Sobre a distinção entre conhecimento do senso comum e conhecimento científico

Senso comum x conhecimento científico

O que é senso comum?

O senso comum é um tipo de conhecimento acrítico, sem comprovação científica e que é transmitido de geração em geração. Embora alguns desses conhecimentos sejam claramente injustificáveis e irracionais como, por exemplo, a crença de que passar embaixo de uma escada gera azar, às vezes a linha que separa o senso comum do conhecimento científico pode ser muito tênue, como é o caso da ideia, de que a água submetida à baixas temperaturas transforma-se em gelo. Note-se que tal crença não depende, necessariamente, do conhecimento científico segundo o qual o ponto de solidificação da água é de 0°C. Desse modo, o senso comum não propaga apenas conhecimentos errôneos, mas também conhecimentos que podem ser verdadeiros, embora sejam amplamente aceitos sem explicação.

Características

Os conhecimentos adquiridos através do senso comum, de modo geral, não são sistematizados. Outra característica importante, é que os conhecimentos do senso comum, em grande medida, passam de casos particulares às generalizações, sem qualquer rigor metodológico. Retomemos o exemplo de que passar embaixo de uma escada gera azar. Essa crença pode ter se originado de um caso particular, isto é, de um indivíduo que de fato tenha passado embaixo de uma escada e, por infelicidade, tenha sofrido algum tipo de acidente. A partir dessa experiência particular, produz-se a crença generalizada de que passar embaixo de uma escada gera azar. O conhecimento científico, por sua vez, de modo sistematizado, busca dentro de determinados fenômenos algo que seja semelhante para transformar numa regra geral, porém utilizando a experimentação como método para comprovar a unidade de uma teoria. Como, por exemplo, as leis da Física.

Os conhecimentos do senso comum têm caráter fragmentário, ou seja, não são capazes de fazer conexões com outros tipos de conhecimento, como as análises científicas. Tais conhecimentos consistem num conjunto de ideias desconexas, das quais algumas são assumidas como verdadeiras, sem uma análise crítica. Em contrapartida, o conhecimento científico tem caráter unificador, uma vez que une e explora, de maneira crítica, todas as formas de conhecimento até comprová-las. Nesse sentido, o conhecimento científico busca esgotar os fenômenos até encontrar todas as suas implicações, como é o caso dos movimentos de rotação e translação da Terra que têm diversas implicações, dentre elas a mudança das estações (primavera, verão, outono e inverno) e a alteração das marés.

Outro aspecto do conhecimento do senso comum é a subjetividade, isto é, a adesão varia de indivíduo para indivíduo. Em outras palavras, assumir ou não determinadas crenças depende de características pessoais do sujeito e do modo como ele concebe a realidade. Além disso, muitas vezes nós recebemos os conhecimentos do senso comum sem que, necessariamente, eles façam parte da nossa experiência. O conhecimento científico, ao contrário, é puramente objetivo, isto é, busca uma verdade imparcial, independente das características pessoais do sujeito ou do modo como ele concebe a realidade. Enquanto o senso comum está associado à ideia de ambiguidade, o conhecimento científico preza pelo rigor. Nesse sentido, as experimentações científicas têm, justamente, a função de eliminar as ambiguidades. Vale lembrar que o senso comum não é completamente errôneo ou ruim. Ele pode ser aprimorado e só será um problema caso se torne a única forma de conhecimento.

1.Epistemologia

Depois de analisarmos quest�es relacionadas com a gnoseologia (estudo do conhecimento em geral), vamos centrar a nossa aten��o sobre a epistemologia, come�ando por vermos a a rela��o ente senso comum e conhecimento cient�fico. 

Defini��es correntes desta disciplina:

 a) Epistemologia (episteme + logos = discurso sobre a ci�ncia ) disciplina filos�fica que se ocupa da an�lise e cr�tica do conhecimento cient�fico;

 b) Filosofia das Ci�ncias;

 c) Estudo cr�tico dos princ�pios, das hip�teses e resultados das diversas ci�ncias, tendo como objectivo determinar a sua l�gica, o seu valor e objectividade; 

d) reflex�o sobre o conhecimento cient�fico, os seus problemas e a forma de os resolver.

2. Senso Comum e Conhecimento Cient�fico

� a partir do senso comum que todos os conhecimentos mais elevados se formam, mas n�o � consensual a forma como este processo ocorre. 

3. Tese da Continuidade

Defende que a diferen�a entre o senso comum e o conhecimento cient�fico reside no grau de profundidade como analisam as coisas. A fun��o da ci�ncia est� em depurar, corrigir e melhorar o senso comum. 

Karl Popper (1902-1994). O Senso Comum � o ponto de partida para qualquer tipo de conhecimento, embora seja inseguro. 

"Toda a ci�ncia e toda a filosofia s�o senso comum esclarecido". Karl Popper, in Conhecimento Objectivo.  

A evolu��o do conhecimento faz-se atrav�s de um processo de cont�nuas correc��es e aperfei�oamentos.

4. Tese da Ruptura

Defende a uma clara distin��o entre os dois tipos de conhecimento, nomeadamente quanto � sua natureza. 

