de outro ele pode abrir um painel na OMC para solicitar mudanças e até mesmo o aval para retaliar o concorrente.

“Na OMC, geralmente as retaliações são consentidas caso a caso, e a entidade avalia se de fato há um dano ou uma situação injusta concorrencial e se o país [acusado] está autorizado a adotar tarifas contra outro neste mercado por determinado tempo”, diz Ruschel, da L&S.

Mercadorias da China partem em navio em um porto na província chinesa de Shandong — Foto: AFP

“A China está tentando mostrar para a comunidade internacional que ela está seguindo as regras, e os EUA, não”, comenta o presidente da AEB.

Trump tem criticado recorrentemente a OMC. Nesta sexta-feira, disse que a organização é "injusta com os EUA". Já a China tem um histórico controverso na instituição. Mesmo depois de entrar na entidade em 2001, o país ignorou as exigências que deveria implantar ao longo de 15 anos para ser encarada como uma economia de mercado.

Efeitos da guerra

Guerras comerciais podem gerar efeitos negativos para os dois lados, caso não terminem em uma solução negociada. Nesse caso, no entanto, como os envolvidos são as duas maiores potências mundiais, os lances do conflito tendem a afetar a economia de outros países em nível mundial. Isto porque as cadeias de produção e consumo estão interligadas.

Os especialistas ouvidos pelo G1 são categóricos em um ponto: a guerra pode levar a uma escalada de tarifas, aumentar os custos as exportações e gerar um ciclo de diminuição do comércio internacional. Por tabela, isso freia o crescimento econômico global.

Contêineres da China em Long Beach, na Califórnia — Foto: Reuters/Bob Riha Jr.

O exemplo de como a bola de neve gerada pelas sobretaxas a um produto sobre sua cadeia é o que pode ocorrer com o aço, diz Castro, da AEB.

“Se eu taxo o aço e aumenta o custo dessa matéria-prima de vários produtos, desde os automobilísticos até eletroeletrônicos, sobe o preço de todos esses itens”, diz. “Como cresce o preço no mercado nacional, vou vender menos, gerar menos empregos ou até gerar desemprego. Vão sobrar commodities no mundo, o que puxa os preços delas para baixo e atinge diretamente todos os países emergentes, que são dependentes de exportação delas”.

O desequilíbrio sobre o comércio internacional também exerce pressão sobre o câmbio, diz Castro. “Com isso, há uma valorização do dólar e uma desvalorização das moedas, especialmente nos países emergentes. Essa queda estimularia a exportação, mas implicaria na importação, que ficaria mais cara.”

Para Ruschel, o efeito mais perverso seria a intensificação de tensões geopolíticas, que aumentaria as chances de conflitos reais e até militares.

Por que os EUA começaram a briga

Há anos, os EUA possuem com a China um considerável déficit comercial, que é a diferença do volume exportado entre os dois países.

“Os EUA nunca se preocuparam porque achavam que era contornável. Acreditavam que as empresas deles iam para a China e exportavam para os EUA. Só que as companhias americanas passaram a perder competitividade”, conta Castro.

Os EUA alegam que isso tem ocorrido porque a China lança mão de práticas desleais, como usar hackers para roubar propriedade intelectual e segredos comerciais das empresas americanas.

Para reduzir essa diferença, em março, os norte-americanos pediram, sem sucesso, ao país asiático, segundo maior parceiro comercial dos EUA, um plano para comprar mais de seus produtos, como carros, soja e gás natural.

Negociação é possível?

Como as tarifas adicionais anunciadas de um país para o outro ainda não entraram em vigor (exceto as do aço de alumínio, propostas inicialmente pelos EUA), a expectativa do mercado até então era de que os dois países poderiam chegar a um consenso. E as novas taxas ficaram apenas na ameaça, sem ser aplicadas de fato.

“A China não tem o objetivo de escalar para guerra, porque seria muito afetada em termos de fluxo de balança comercial, embora os dois países têm muito a perder em uma guerra comercial”, diz Ruschel, da L&S.

“O grande perdedor pode ser a China, porque ela tem nos EUA o seu grande mercado. E ela não tem no mundo outro mercado para substituir os EUA”, explica Castro.

Riscos à globalização

Na história recente da economia mundial, a tendência tem sido de abertura comercial dos países, incluindo a entrada da própria China na OMC, apesar de o país asiático ainda ser uma economia considerada “semi-aberta”.

Uma eventual guerra comercial, com medidas protecionistas adotadas pelas principais nações globais, seria um passo atrás nesse movimento e poderia levar o mundo à "profunda recessão", alertou em março o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo.

Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, em imagem de arquivo. — Foto: Reuters

"Uma vez que tomarmos esse caminho, será muito difícil mudar de direção. O olho por olho nos deixará todos cegos e o mundo em profunda recessão", afirmou.

No passado, o “crash” da bolsa de valores de Nova York, em 1929, levou os países fragilizados a fecharem suas economias, adotando uma política de guerra comercial, fato que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.

“Este foi um exemplo drástico de como o acirramento de uma guerra pode se iniciar pelas relações comerciais”, explica Ruschel.

Veja abaixo a cronologia da tensão comercial entre EUA e China:

2001: China entra oficialmente na OMC.

2006: Henry Paulson assume a secretária do Tesouro dos EUA com a missão de reduzir o déficit comercial do país com a China.

2007: Departamento de Comércio ameaçam sobretaxas sobre a importação de papel da China.

2012: Durante a campanha presidencial, Obama e Romney discutiram as práticas comerciais da China.

2016: Na eleição, Trump chega a ameaçar elevar para 30% a tarifa sobre todos os produtos chineses.

Dezembro de 2016: Ao fim dos 15 anos para fazer mudanças propostas pela OMC, China não altera nada e continua a ser encarada apenas como economia "semi-aberta" por EUA e UE.

22 de março de 2018: EUA anunciam tarifas de US$ 50 bilhões sobre 1,3 mil produtos chineses, alegando violação de propriedade intelectual.

2 de abril de 2018: em resposta a taxação, China impõe tarifas de 25% sobre 128 produtos dos EUA, como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.

19 de junho de 2018: Pequim criticou "chantagem" e alertou que irá retaliar, em um rápido agravamento do conflito comercial.

Por que a guerra comercial entre EUA e China poderia impactar na economia brasileira?

Os resultados revelaram que haveria aumento na produção de soja e aço no Brasil e redução nos demais setores. Também haveria déficit na balança comercial em todos os setores, exceto de soja e de aço, e o Brasil seria beneficiado em termos de ganhos de bem-estar, principalmente, em função dos ganhos dos termos de troca.

Como a guerra comercial entre China e Estados Unidos afeta o Brasil?

As taxas comerciais entre os dois países afetaram principalmente os produtos agropecuários, área em que o Brasil e os Estados Unidos têm certa semelhança, acabando por aumentar a exportação brasileira para a China.

Por que uma guerra comercial entre EUA e China poderia impactar a economia brasileira Brainly?

Resposta verificada por especialistas 1- Porque o Brasil exporta muitos produtos tanto pelos Estados Unidos, quanto pela China. Sendo assim, no caso de uma guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais, a economia brasileira ficaria sem mercado para venda.

Quais efeitos da guerra comercial entre China e Estados Unidos podem ser positivos para o Brasil?

O Brasil exportou U$ 41,5 bilhões e importou 23,7 bilhões, com saldo favorável de R$ 17,8 bilhões. Já com os Estados Unidos, a balança em 2019 é deficitária em R$ 352 milhões, com exportações de R$ 19,709 bilhões e importações de R$ 20,061 bilhões.