A escola prepara os alunos para o mercado de trabalho

É preciso ensiná-los a lidar consigo mesmos e a interagir de maneira construtiva com os outros, bem como a solucionar problemas complexos em parceria com a tecnologia
A escola prepara os alunos para o mercado de trabalho

Os estudantes que estão na escola hoje viverão num mundo muito diferente do atual, em diversos aspectos. Por exemplo, uma boa parte das atividades que hoje são desenvolvidas por seres humanos serão automatizadas. Novas atividades e profissões surgirão e a interação entre humanos continuará fundamental para dar significado às constantes evoluções sociais e tecnológicas pelas quais passaremos. Além disso, faremos uma parceria cada vez próxima com as máquinas para a resolução de problemas mais complexos, com a utilização de uma quantidade enorme de dados. Esse é o cenário desenhado por Fernando Shayer, um dos sócios-fundadores e CEO da Camino Education.

Nesse mundo incerto e que se transforma com grande rapidez, as escolas precisam ensinar os alunos a aprender continuamente. “Isso inclui desenvolver-se, pelo menos, em três grandes categorias de competências: relacionar-se construtivamente com as pessoas, valorizando o que há de mais humano em nós; trabalhar em parceria com as máquinas, cada um agregando o que tem de melhor; e trabalhar com dados em larga escala”, enumera Shayer.

Segundo ele, é muito provável que as máquinas, com a inteligência artificial, consigam, cada vez mais, solucionar de maneira muito eficiente problemas que hoje são resolvidos pelos homens. “Se, anteriormente, elas resolviam só questões simples, hoje já conseguem solucionar problemas complexos e, ao longo dos próximos anos, imaginamos que aprenderão a lidar com uma grande gama de questões complexas”.

No entanto, há um algoritmo muito sofisticado e difícil de ser formulado, por mais dados que se tenha, que diz respeito à interação entre os seres humanos. “Ainda que as máquinas possam ser usadas na produção e oferta de serviços, o usuário final será sempre um ser humano. Existe um espaço afetivo de relação e de pertencimento, e de criação de significado conjunto, que é exclusivo do ser humano”, diz o diretor executivo.

Valorização do lado humano

Para essas atividades, o que é humano no ser humano — as emoções, as inquietações, as dúvidas, a criatividade e a imaginação – será muito mais valorizado. “No modelo pedagógico da revolução industrial, que é aplicado até hoje em muitas escolas, sucesso escolar é formar profissionais cujo diferencial é saber conteúdos. O modelo de homem subjacente é do racional, em que emoções atrapalham o aprendizado e a produção. Quanto mais o estudante aprende e reproduz conteúdos sozinho e em silêncio, melhor, menos ele ‘dá problema’, afirma o diretor.  “No modelo da revolução digital, em que os conteúdos estão amplamente disponíveis e as máquinas são mais produtivas em tarefas computacionais do que humanos, a escola será crescentemente cobrada para formar indivíduos que se diferenciem pelas suas competências socioemocionais, além de saber conteúdos relevantes. E a pedagogia que responde essas questões deverá valorizar a interação entre os estudantes e a aplicação prática e crítica de conteúdos, na resolução de problemas.”

Para Shayer, a competência de trabalhar com máquinas até agora tem sido desenvolvida no ambiente escolar de forma muito restrita, se limitando, muitas vezes, ao uso de dispositivos, isso sem falar de escolas que ainda proíbem, em todos os momentos, o uso de smartphones e tablets pelos alunos. A educação precisa dar um passo no sentido de inserir a máquina no cotidiano dos estudantes. “Saber trabalhar com mídias digitais, por exemplo, e conseguir fazer as perguntas certas para as máquinas, é algo que tem que ser aprendido pois será muito importante no futuro profissional desses estudantes”.

De acordo com ele, é nesse momento que se insere a terceira competência fundamental: saber trabalhar com dados, ou seja, lidar com a ciência de estabelecer critérios para separar os dados, minerar os que têm utilidade e transformá-los em informações úteis para a tomada de decisões e a resolução de problemas. “Até hoje, saímos da escola sem foco nisso, em como trabalhar com uma quantidade gigante de dados e transformá-los em informações úteis. Há uma ciência para fazer isso, e ela deve ser trazida para dentro das escolas.”

Para ele, essas três categorias de competências, certamente, serão muito relevantes para o futuro e precisam fazer parte do projeto pedagógico das escolas desde já. “Na plataforma digital de aprendizagem ativa Cloe, por exemplo, trabalhamos nesse sentido, de apoiar as escolas e educadores a fazer com que seus alunos interajam entre si, utilizando a tecnologia digital para resolver problemas da vida real em todas as disciplinas”.

postado em 15/01/2020 20:11

Em um mundo em constante mudança, com inovações aceleradas, as escolas estão cada vez mais preocupadas em direcionar seus alunos para as profissões do futuro, para o empreendedorismo e para o mercado. Educar, afinal, é preparar os estudantes para a vida e o trabalho, uma parte importante da existência de cada um de nós.

