Explique qual foi o critério estabelecido para dividir a Alemanha em Ocidental e Oriental

Em maio de 1945, nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, os exércitos nazistas foram finalmente derrotados pelos países aliados. A Alemanha, que ocupa posição geográfica privilegiada entre o leste e o oeste da Europa, vivia um imenso vazio ideológico e político. A trágica e aliviadora saída de Adolf Hitler do poder era seguida pela urgente necessidade de se pensar quais os paradigmas seriam responsáveis pela reconstrução daquela incógnita nação.

Os grandes centros urbanos industriais estavam completamente arrasados e uma parcela considerável da população alemã experimentava uma evidente sensação de incerteza. Deveras, a perda de cinco milhões de vidas durante a Segunda Guerra era somente um dos graves traumas a serem superados. Ao mesmo tempo, os países vitoriosos tornavam públicos os crimes hediondos cometidos pelos remanescentes da alta cúpula do Estado Nazista.

Afinal de contas, quem reconduziria o processo de reconstrução da Alemanha? Buscando dar uma primeira resposta à questão, as zonas administradas pelas nações capitalistas se fundiram, dando os primeiros passos para a criação da República Federal da Alemanha (RFA). A agilidade das negociações visava barrar a expansão da ideologia socialista pela Europa, que tinha a porção leste e metade do território alemão politicamente influenciado pela União Soviética.

Em junho de 1948, sentindo-se visivelmente pressionados para entregar o restante da Alemanha, os soviéticos bloquearam todo o trânsito ferroviário e rodoviário que davam acesso à cidade de Berlim. Em resposta, britânicos e estadunidenses formaram um corredor aéreo que conseguiu furar essa barreira e fornecer alimentos e outros gêneros básicos para a população da área ocidental da cidade. Em poucos meses, a manutenção do impasse se tornou insustentável para ambos os lados.

Finalmente, em outubro de 1949, os soviéticos conduziram os trâmites que deram origem à República Democrática da Alemanha (RDA). Para reafirmar a legitimidade de sua nova empreitada e barrar uma possível invasão ocidental, os soviéticos também promoveram a detonação experimental de sua primeira bomba nuclear. Dessa forma, o território alemão ficava dividido e o mundo enxergava com mais clareza a construção da ordem bipolar.

Graças à ajuda norte-americana, a RFA conseguiu organizar uma reforma econômica que apresentou resultados positivos desde os primeiros anos da década de 1950. A criação de uma nova moeda, o marco alemão, e a inserção do país na economia de mercado simbolizavam o trunfo do projeto capitalista. Em troca dos incentivos do bloco capitalista, a Alemanha Ocidental organizou grandes e eficientes projetos de assistência social que trouxeram conforto à população.

No lado oriental, a RDA passou por maiores dificuldades tendo em vista que, sob o ponto de vista histórico e econômico, essa sempre fora a parte menos desenvolvida da Alemanha. Além desses problemas, os comunistas locais pretendiam constituir uma nação livre da interferência soviética e guiada pelo regime pluripartidarista. Contudo, a necessidade de recursos e a sistemática pressão soviética garantiram a hegemonia comunista, principalmente após a assinatura do Pacto de Varsóvia, em 1955.

Ao longo de toda a Guerra Fria, não existiram chances mínimas que permitissem a reunificação do território alemão. No ano de 1961, essa possibilidade foi completamente anulada quando a construção de um muro marcou as zonas de influência capitalista e comunista. Construído pelas iniciativas da RDA, o Muro de Berlim impediria a fuga de seus cidadãos para áreas de influência capitalista. Contudo, esse muro acabou também servindo para apartar as duas ideologias que tomaram o mundo no resto do século XX.

O Muro de Berlim foi uma estrutura construída em 1961 que rodeava os limites de Berlim Ocidental, capital da Alemanha Ocidental. Esse muro foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria e foi construído por decisão das autoridades da Alemanha Oriental e da União Soviética. Seu objetivo era isolar Berlim Ocidental da Alemanha Oriental.

O Muro de Berlim existiu ao longo de quase três décadas e foi responsável por conter o fluxo de pessoas que se mudavam da Alemanha Oriental para a Alemanha Ocidental. Estima-se que, durante a existência do muro, mais de 100 pessoas tenham morrido tentando cruzá-lo. O Muro de Berlim foi abaixo em 1989, quando o bloco comunista começou a ruir no leste europeu.

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Contexto histórico

Explique qual foi o critério estabelecido para dividir a Alemanha em Ocidental e Oriental
Mapa que mostra os territórios das duas Alemanhas durante a Guerra Fria. À esquerda, está a RFA; à direita, a RDA.

No começo da década de 1960, o território da atual Alemanha era dividido em duas nações diferentes. Essas eram:

  • República Federal da Alemanha (RFA): também conhecida como Alemanha Ocidental, tinha em Berlim Ocidental a sua capital. Era aliada dos EUA e, portanto, fazia parte do bloco capitalista.

