Qual o elemento fundamental para o capitalismo?

Na sociedade capitalista, o dinheiro, para muitas pessoas, torna-se um valor fundamental. Todo indivíduo possui uma escala de valores, alguns são mais importantes e por isso constituem valores fundamentais (Viana, 2007). O dinheiro como valor fundamental significa que está acima de outros valores (caso ele seja o único valor fundamental, estará acima da saúde, amor, amizade, poder, desenvolvimento de potencialidades, solidariedade, etc.).


A sociedade capitalista é uma “sociedade do dinheiro”. O dinheiro nasceu antes do capitalismo, mas é graças ao modo de produção capitalista que se torna um elemento fundamental da sociedade, tornando-se “meio de troca universal”, o “equivalente geral” pelo qual toda e qualquer mercadoria pode ser trocada, como já dizia Marx (1988). Desde as mercadorias mais necessárias, tal como os alimentos, até as mais supérfluas, tais como enfeites de geladeira, todas são compradas por intermédio do dinheiro. A mercantilização das relações sociais, produto do desenvolvimento capitalista, se amplia e intensifica cada vez mais (Viana, 2008) e, no capitalismo neoliberal, sob o regime de acumulação integral, temos um processo de hipermercantilização (Viana, 2009), no qual a mercantilização se intensifica, principalmente da cultura e tecnologia, além de novas estratégias para intensificar o consumo individual e criação de nichos de mercado.


Isso tende a gerar o fetichismo do dinheiro. Ele parece adquirir vida própria, ter um processo de desenvolvimento independente, gerar mais dinheiro (essa é a ilusão da poupança e daqueles que acham que dinheiro gera dinheiro por si próprio). O que muitos esquecem é que o dinheiro é um equivalente geral acaba valendo não por seu valor de uso e nem pelo seu valor de troca (que é artificialmente criado, pois uma nota de 100 reais possui o mesmo quantum de trabalho socialmente necessário que uma nota de um real) e sim pela medida de valor que ele expressa e este é trabalho materializado. Assim, não é apenas “fictício”, como alguns pensam de forma ingênua, e sim bastante real, tanto é que com ele é possível comprar uma fábrica e produzir mais-valor explorando operários. Assim, dinheiro traz capacidade de consumo, de aquisição de bens (de consumo e de produção), poder, etc.


A mentalidade burguesa, reprodutora da sociabilidade capitalista (caracterizada pela competição, burocratização e mercantilização) acaba tornando o dinheiro um valor fundamental, estando, para algumas pessoas, acima da vida dos demais seres humanos, tanto é que matam por ele. Obviamente que o dinheiro é uma necessidade para quem vive no capitalismo, pois sem ele não poderá satisfazer suas necessidades básicas (comer, habitar, etc.). Porém, a grande maioria da população não se contenta com o dinheiro apenas para isso, ele tem o papel de medir o grau de poder da pessoa, o seu status social, etc. Ele está envolvido na competição social, que produz uma “personalidade competidora” (Wright Mills, 1970) e onde o ter passa a ser mais importante do que o ser (Fromm, ) e isso mostra a pobreza do ser, pois só vem valor por ter. Isso, com a mercantilização das relações sociais, se espalha pela sociedade, influenciando o conjunto das relações sociais, tal como demonstra Alberoni no caso do erotismo feminino (Alberoni, 1988), que revela como de forma não-consciente a atração sexual é determinada pelos valores dominantes.


Existem muitos tipos de pessoas para as quais o dinheiro é um valor fundamental. O caso mais visível e conhecido, bem como retratado pela literatura e outras formas de arte, é o avarento. Desde Esopo, ainda na sociedade escravista, essa figura já aparecia. Ele mostra um elemento comum no avarento, que é guardar para não gastar e assim valorar o que nunca irá usar. Na concepção cristã medieval, a avareza é um dos sete pecados capitais. Mas é no capitalismo que o número e a intensidade – bem como o despropósito – do avarento atingem o seu grau máximo.


O AVARENTO

ESOPO


Um avarento tinha enterrado seu pote de ouro num lugar secreto do seu jardim. E todos os dias, antes de ir dormir, ele ia até o ponto, desenterrava o pote e contava cada moeda de ouro para ver se estava tudo lá. Ele fez tantas viagens ao local que um Ladrão, que já o observava há bastante tempo, curioso para saber o que o Avarento estava escondendo, veio uma noite, e sorrateiramente desenterrou o tesouro levando-o consigo.


Quando o Avarento descobriu sua grande perda, foi tomado de aflição e desespero. Ele gemia e chorava enquanto puxava seus cabelos.


Alguém que passava pelo local, ao escutar seus lamentos, quis saber o que acontecera.


“Meu ouro! Todo meu ouro!” chorava inconsolável o avarento, “alguém o roubou de mim!”


“Seu ouro! Ele estava nesse buraco? Por que você o colocou aí? Por que não o deixou num lugar seguro, como dentro de casa, onde poderia mais facilmente pegá-lo quando precisasse comprar alguma coisa?”


“Comprar!” exclamou furioso o Avarento. “Você não sabe o que diz! Ora, eu jamais usaria aquele ouro. Nunca pensei de gastar dele uma peça sequer!”


Então, o estranho pegou uma grande pedra e jogou dentro do buraco vazio.


“Se é esse o caso,” ele disse, “enterre então essa pedra. Ela terá o mesmo valor que tinha para você o tesouro que perdeu!”