A escola prepara os alunos para o mercado de trabalho

No contexto da quarta revolução industrial, a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (Ceipe/FGV), Cláudia Costin, alerta que é preciso estar consciente de que a inteligência artificial substitui o trabalho humano, inclusive, o intelectual. ;Nos anos mais recentes, a preocupação sobre como formar pessoas empregáveis num cenário em que máquinas substituem seres humano ganhou importância. A escola precisa tratar disso desde a infância;, afirma.

Os novos paradigmas sugerem que os alunos devem ser empreendedores da própria vida, sustenta Costin. ;O estudante tem que estar capacitado para diferentes projetos de vida, não só porque máquinas vão fazer seu trabalho, mas também porque oportunidades podem não passar na frente dele. É papel da escola dar uma formação ampla para o jovem, sobretudo, ensinar o projeto de vida;, explica.

Segundo a especialista, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu a ideia de projeto de vida a partir de uma experiência bem-sucedida em Pernambuco, de formar o aluno para o protagonismo juvenil. ;O Ginásio Pernambucano fez um ensino médio integral com trabalho nessa linha, de desenvolvimento de projetos para a comunidade, com mentoria para fazer a conexão com aquilo que o aluno sonha ser. Isso vai ser incorporado nos currículos de todo o país a partir de 2021;, afirma.

Ensino técnico

Além dessa mudança estrutural que ainda está por vir, o ensino com olhos para o mercado de trabalho está presente desde a criação dos cursos técnicos profissionalizantes. ;Conceitualmente, isso surgiu como alternativa para o jovem pobre, que não terá condições de ir para a faculdade. No entanto, ficaram claras duas questões: há um mercado muito grande para quem tem ensino técnico; e isso não quer dizer que esses jovens não possam ir para a universidade depois;, destaca.

A escola prepara os alunos para o mercado de trabalho
Costin afirma que os cursos técnicos e profissionalizantes são usados como trampolim para a universidade. ;Os melhores alunos das escolas públicas preferiam ir para escolas técnicas, porque eram uma porta de entrada, como um cursinho pré-vestibular, por conta do alto nível desses cursos. Mas esse não é o melhor caminho. O ideal é ter um bom ensino técnico, cujos créditos possam valer no futuro para uma faculdade, como ocorre hoje na Coreia;, defende.

A dimensão do projeto de vida é o ponto principal da educação com vistas ao mercado de trabalho, no entender de Luiz Gustavo Mendes, vice-diretor pedagógico do Colégio Marista João Paulo II. ;Durante muito tempo, as escolas focaram a orientação profissional no ensino médio. Não havia preocupação de se entender quem era o aluno, qual a vocação dele, para depois ele escolher uma profissão;, recorda.

Com foco na vocação e no projeto de vida, a chance de ter sucesso é maior, afirma o especialista. ;Nós trabalhamos desde a infância para o aluno se compreender como sujeito. Isso começa no Fundamental 2, quando os estudantes têm entre 11 e 15 anos;, destaca Mendes. A partir do autoconhecimento, o processo educacional passa a trabalhar a experiência. ;Isso ajuda a clarear tanto a vocação quanto a profissão;, diz.

Potencial

No sétimo ano, o Colégio Marista estimula, por exemplo, a produção de aplicativos. ;Os alunos identificam um problema e o solucionam com ferramentas digitais. Com isso, descobrem um potencial profissional futuro;, afirma. Houve um caso de uma estudante que desenvolveu um aplicativo de carona para ir à escola, conta o diretor. ;Tipo um Uber, mas com os pais cadastrados. Isso partiu da cabeça de uma criança de 12 anos;, contaa o diretor.

No ensino médio, o Colégio Marista desenvolve o empreendedorismo, com projetos de criação de empresa, de produto, de foco no mercado de trabalho. ;Fazemos simulações de organismos internacionais e os meninos colocam a mão na massa. Ali eles escolhem postos, há comitê de imprensa para quem curte escrever. Há tribunais para os que gostam de direito. E um comitê de organização do comércio para os estudantes voltados à administração;, enumera. Essas vivências estão no centro das atividades para preparação profissional e cabe aos professores levar isso para a sala de aula, explica Mendes.

Foram o apoio e a inspiração dos mestres de biologia do Colégio Ideal de Águas Claras que levaram o estudante Artur Nascimento, 16 anos, a escolher sua futura carreira profissional. ;A gente tem apoio nas conversas, aprende como funciona o mercado de trabalho e que tipo de inclinação tem para saber a vocação. Conversei bastante com dois pesquisadores de biologia, uma professora que atua em laboratório, outro, em trabalho de campo;, conta.