  • República Democrática Alemã (RDA): também conhecida como Alemanha Oriental, tinha em Berlim Oriental a sua capital. Era aliada da URSS e, portanto, fazia parte do bloco comunista.

Essa divisão da Alemanha foi resultado direto do desfecho da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Depois que os nazistas foram derrotados na Batalha de Berlim, o território alemão foi dividido em zonas de influência e ocupado por britânicos, franceses, alemães e soviéticos. Essa divisão também foi reproduzida em Berlim, e os territórios ocupados nela acabaram formando a RFA e a RDA.

  • Guerra Fria

A divisão da Alemanha tem relação direta com a Guerra Fria, o conflito político-ideológico em que o bloco comunista e o bloco capitalista disputaram a hegemonia mundial. Esse combate começou a desenhar-se logo após a Segunda Guerra Mundial e tornou-se realidade a partir de 1947. A divisão da Alemanha em duas nações foi confirmada em 1949, quando surgiram as duas repúblicas citadas.

A Guerra Fria tinha em norte-americanos e soviéticos duas grandes potências mundiais que disputavam a hegemonia, e essa disputa deu-se em todos os continentes. No caso da Alemanha, ela foi mais intensa, principalmente, por ter sido o país em que foi encerrada a guerra na Europa e por ser um local estratégico no contexto da disputa entre EUA e URSS.

Caso tenha interesse em saber mais sobre o que foi a Guerra Fria e sobre os seus reflexos na geopolítica do século XX, sugerimos a leitura deste texto.

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Por que foi erguido o Muro de Berlim?

A construção do Muro de Berlim está relacionada com a fuga de população da Alemanha Oriental para a Alemanha Ocidental durante toda a década de 1950 e começo da de 1960. A disputa na Guerra Fria refletia-se diretamente em uma competição entre as duas Alemanhas, embora a vantagem da Alemanha Ocidental fosse notória.

Essa recebeu pesados investimentos dos Estados Unidos via Plano Marshall, e, por isso, su0a economia prosperou rapidamente. Os números da economia da Alemanha Ocidental eram substancialmente melhores em comparação aos da Alemanha Oriental. Além dos investimentos, essa situação era explicada porque a Alemanha Ocidental dispunha de mais população e mais recursos.

Além da economia, havia uma questão fundamental que separava as duas Alemanhas: a liberdade. A repressão imposta na Alemanha Oriental era coordenada pela polícia secreta, a Stasi, que tinha milhares de informantes espalhados pelo território da RFA. A repressão não era uma exclusividade de Alemanha Oriental, mas de todo bloco sob influência soviética.

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A direita na imagem está Erich Honecker, o homem que comandou as operações de construção do Muro de Berlim.[1]

Esses fatores levaram a um enorme êxodo populacional na Alemanha Oriental, e, de 1948 a 1961, 2,7 milhões de pessoas mudaram-se da Alemanha Oriental para Alemanha Ocidental, segundo levantamento do sociólogo e jornalista Jayme Brener.|1| Entre esses milhões de pessoas, havia um número elevado de professores, médicos e engenheiros.

A situação era emergencial para a Alemanha Oriental, pois a perda de mão de obra, sobretudo da mão de obra qualificada, representava um risco para o desenvolvimento econômico do país. Essa situação chamava a atenção das autoridades da RDA, principalmente, a partir de 1958. Assim, para impedir que esse fluxo de pessoas aumentasse, a Stasi foi mobilizada.

Essa fuga de população ficou conhecida entre as autoridades da RDA como Republikflucht, e o uso da Stasi não foi suficiente para conter a situação. Foi essa polícia que sugeriu o fechamento físico das fronteiras como a única maneira eficaz de reduzir a fuga de cidadãos. Levando esse conselho em consideração, Walter Ulbricht, líder da RDA, pediu autorização a Moscou para fechar a fronteira.

Acesse também: A crise que deu início ao momento de maior tensão da Guerra Fria

Construção do Muro de Berlim

A construção do Muro de Berlim foi resultado de deliberações e negociações que se arrastaram por meses entre as autoridades alemãs (da RDA) e soviéticas. O pedido de Ulbricht foi realizado em maio, a autorização soviética foi dada em junho, e a construção do muro só foi iniciada em agosto de 1961. Esta fez parte da Operação Rosa.

A operação para construir o muro foi conduzida de maneira extremamente secreta, uma vez que se temia uma reação das nações ocidentais, bem como temia-se que, caso a informação vazasse, um número gigantesco de pessoas fugisse de última hora. O historiador Patrick Major fala que, na RDA, somente 60 pessoas sabiam de sua existência.|2|

Os soviéticos então deram início aos preparativos silenciosos da Operação Rosa, e o comando desta foi entregue a Erich Honecker (presidente da Alemanha Oriental entre 1976 e 1989). Os serviços de inteligência das nações ocidentais tinham evidências de que a RDA poderia fazer alguma ação para fechar as fronteiras. Entretanto, não houve nenhuma mobilização para impedir que isso acontecesse, até porque não se sabia quando seria.

