Qual o conteúdo do livro São Cipriano capa preta?

Descrição

... comum nos louvemos, bendigamos, adoremos, exaltemos, santifiquemos e confessemos a Vós, ao Pai e ao Espírito Santo, com todo o coro de Anjos Patriarcas, Profetas, Santos, Santas Virgens, Mártires, Confessores de vossa santa glória ...

Após anos de insistência, conseguimos levar ao publico esta magnifica obra. São 390 paginas da mais alta magia. Seus feitiços, trabalhos, rezas fortes, orações, seus milagres após romper com Satã, e a poderosa Oração da Cabra Preta. Traga a seus pés a pessoa amada, retome seu emprego, obtenha sucesso financeiro e sorte nos jogos, expulse o inimigo de seu caminho. Agora você te uma poderosa arma em mãos. Importante !! ao adquirir este Livro, jamais o empreste a alguém, seus poderes agora lhes pertencem

Capa preta, capa de couro e capa de aço… no final, são todos o mesmo Tesouro do Feiticeiro.

Talvez não exista um brasileiro que nunca tenha ouvido falar do famoso Livro São Cipriano Capa Preta. Ou Capa de Aço, Capa de Couro ou Tesouro do Feiticeiro. Ou que já não tenha recebido a corrente da Poderosa Oração de São Cipriano. O livro, assim como o santo e a oração, fazem parte do nosso folclore e tem até seu pé na Umbanda, uma das nossas principais religiões de matriz africana.

Ele é tido por alguns como livro de magia perigoso e cheio do lado negro da Força, por outros como algo sério e efetivo, e pela maioria como um compilado de bobagens. Mas a verdade é que São Cipriano é mais uma das contribuições do Cristianismo místico e da herança moura que os portugueses trouxeram para nós durante a colonização e durante os vários fluxos migratórios de europeus para cá.

O livro “original”

A edição mais antiga em português de que se tem notícia está na Biblioteca Nacional de Lisboa e foi publicada por volta de 1800. Não se sabe a data exata, mas consegiu-se chegar à conclusão que ela foi editada entre os séculos XIX e XX. Ela foi criada por uma editora alfacinha e contém toda a base do que a gente lê hoje.

Frontispício da edição mais antiga do Livro de São Cipriano, da Biblioteca Nacional em Lisboa, Portugal

Provavelmente, essa é só mais uma versão impressa de manuscritos e de histórias da tradição oral que foram sendo registradas aos poucos, seguindo a tradição europeia dos grimórios, livros de magia que começam a aparecer no século XII e que seguem sendo propagados por manuscritos até o XVII, mesmo depois da invenção da prensa.

Grimórios são livros de magia muito específicos, nos quais o leitor é ensinado a conjurar espíritos, anjos, demônios e outros seres, além de trazerem receitas de feitiços para amor, para enriquecer e para fazer o pacto demoníaco.

Em um determinado momento do mundo ocidental, lá pelo século XVII, toda magia era considerada diabólica. Por isso, mesmo os grimórios que evocam anjos não eram livros bem vistos. Alguns magistas alegam que a magia natural não era diabólica, mas na maior parte do tempo, os livros de magia eram proibidos e as pessoas podiam se encrencar se fossem encontrados com eles.

O conteúdo do livro

Em geral, o conteúdo do São Cipriano segue a mesma linha de outros grimórios, como a Clavícula de Salomão, o Grand Grimoire e o Grimorium Verum. É um compilado de magias para tudo o que preocupava a mente dos homens que viveram na mudança do feudalismo para o capitalismo: como ficar rico encontrando tesouros, como fazer qualquer mulher se apaixonar, como se curar de algumas doenças.

Esse livro, em especial, é ligado ao nome de um santo. Isso também era algo comum na época. Existem grimórios assinados por papas, outros santos, além dos mais famosos, que são a Chave de Salomão e os Sexto e Sétimo livros de Moisés, que são nomes importantes do Velho Testamento, presentes tanto no imaginário dos judeus quanto dos cristãos. Atribuir um grimório a um desses autores era uma forma de dar legitimidade, antiguidade, e um quê de misticismo ao texto. Na verdade, a gente nem sabe muito bem quem foram os primeiros autores. Normalmente, temos só os nomes do século XIX em diante, das pessoas que organizaram essas obras, traduziram para outros idiomas, ou fizeram estudos a partir delas.

O martírio de Cipriano e Justina. Autor desconhecido.

Quem foi São Cipriano

No caso específico de São Cipriano, a autoria sagrada criou uma confusão, porque para algumas pessoas existem dois santos com o mesmo nome: o de Antióquia e o de Cartago.