O que mais atraiu Artur foi o trabalho de campo. ;Sou escoteiro, sempre gostei de natureza e da questão ambiental. Por isso, procurei pelos professores de Biologia. Este ano de 2020 é o meu último na escola e, ainda na faculdade, quero começar a trabalhar;, revela.

Empreendedorismo

A escola prepara os alunos para o mercado de trabalho
Além do apoio, os docentes implementam projetos dentro da escola para desenvolver o empreendedorismo nos alunos. William Pinheiro, diretor da unidade de Águas Claras do Sigma, explica que não é uma disciplina acadêmica, mas são ações que buscam despertar no aluno o espírito empreendedor. ;Desenvolvemos habilidades e competências desde o ensino fundamental, nos anos iniciais, com educação financeira para crianças de 6 a 11 anos;, destaca.

O colégio tem ainda o projeto Sigmakers, que pretende desenvolver a capacidade de criação de projetos. ;Vai na linha do ;faça você mesmo; para um aprendizado na base de projetos que incentivam a curiosidade e a inovação, competências para qualquer aluno do século 21. São projetos interdisciplinares, sobretudo, nas áreas científicas;, detalha.

No ensino médio, a escola desenvolve o projeto Sigma-Mundi, que simula a Organização das Nações Unidas (ONU) e no qualos alunos participam de debates nos comitês de direitos humanos, saúde e conselho de segurança. ;Os estudantes são treinados pelas equipes de história, geografia e língua portuguesa. São pequenas simulações que ocorrem entre eles ou mediados por eles, com temas da atualidade. Assim, os alunos são provocados a propor soluções e saem com um repertório muito bom, além de desenvolver a oratória;, explica.

Pinheiro indica ainda a feira de universidades, que leva o aluno para um projeto de internacionalização. ;É um evento voltado para os estudantes que optam por estudar fora. Desde 2014, os brasileiros podem acessar universidades portuguesas com a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio);, lembra. Para conhecer as universidades estrangeiras, desde 2017, o Sigma tem uma parceria com a empresa Daqui para Fora, que cuida de todo o processo de admissão em múltiplas instituições. ;Recebemos representações de universidades dos Estados Unidos, do Canadá, da Inglaterra e de Portugal.;

Cuidado na profissionalização

Nem todos os professores e especialistas concordam com o foco do ensino voltado para o mercado de trabalho. A coordenadora da Comitê Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Catarina de Almeida Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e doutora na área de política educacional, diz que o espaço escolar não deveria trazer a profissionalização dos alunos.

;Qual é o estudante que vai ser profissionalizado na educação básica? Provavelmente, o de baixa renda. Porque, se acontece na idade adequada, ou seja, até os 17 anos, não é época de imaginar que os jovens busquem o mercado de trabalho;, opina a professora. ;Nessa idade, as pessoas têm que estar estudando;, frisa.

Catarina alerta que, em um país no qual há tantos desempregados, não se deve imaginar que quem está estudando tenha que pensar em trabalhar. ;Isso, claro, dentro de um mundo que respeitasse os direitos. Quando a sociedade defende o vínculo com o mercado de trabalho, que sequer existe, está defendendo a profissionalização precoce das pessoas de baixa renda. Porque os ricos não estão preocupados, afinal, seus filhos vão para a faculdade;, destaca.

Para a professora, aos que tiveram esse direito negado, há cursos importantes profissionalizantes na época certa. Ela lembra que, nesses casos, existem as experiências em institutos federais. ;Esses são os locais adequados. Não o ensino médio;, defende.

Qual a relação da escola com a preparação para o mercado de trabalho?

Uma das funções mais importantes da escola é preparar os jovens para o futuro – e isso deve incluir ajudá-los a desenvolver aptidões profissionais essenciais e a decidir pelas melhores carreiras. Os seus alunos já sabem quais são as opções de profissões que podem ser seguidas de acordo com o seu perfil profissional?

Qual a relação da escola com o mercado de trabalho?

As escolas tanto particulares como as públicas, procuram dentro de suas regras e didáticas mostrar aos alunos, o quanto a ascensão profissional torna-se competitiva com o passar do tempo, e a necessidade de focar o nosso objetivo em uma profissão, matéria, ou conteúdo a que temos uma maior afinidade.

Qual o papel da educação escolar para o mercado de trabalho?

A escolaridade é fundamental para garantir e gerar o aumento da empregabilidade. É a partir do ensino, em especial o superior, que você conseguirá encontrar um bom cargo e salário, ou até mesmo a recolocação no mercado de trabalho. Afinal, quanto mais alto o seu grau de formação, maiores são as suas possibilidades.

Como a escola pode influenciar na sua profissão?

Mas a segunda influência mais importante que um jovem recebe, é da escola, por várias razões: o acesso a profissionais de diversas áreas, o desenvolvimento de habilidades requeridas no mercado de trabalho atual, a curiosidade sobre as competências necessárias para o desempenho da profissão escolhida, dentre outras ...