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Trecho do Muro de Berlim, que separava os dois lados da cidade, em imagem de 1962.

Os soviéticos e alemães determinaram que a operação aconteceria na passagem do dia 12 de agosto para o dia 13. Naquela madrugada, milhares de tanques russos tomavam conta das ruas de Berlim e, pela manhã, os soldados da RDA já haviam se posicionado nos limites entre Berlim Oriental e Berlim Ocidental, com milhares de metros de arame farpado que fechavam a fronteira entre as duas cidades.

Ao longo dos meses seguintes é que foram realizadas as ações necessárias que implantaram vários quilômetros de muro de concreto, torres de segurança, cercas eletrificadas, e colocaram no local equipes monitorando o muro 24 horas por dia. O monitoramento era realizado por soldados do exército da Alemanha Oriental que, além de armamento pesado, tinham, à sua disposição, cães de guarda.

O fechamento da fronteira e a construção do Muro de Berlim conseguiram praticamente acabar com o êxodo de cidadãos para a Alemanha Ocidental. Estima-se que, depois do muro, somente cerca de cinco mil alemães orientais conseguiram fugir do país, e, entre 1961 e 1989, 140 pessoas morreram tentando cruzá-lo.

Acesse também: Veja a tentativa de reforma política em uma nação comunista que fracassou

Queda do Muro de Berlim

A queda do Muro de Berlim foi resultado da crise política e econômica que atingiu a Alemanha Oriental na década de 1980. Essa crise na RDA acabou motivando protestos contra a situação do país, e esses incluíam manifestações contra o autoritarismo e a falta de liberdade que o marcavam.

A insatisfação com a situação da Alemanha Oriental levou milhares de cidadãos daquele país a procurarem refúgio em outras nações, e essa situação ganhou força quando a Hungria decretou a abertura de suas fronteiras com o Ocidente, em 1989. Essa abertura era um dos alvos das manifestações que se espalhavam na Alemanha Oriental.

Em 9 de novembro de 1989, uma nova lei sobre a mobilidade de cidadãos e o status da fronteira foram anunciados. O porta-voz do governo, Günther Schabowski, por sua vez, anunciou que a lei entrava em vigor imediatamente, quando, na verdade, ela só teria validade se aprovada no Parlamento. O anúncio mobilizou uma multidão que se aglomerou nos postos de fronteira desejosa de atravessar rumo a Berlim Ocidental.

A aglomeração de pessoas acabou colocando o governo da Alemanha Oriental em uma situação delicada, e, assim, as fronteiras foram liberadas e as pessoas autorizadas a irem a Berlim Ocidental. Na virada do dia 10 para 11 de novembro de 1989, a população aglomerada no muro começou a depredá-lo. Foi o ato simbólico da queda do Muro de Berlim. No ano seguinte, a Alemanha foi reunificada.

Notas

|1| BRENER, Jayme. Leste europeu: a revolução democrática. São Paulo: Ática, 1990, p. 104.

|2| A história secreta de como o Muro de Berlim foi erguido pela Alemanha Oriental e a União Soviética. Para acessar, clique aqui.

Crédito das imagens

[1] brandonht e Shutterstock

Aproveite para conferir nossa videoaula relacionada ao assunto:

Por Daniel Neves Silva

Qual critério foi estabelecido para dividir a Alemanha em ocidental e Oriental?

O Muro de Berlim foi construído em 1961, ao redor da cidade de Berlim Ocidental, a capital da Alemanha Ocidental. Essa construção tinha como proposta isolar essa cidade e fechar suas fronteiras com a Alemanha Oriental. Foi um dos grandes símbolos que evidenciaram a polarização do mundo no período da Guerra Fria.

O que significou a separação da Alemanha em dois países distintos?

Nesse período da Guerra Fria o mundo acostumou-se com a divisão do planeta em duas partes. O Muro de Berlim separou as Alemanhas e representou durante anos duas grandes ideologias, a socialista e a capitalista, que dominaram o mundo no decorrer do século XX.

Como foi feita a divisão da Alemanha?

A derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial resultou na divisão do país, que se tornou o marco de dois blocos político-econômicos antagônicos. Era o início da Guerra Fria. A Alemanha permaneceu dividida até 1990.

Porque Alemanha Oriental e ocidental?

O impasse para conciliar os objetivos da URSS e do Ocidente levou à divisão da Alemanha em duas partes: o lado ocidental, que ficou sob controle dos EUA e Reino Unido, e o lado oriental que ficou sob o controle da URSS.