O que acontece se dormir 3 horas por dia

Sabe aquela frase clichê que diz que tudo em excesso faz mal? Aposto que você já ouviu isso da sua avó, da sua tia ou da sua mãe. E elas estavam todas certas. Tudo em excesso realmente faz mal, até o sono. Sim, dormir demais faz mal. Mas calma que, como (quase) tudo na vida, tem uma explicação. 

Vivemos em um tempo que tem sido definido por especialistas como a “pandemia da insônia” ou a “romantização do dormir pouco”. De fato, para onde se olha encontramos discursos dos chamados gurus da produtividade falando que “para ter sucesso é preciso ser o último a dormir e o primeiro a acordar”.

O que acontece se dormir 3 horas por dia

Isso não é verdade. Mas do mesmo jeito que o sono curto demais é prejudicial à saúde, dormir demais também é. A diferença é que o primeiro, muitas vezes, é uma escolha ou imposição social. O segundo não. E é nesse ponto em que precisamos prestar atenção.

Quantas horas por dia uma pessoa precisa dormir?

Para saber o que significa dormir demais, antes precisamos entender o que se considera a quantidade de horas adequadas para o sono. E para isso não existe uma resposta concreta ou um consenso médico. 

A quantidade de horas ideais de sono varia entre sete e nove horas para um adulto saudável, mas mais do que o tempo, a qualidade também deve ser levada em conta. 

“O sono não é apenas uma questão de quantidade de horas, mas também de qualidade e regularidade para você se sentir descansado quando acordar”, explica o site Departamento de Saúde do Governo dos Estados Unidos.

As horas de sono, de fato, são uma questão bastante pessoal. Não podemos comparar as necessidades de um atleta profissional com alguém que trabalha em um escritório, por exemplo. O que não quer dizer que não exista um “dormir pouco” ou um “dormir muito”.

Se você dorme menos de seis horas ou mais de nove horas com frequência, é momento de prestar um pouco mais de atenção na sua rotina de sono. Dependendo do caso, você deve considerar procurar um médico.

Dormir demais pode ser sinal de que algo vai mal na sua saúde

O sono prolongado de vez em quando pode ser considerado normal. Depois de um dia excessivamente cansativo ou quando estamos muito estressados, dormir um pouco mais ajuda a manter o corpo e a cabeça sãos. 

Ninguém pretende que você acorde às 7 horas da manhã de um domingo depois de uma balada no sábado (se é que você já foi pra cama às 7). É preciso apenas ter atenção com o jetlag social.

Por isso é preciso identificar se o sono excessivo e a sonolência durante o dia são constantes ou pontuais, quais os sintomas e a sua intensidade. Algumas das perguntas que um médico pode fazer para encaminhar o diagnóstico são:

  • Há quanto tempo você está se sentindo sonolento e/ou dormindo muito?
  • Você já caiu no sono em momentos inoportunos, como durante uma reunião?
  • Que horas você vai dormir e que horas você acorda?

Entre outras.

Além disso, é necessário identificar também as causas desse dormir demais, se ele é consequência de outro problema de saúde ou uma causa primária.

Causas secundárias do sono excessivo

Em muitos casos, dormir demais em si não é o problema, mas o sintoma de que algo maior não anda bem.

Algumas das causas secundárias do sono além da conta são:

  • Depressão – Uma grande mudança nos padrões de sono é um dos sintomas mais comuns da depressão. Algumas pessoas ganham uma insônia grande enquanto outras passam a dormir demais e sentir uma letargia incontrolável.
  • Lesões – Você sabia que até 70% das pessoas que sofreram alguma lesão cerebral passam a apresentar distúrbios do sono?
  • Gripes e resfriados – Já reparou que quando estamos doentes tendemos a dormir além da conta? Isso é um mecanismo de defesa do corpo, já que é durante o sono que fortalecemos a imunidade tanto para prevenção quanto para lutar contra infecções que já temos. Paradoxalmente, quem dorme pouco tem maior probabilidade de ficar gripado.
  • Reação a medicamentos – Relaxantes musculares, antialérgicos, antieméticos e antivertiginosos são algumas das medicações que podem prejudicar temporariamente o seu sono e causar noites mais longas.

Causas primárias do sono excessivo

Outras vezes, porém, dormir demais é a raiz do problema e não a reação a algum outro fator. É a chamada hipersonia primária.