São Cipriano de Cartago viveu no século II e é considerado um dos doutores da Igreja, um grande orador e um dos pais do Cristianismo. Já São Cipriano de Antióquia foi martirizado por volta de 300 d.C. por ser Cristão. Ele é considerado um feiticeiro que se converteu quando conheceu a jovem Justina e acabou se tornando padre. Essa é a versão que você encontra nos livros, mas não há muitas evidências que ele realmente tenha existido, como há de Cipriano de Cartago.

Para alguns, especialmente dentro da Igreja Ortodoxa Grega, só existe um Cipriano, que nasceu em Antióquia e Morreu em Cartago. Ele é cultuado sempre em conjunto com Santa Justina, porque ambos foram martirizados juntos.

O universo de São Cipriano

O Livro de São Cipriano, assim como outros grimórios, possui uma visão de mundo, a de que todos os elementos criados por Deus estão interligados de certa forma e respondem entre si. Por isso que falar de determinada hora planetária para achar um tesouro, ou indicar que não se faça uma coisa na Lua Cheia faz sentido. Nessa visão de um universo integrado e em conjunção, os movimentos da natureza influenciam todas as ações, inclusive as humanas. Essa é a base da filosofia Neoplatônica, que até hoje influência as práticas mágicas do ocidente e que foi importante a partir do Renascimento.

O mais específico deste livro é que ele congrega ideias e crenças do Norte de Portugal e da Espanha, que possuem uma forte influência dos povos muçulmanos que ficaram mil anos na Península Ibérica. Uma das principais características são as receitas para encontrar os tesouro enterrados pelos mouros, que poderiam estar em qualquer lugar e que podem não só ser dos muçulmanos, mas também de romanos, celtas ou qualquer outro povo que viveu na região antes da dominação cristã. No imaginário português, mouro é tudo o que aconteceu antes do Cristianismo e da formação de Portugal como um país, o que aconteceu no século XII. As instruções para achar tesouros são comuns nos grimórios, mas aqui ela ganha tons ibéricos.

E por que a gente ainda se preocupa com essa obra?

Se esse grimório, assim como os outros, têm um conteúdo real de magia, não é um problema nosso neste texto. Mas é claro que as pessoas ali dos séculos XV, XVI, acreditavam nisso. Acreditam até hoje, quando a gente vê o pessoal pedindo PDF do livro em grupos do Facebook. O que nos interessa é justamente pensar por que esse livro, em especial, é tão fascinante para nós.

Será que é o misticismo da Capa de Aço? Será que é a nossa herança de imaginário e religião falando mais forte do que a gente? Ou será que a gente tem só uma curiosidade meio mórbida por essas histórias de feitiçaria que, talvez, sejam reais?

Quais perguntas você faria para esse texto? As mesmas que eu fiz?

Este texto foi escrito utilizando como bibliografia, entre outras obras, o livro “Grimoires: a history of magic books”, de Owen Davies; os artigos de Jerusa Pires Ferreira, “Livros e Leituras de Magia”, e o livro da mesma autora “O Livro de São Cipriano: Uma Legenda de Massas”; de José Leitão, “The Folk and Oral Roots of the portuguese Livro de São Cipriano”; “A Migração do Sabá: a presença ‘estrangeira’ das bruxas europeias no imaginário ibérico”, de Carlos Roberto Nogueira; e “Ritual Magic”, de E.M. Butler. Originalmente produzido e publicado em abril de 2018, o artigo foi atualizado em novembro de 2018, depois de novas pesquisas e descobertas sobre o tema.

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O que tem no livro capa preta de São Cipriano?

Esta obra acompanha a trajetória de São Cipriano. Nas páginas desenrolam-se feitiços, preparo de amuletos, orações para saúde, amor, prosperidade, orações para as diversas horas do dia, preparo de talismãs, unguentos e utilização mágica das cartas.

O que ensina o livro de São Cipriano?

Cipriano desenvolve as suas capacidades premonitórias e outras matérias sobre as artes da bruxaria segundo as tradições místicas dos Caldeus. Diz a lenda que ele conseguia angariar a perdição de muitas belas e jovens mulheres, o que muito agradava aos demônios, que em troca lhe concediam grandes poderes sobrenaturais.

Porque não se pode ler o livro de São Cipriano?

1- Não é um livro saudável, você não terá nenhum benefício, pelo contrário, você se arrisca a ter algum malefício, pois trata-se de ocultismo e satanismo. 2- São Cipriano se converteu e se arrependeu de seus feitos e escritos. Então nem o possível autor do livro desejava que ele fosse lido.