Qual o impacto da falta de água nos reservatórios?

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Para o docente do curso de Geografia, Diego Flores, entrevistado da série ¿Qué Pasa?, é preciso buscar ajuda da tecnologia para reduzir a escassez de água no Brasil

A grande quantidade de chuvas que vem sendo registradas nas últimas semanas estão ajudando a encher os reservatórios de água de muitas regiões do país, mas a solução para a crise hídrica que o Brasil vem vivendo nos últimos anos não pode depender somente da natureza. As ações humanas e suas consequências e a organização das atividades produtivas são fundamentais nesse processo. Esse é o tema da entrevista do geógrafo e professor da UNILA Diego Flores para a série ¿Qué Pasa? produzida pela SECOM.

O período mais recente de crise hídrica, explica o professor, teve início em 2019 e está relacionado ao fenômeno La Niña, que é a diminuição da temperatura nas águas do Oceano Pacífico. “Mas esse não é o único fator. Aliado a isso há o desmatamento generalizado das florestas que também impacta essa crise, a degradação das bacias hidrográficas, a utilização das águas superficiais e de subsuperfície”, pontua.

O uso da tecnologia e de técnicas de produção agrícola são ações que podem ajudar na redução da escassez de água. “Para tentar conter, diminuir os impactos da crise hídrica seria [necessário] inserir tecnologias que possam, em primeiro momento, armazenar a água da chuva. Isso seria muito prático nas áreas rurais, principalmente para os pequenos agricultores, que estão mais voltados a produção de alimentos”, diz.

Ele cita como medidas o uso da irrigação por gotejamento, que ajuda a evitar o desperdício; planos de manutenção de áreas de preservação permanente; fossas biodigestoras; e técnicas de cultivo agroflorestal. Uma outra medida que pode ajudar a reduzir a crise hídrica é o Pagamento por Serviços Ambientais, previsto na Lei 17.134/2012. A lei permite que produtores rurais e empresas que executem serviços para a recuperação ambiental possam ser remuneradas. Para a área urbana, ele cita ações como o aproveitamento das águas das chuvas e o tratamento de efluentes das indústrias. “Essas medidas possibilitam num curto e médio prazo, mandar mais água para o sistema de lençóis freáticos e de aquíferos e proporciona nossas atividades do dia a dia de uma forma mais tranquila”, avalia.

Além de problemas com o abastecimento de água, que já vêm sendo enfrentados por moradores das regiões metropolitanas de Curitiba e São Paulo, a crise hídrica também afeta o fornecimento de energia, que provoca o aumento das tarifas e a produção de alimentos. “[A produção de alimentos] está mais atrelada aos pequenos produtores rurais e eles têm menos recursos para arcar com a escassez hídrica. Os preços dos alimentos aumentam e todo mundo vai sentir isso no bolso de forma um pouco mais direta.”

Para ele, tanto a agropecuária industrial quanto um banho de 15 minutos têm impactos ambientais importantes. “De fato a agropecuária industrial consome bastante água. Em torno de 70% da água consumida é utilizada na agropecuária. O banho de 15 minutos também interfere bastante porque não deixa de entrar aí o mau gerenciamento. O que precisa pensar são formas de conciliar a atividade agropecuária industrial e também em como economizar água em casa”, discorre.

O ano de 2014 representou um marco para o Brasil, sobretudo para a região Sudeste e, em menor grau, para as regiões Nordeste e Centro-Oeste. Como resultado de uma forte seca e uma série de erros de planejamento, instalou-se uma verdadeira crise da água no país, o que gerou a queda dos níveis dos reservatórios de abastecimento de grandes cidades, com destaque para a cidade de São Paulo, que vive um de seus momentos mais dramáticos em toda a sua história.

Uma das causas para a crise da água é de ordem natural, pois embora o Brasil seja o país com a maior quantidade de água per capita do mundo, a sua disponibilidade é má distribuída ao longo do território. A região Norte, que apresenta as menores densidades demográficas, possui cerca de 70% das reservas nacionais. Para se ter uma ideia dessa relação, segundo o Serviço Geológico do Brasil, apenas 1% de toda a vazão do Rio Amazonas seria suficiente para atender em mil vezes o que necessita a cidade de São Paulo.

Todavia, é justamente onde existem menos reservas de água no país que reside a maior parte da população e também onde acontece a maior parte das atividades econômicas – industriais, comerciais e agrícolas. Assim, os sistemas de abastecimento ficam cada vez mais sobrecarregados, tornando-se vulneráveis a qualquer grande seca que ocorra. E ela ocorreu.

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Uma última causa para a falta de água, mais especificamente em São Paulo, está relacionada com problemas de gestão pública e planejamento de infraestrutura. Em 2004, na renovação de sua concessão, a SABESP já sabia que a quantidade limitada de água existente, bem como a grande dependência em relação ao sistema Cantareira – o maior da região –, seria um grave problema nos anos posteriores. Por isso, se obras de abastecimento tivessem sido realizadas, talvez o problema pudesse ter sido evitado.

Atualmente, os sistemas de abastecimento de São Paulo sofrem baixas históricas, com destaque para o próprio sistema Cantareira, que já teve de liberar suas reservas do primeiro e do segundo volume morto. Com isso, um racionamento de água parece ser a única solução a curto prazo, além da construção de novas barragens e realização de obras de transposição local.

Os impactos da falta de água no Brasil são variados. Muitos analistas, em razão das chuvas abaixo da média no início de 2015, apontam cenários caóticos caso medidas urgentes não sejam tomadas. Além disso, vale lembrar que outras regiões brasileiras, além do Sudeste, vêm passando pelo mesmo problema, o que gera certa preocupação em torno da produção de energia, que, por ser em maior parte fornecida por hidrelétricas, depende muito da disponibilidade de água no país.

Quais consequências da falta de água?

A escassez de água também pode prejudicar o turismo de uma região, resultando em impactos econômicos. Além disso, o desperdício traz consequências para o meio ambiente, já que um elevado nível de perda acarreta na necessidade de captação e produção superiores ao volume que as pessoas normalmente precisam.

Como a falta de água pode afetar a economia?

Os efeitos da crise hídrica ganharam força nos últimos meses e, segundo analistas, também representam um desafio para a atividade econômica em 2022. A falta de chuva prejudica a produção na agropecuária, eleva custos na indústria, pressiona a inflação e, assim, atinge o consumo das famílias.