Hipersonias são diferentes distúrbios do sono nos quais uma pessoa dorme mais do que o considerado adequado e pode sentir muita sonolência durante o dia, o que pode causar prejuízos à sua rotina.

São hipersonias primárias: 

  • Síndrome de Kleine-Levin, um distúrbio neuropsiquiátrico que afeta principalmente homens jovens e é caracterizado por hipersonolência, megafagia e alterações comportamentais. Pessoas com Kleine-Levin, que popularmente é conhecida como “Síndrome da Bela Adormecida”, podem chegar a dormir de 16 até 22 horas por até 14 dias seguidos. Os episódios podem acontecer diversas vezes ao ano, mas tendem a diminuir e até desaparecer ao longo do tempo. 
  • Narcolepsia, doença neurológica crônica que se manifesta quando o paciente está acordado, ao contrário de outros distúrbios do sono. Sua principal característica é uma sonolência muito forte durante o dia que, em alguns casos, faz com que a pessoa acabe adormecendo em situações cotidianas e às vezes potencialmente perigosas.
  • Hipersônia idiopática, distúrbio neurológico crônico marcado por uma necessidade constante de sono que não é resolvida nem com uma boa noite. Mesmo dormindo bem e até tirando cochilos, a pessoa não se sente revigorada.

Nos três casos, o diagnóstico deve ser feito por um médico especialista em sono.

As consequências de dormir demais

Seja por hipersonias primárias ou secundárias, dormir muito pode trazer prejuízos à saúde e à rotina, a começar pelas horas “perdidas”. 

Do ponto de vista cognitivo, também são várias as consequências: dificuldade de atenção e concentração; prejuízos à memória, à capacidade de planejamento e à coordenação motora; e maior dificuldade em controlar impulsos, entre outros.

Dormir demais também pode causar crises de ansiedade e fadiga, o que pode até parecer contraditório, afinal a pessoa supostamente está “bem descansada”. Não é verdade.

Alguns dos outros potenciais problemas da sonolência excessiva são exatamente os mesmos que podem ser apresentados por quem dorme pouco, tais como dores de cabeça, dificuldades de manter o peso e a alimentação saudável, maior risco de diabetes e até mesmo menor expectativa de vida.

Essa “coincidência” é mais uma evidência de que o sono não é apenas sobre duração, mas também sobre qualidade e regularidade na mesma medida.

Então, se dormir muito é uma recorrência na sua rotina, converse com o seu médico de confiança ou busque um especialista em sono. Toda a sua vida agradece.

  • Edison Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

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Quem dorme menos de 6 horas por noite tem maior risco de aterosclerose - um acúmulo de placas nas artérias por todo o corpo, diz pesquisa

Um estudo divulgado nesta segunda-feira (14) pode tirar ainda mais o sono de quem já dorme pouco. De acordo com os pesquisadores, quem dorme menos de seis horas por noite tem maior risco de aterosclerose - um acúmulo de placas nas artérias por todo o corpo - em comparação com aqueles que têm sono considerado normal, ou seja, de sete a oito horas por noite.

A pesquisa foi publicada no Journal of American College of Cardiology. Doença vascular crônica e progressiva, que geralmente aparece em adultos e idosos, a aterosclerose é uma inflamação da camada mais interna das artérias, também chamada de túnica íntima - justamente a parte que fica em contato direto com o sangue. Essa inflamação ocorre como consequência do acúmulo e oxidação de lipoproteínas nas paredes arteriais.

"Este é o primeiro estudo a mostrar que o sono objetivamente medido é independentemente associado à aterosclerose em todo o corpo, não apenas no coração", afirma o professor e nutricionista José Ordovás, pesquisador do Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares Carlos III, de Madri, e diretor de nutrição do Centro de Pesquisa de Nutrição Humana Jean Mayer USDA Envelhecimento na Universidade Tufts, em Massachussetts.

Ele lembra que estudos anteriores já mostraram que a falta de sono aumenta o risco de doenças cardiovasculares, bem como favorecem os fatores de risco para problemas cardíacos - como alterações nos níveis de glicose, pressão arterial, inflamações e obesidade.