Uma das mais conhecidas obras artísticas sobre avarentos é a peça teatral de Molière, de 1668, encenada de inúmeras formas até os dias de hoje (veja abaixo, peça com Paulo Autran). A mesma figura se encontra no filme O Avarento (Jean Girault, França, 1980) ou as diversas versões cinematográficas baseadas nos contos de natal de Charles Dickens, no qual o personagem avarento Ebenezer Scrooge recebe a visita de três fantasmas que o faz repensar sua vida de avareza. O avarento aparece também em novelas, como Amor com Amor se Paga, na qual o personagem Nonô Correia nega até comida para seus familiares devido sua avareza.





Nas revistas em quadrinhos, o personagem avarento mais famoso é o Tio Patinhas. Ele foi inspirado no personagem avarento de Dickens, e seu nome original era Scrooge McDuck, referencia direta a ele e sua primeira aparição, em 1947, em “Natal nas Montanhas” (“Christmas on Bear Mountain”). 


Qual o elemento fundamental para o capitalismo?

                 

A avarento é apenas um indivíduo doentio que transforma o seu desejo por dinheiro e posse material algo que pode ser sua razão de viver. A explicação disso ocorre através da análise da história de vida do indivíduo avarento, tal como se pode observar na história do personagem de Charles Dickens. Para sustentar sua avareza, o avarento pode criar racionalizações, tais como o medo paranoico de “perder tudo”.


Porém, o dinheiro como valor fundamental não gera apenas avareza (que se manifesta sob múltiplas formas e graus de intensidade, existem os muito avarentos e os avarentos moderados, aqueles que são com todo mundo ou apenas com os mais distantes, etc.). Na sociedade capitalista, há uma grande parte da população que tem o dinheiro como valor fundamental sem ser exatamente um avarento ou manifestando apenas algumas características deste e de forma moderada. Um consumista, portanto, não avarento, pode ter o dinheiro como valor fundamental, mas considerado mais como meio do que como objetivo. O avarento toma o dinheiro como objetivo, tal como no conto de Esopo ou o de Dickens. Isso difere da pessoa pobre que economiza e busca guardas suas economias, já que não é o dinheiro em si que é o valor, mas o meio de realizar coisas no futuro ou prevenir a perda e a situação de penúria (cuja possibilidade pode ou não ser realista, mas isso é uma questão que não altera o quadro).


No caso do dinheiro como valor fundamental, ela reforça a competição social e a “corrida do ouro”, tema de filmes e novelas. Desde o filme “Em Busca do Outro” (Charles Chaplin, EUA, 1925) até a novela Corrida do Ouro, da Rede Globo, de 1974/1975, em época de ditadura militar, o tema é recorrente na cultura capitalista.



CORRIDA DO OURO

CORAL SOM LIVRE


Muito dinheiro fora de hora

Sempre modifica as pessoas

Muito dinheiro

Quando chega ninguém espera

Modifica todas as coisas


Muito dinheiro

Quando pinta na vida

Modifica tudo na vida


Mas as pessoas vivem todas

Correndo atrás

De muito dinheiro


Muito dinheiro fora de hora

Dá um revertério na cuca


Muito dinheiro

Prá quem não sabe

O que é dinheiro

Põe toda a moçada maluca


Muito dinheiro no bolso

E no banco

É pior do que pouco dinheiro


Mas as pessoas vivem todas

Correndo atrás

De muito dinheiro


Quem corre atrás do tesouro

Da mina de ouro

Tem conta secreta

No banco suíço

Se esquece que a vida

Existe só prá ser vivida


Quem pensa que a grana

Que pinta de graça

Resolve os problemas

Do amor e da vida

Perdeu a sua chance

De ter a tal felicidade

De verdade


Muito dinheiro fora de hora

Sempre modifica as pessoas

Muito dinheiro


Quando chega ninguém espera

Modifica todas as coisas

Muito dinheiro


Quando pinta na vida

Modifica tudo na vida


Mas as pessoas vivem todas

Correndo atrás

De muito dinheiro


Essas pessoas

Correm atrás do dinheiro

Todo mundo correndo

Sempre atrás do dinheiro


Essas pessoas vivem todas correndo

Atrás de muito dinheiro



O processo contemporâneo reforça essa tendência, pois a intensificação da mercantilização das relações sociais gera uma hipermercantilização e os efeitos disso na cultura e universo psíquico dos indivíduos tende, igualmente, a se intensificar. A irracionalidade do modo de produção capitalista se generaliza e a destruição ambiental é um de seus resultados, e, mesmo assim, o processo se reproduz. Surgem até ideologias neurológicas e outras para naturalizar a avareza e a ganância (veja documentário abaixo). Assim, as representações cotidianas são reforçadas pelas ideologias e estas se inspiram naquelas. O círculo vicioso e destrutivo do capitalismo continua, mas poucos fazem alguma coisa para mudar esta situação, já que “essas pessoas vivem todas correndo atrás de muito dinheiro”.

Qual é o elemento fundamental para a existência do capitalismo?

Obtenção de lucro e a acumulação de riquezas Este é o principal objetivo do capitalismo: obter riquezas. O lucro é proveniente dos valores acumulados a partir do trabalho coletivo fornecido pelas empresas privadas e desempenhado pelo proletariado (trabalhadores).

Quais são os principais elementos do sistema capitalista?

Uma economia capitalista reúne três elementos-chave, que a definem: a propriedade privada dos meios de produção, o mercado de trabalho e a troca de produtos num mercado visando ao lucro.

Quais os dois elementos do capitalismo?

São características clássicas do capitalismo: Propriedade privada: consiste no sistema produtivo vinculado à propriedade individual. Lucro: é o principal objetivo capitalista, proveniente do resultado da acumulação de capital.