Plat�o (s�c. IV a.C.) mostrou que o senso comum, apoiado na experi�ncia sens�vel, n�o permite chegar ao verdadeiro conhecimento, ao qual s� podemos aceder atrav�s da Raz�o.

Descartes (S�c. XVII) colocou em causa os dados dos sentidos, afirmando que s� podemos confiar na Raz�o para atingirmos o verdadeiro conhecimento.

Gaston Bachelard (1884-1962). Embora considere que na base de todos os n�veis de conhecimento esteja o senso comum, encara-o como um "obst�culo epistemol�gico". A Ci�ncia desenvolve-se atrav�s de um processo de cont�nuas rupturas com o senso comum.

"Pareceu-nos sempre cada vez mais evidente, no decorrer dos nossos estudos, que o esp�rito cient�fico contempor�neo n�o podia ser colocado em continuidade com o simples senso comum, que este novo esp�rito cient�fico representa um jogo mais arriscado, que ele formulava teses que, inicialmente, podem chocar o senso comum. N�s acreditamos, com efeito, que o progresso cient�fico manifesta sempre uma ruptura perp�tuas rupturas entre o conhecimento comum e conhecimento cient�fico, desde que se aborde uma ci�ncia evolu�da, uma ci�ncia que, pelo pr�prio facto das suas rupturas traga a marca da modernidade. (...) Podemos, pois, colocar a descontinuidade epistemol�gica em plena luz.(...) A pr�pria linguagem da ci�ncia est� em estado de revolu��o sem�ntica permanente. (...) Uma constante transposi��o da linguagem rompe ent�o a continuidade do pensamento comum e do pensamento cient�fico". Bachelard, Materialismo Racional.

- Obst�culos Epistemol�gicos.

O progresso da ci�ncia est� dependente da identifica��o dos obst�culos a impedem de progredir.O erro � o verdadeiro motor do conhecimento. A primeira tarefa do cientista est� em identificar erros, tais como: 

a) Ideias que foram adoptadas s� porque confirmavam conhecimentos dados como adquiridos;

b) As primeiras impress�es das coisas que antecedem uma an�lise cr�tica das mesmas;

c) As met�foras, as imagens e a vulgariza��o, simplifica��o e generaliza��o de conhecimentos cient�ficos, que deformam ou deturpam a explica��o das rela��es entre os fen�menos.

- Conhecimento progressivo

O conhecimento cient�fico resulta de uma constante rectifica��o de um conhecimento prim�rio, que pode n�o passar de um erro prim�rio. Cada rectifica��o implica deformar os conceitos anteriores, para abranger novas experi�ncias. O progresso cient�fico faz-se desta forma por uma permanente substitui��o de conceitos antigos por novos conceitos deformados, mas mais abrangentes. O avan�o d�-se todavia nesta substitui��o do novo (constru�do) pelo antigo (dado).

"A rectifica��o � uma realidade, ou, melhor, � a verdadeira realidade epistemol�gica, j� que � o pensamento em acto, no seu dinamismo".Bachelard, Ensaio sobre o conhecimento Aproximado.

� neste quadro que se insere o seu conceito de ruptura epistemol�gica. 

A ci�ncia � um conhecimento aproximado, n�o rigoroso ou absoluto.

5. Ci�ncia e Sociedade 

A complexidade atingida pelo conhecimento cient�fico nas nossas sociedades tem provocado um progressivo afastamento do mesmo da maioria da popula��o. As quest�es cient�ficas devida � linguagem como s�o formuladas, tornaram-se de dif�cil compreens�o para os n�o iniciados. 

Esta ignor�ncia tem permitido que todo o tipo de charlat�es possam, em nome da Ci�ncia, produzir as mais distorcidas explica��es sobre a realidade. A �nica forma de ultrapassar este fosso entre a Ci�ncia e a popula��o � promover uma s�lida cultura cient�fica, envolvendo na divulga��o os pr�prios cientistas.

Em Constru��o !

Carlos Fontes 

Qual é a diferença entre o conhecimento do senso comum e conhecimento científico?

Com o avanço científico e tecnológico é possível encontrar o método científico e o senso comum. O senso comum é conhecido como conhecimento popular, enquanto o conhecimento científico é tratado como ciência. Ou seja, o conhecimento do senso comum é construído em situações e repetições do cotidiano.

O que o senso comum e o conhecimento científico têm em comum?

O conhecimento científico e o senso comum podem ser considerados duas formas de pensamentos distantes de como o Homem se relaciona com a verdade. No conhecimento científico, a sua base para afirmar uma verdade passa por experimentos e métodos científicos, que comprovam a confiabilidade de uma hipótese.

Qual é a diferença entre senso comum e conhecimento filosófico?

A filosofia busca a razão de ser de tudo pela raiz, o significado básico de tudo. O senso comum se contenta com afirmações do tipo que assegura que “manga com leite faz mal”.

O que é o senso comum e ciência?

O senso comum é um conhecimento assistemático, ou seja, não possui uma organização prévia ou investigação de estudos para se chegar a uma conclusão. A ciência, no entanto, é um conhecimento sistemático, organizado a partir de um conjunto de teorias, estudos e observações coerentes e relacionadas entre si.