Considerados os fatores de risco tradicionais para doenças cardíacas, o estudo mostrou que os que dormem menos de seis horas têm 27% mais chance de ter aterosclerose em todo o corpo do que aqueles que dormem de sete a oito horas. E aqueles que têm um sono de má qualidade estão 34% mais propensos a ter a doença em comparação aos que dormem bem - o estudo avaliou a qualidade do sono considerando quantas vezes por noite a pessoa acordou e a frequência de movimentos enquanto estava dormindo.

O que acontece se dormir 3 horas por dia
O que acontece se dormir 3 horas por dia

Crédito, MaynardClark/ CC BY-SA 4.0

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"Um sono mais curto, porém de boa qualidade, pode superar os efeitos prejudiciais de sua menor extensão", diz Fuster

"É importante destacar isso: um sono mais curto, porém de boa qualidade, pode superar os efeitos prejudiciais de sua menor extensão", comenta o cardiologista Valentin Fuster, diretor-geral do Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares Carlos III e editor-chefe do Journal of American College of Cardiology.

"Há duas coisas que costumamos fazer todos os dias: comer e dormir. Sabemos há muitos anos a relação entre boa nutrição e saúde cardiovascular; no entanto, não sabemos tanto a relação entre o sono e a saúde cardiovascular", acrescenta Ordovás.

Os pesquisadores monitoraram a rotina de 3.974 adultos espanhóis, todos empregados em uma mesma instituição bancária - ou seja, com rotinas profissionais semelhantes. O cardiologista Fuster realizou exames de imagem para detectar a prevalência e as taxas de progressão de lesões vasculares.

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Aqueles que têm um sono de má qualidade estão 34% mais propensos a ter aterosclerose em comparação aos que dormem bem

Os participantes da pesquisa tinham idade média de 46 anos e todos nunca haviam sido diagnosticados com problemas cardíacos. Dois terços eram homens. Todos utilizaram um aparelhinho para monitoramento constante de atividades e movimentos, durante sete dias. Este dispositivo mediu a rotina de sono deles de uma maneira objetiva e precisa - ao contrário de pesquisas que se baseiam em questionários declaratórios.

Eles foram divididos em quatro grupos: os que dormiam menos de seis horas, os que dormiam de seis a sete horas, os que dormiam de sete a oito horas e os que dormiam mais de oito horas. Todos os participantes realizaram um check-up do coração: ultrassonografia cardíaca 3D e tomografia computadorizada cardíaca.

Segundo os pesquisadores, a maneira como foram determinados os participantes deste estudo é o grande diferencial em relação a outras pesquisas relacionando sono e saúde do coração. Primeiramente, pelo tamanho da amostragem, maior do que o usual. Outra característica interessante foi o fato de que este estudo focou uma população originalmente saudável, enquanto pesquisas assim costumam selecionar pessoas com apneia do sono ou outros problemas.

Se dormir pouco pode ser ruim, exagerar também não é um bom hábito. Embora entre os participantes fosse pequeno o número daqueles que dormem mais de oito horas, os pesquisadores concluíram que esse comportamento também estaria associado ao aumento na aterosclerose, sobretudo no caso das mulheres.

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Especialistas dizem que dormir mais de 8 horas de sono por noite também pode ser prejudicial

O estudo também concluiu que consumo de álcool e cafeína estão ligados a um sono de má qualidade. "Muitas pessoas acham que o álcool é um bom indutor de sono, mas há um efeito que precisa ser levado em conta", afirma Ordovás. "Se uma pessoa toma bebidas alcoólicas, ela pode acordar depois de um curto período de sono e ter dificuldade em voltar a dormir. E, quando consegue, geralmente é um sono de má qualidade."

O café, por sua vez, é daquelas substâncias que ora aparecem como vilãs, ora como benéficas para a saúde. De acordo com Ordovás, mesmo que algumas pesquisas mostrem que ingerir a bebida pode trazer efeitos positivos ao coração, tudo depende da maneira como a pessoa o metaboliza. "Dependendo da genética, se você metabolizar o café mais rapidamente, isso certamente não afetará seu sono", comenta. "Mas se você metabolizá-lo lentamente, a cafeína pode afetar o sono e aumentar as chances de doenças cardiovasculares."

"A medicina está entrando em uma fase fascinante. Se até agora tentávamos entender as doenças cardiovasculares, estudos como este nos ajuda a começar a entender a saúde cardiovascular", compara Fuster.

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